Crise em Itália coloca em perigo prémios de risco em países como Portugal

O pedido de demissão do primeiro-ministro italiano, Mário Draghi, coloca mais uma vez em perigo o mercado de dívida, incluindo em países periféricos como Portugal, onde os prémios de risco estavam a ser negociados em baixa há um mês.

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© Gregorio Borgia/Pool via REUTERS

Lusa
14/07/2022 21:49 ‧ 14/07/2022 por Lusa

Economia

Itália

Em 15 de junho, o conselho do Banco Central Europeu (BCE) reuniu-se de emergência face à forte subida dos prémios de risco em países como Itália, Grécia, Portugal e Espanha, atingindo o seu valor mais elevado desde 2020, após o início da pandemia de covid-19.

A subida dos diferenciais da dívida soberana de alguns países do euro face ao chamado 'bund', o título alemão a 10 anos que serve de referência, levantou preocupações quanto a uma possível fragmentação do mercado.

Embora os prémios de risco já tivessem apresentado uma tendência ascendente desde o início do ano, a subida foi mais pronunciada depois de, a 09 de junho, a presidente do BCE, Christine Lagarde, ter confirmado o fim do programa de dívida e a primeira subida da taxa de juro em onze anos.

O aumento que será aprovado este mês será de 25 pontos base, e será seguido por outro em setembro, cujo valor ainda não foi definido.

À data da reunião de emergência do BCE, os prémios de risco de alguns países periféricos disparavam, como é o caso da Itália, que ultrapassou os 240 pontos base, com o rendimento da sua obrigação acima dos 4%.

Do mesmo modo, o da Grécia aproximou-se dos 300 pontos base, e a sua obrigação a dez anos, 4,6%, enquanto em Portugal, o risco país ultrapassou os 130 pontos base, e o retorno da dívida a dez anos, 3,1%.

Nível semelhante ao de Espanha, onde o prémio de risco também atingiu 136 pontos base, e o título de referência, 3,1%.

Na reunião de 15 de junho, o BCE mostrou-se disposto a criar uma ferramenta para travar a subida dos prémios de risco e reinvestir de forma flexível os títulos vencidos adquiridos na pandemia, mecanismo que ativou a 01 de julho.

Enquanto se aguarda que o BCE dê mais detalhes sobre seu novo instrumento "antifragmentação", que ainda não foi aprovado, o risco dos países periféricos caiu substancialmente.

Esta descida foi constante até hoje, voltando a aumentar fortemente com a crise governativa em Itália, onde o primeiro-ministro, Mario Draghi, apresentou a sua demissão após o confronto desencadeado dentro da sua coligação de governo por um de seus principais parceiros, o Movimento Cinco Estrelas (M5S).

Até à última sessão, o prémio de risco da Grécia tinha sido reduzido em 68 pontos base, o da Itália em 30, o da Espanha em 27 e o de Portugal em 26.

No final da sessão de hoje, o prémio de risco de Itália subiu para 230 pontos base, o de Espanha e Portugal subiu até 116 e o da Grécia até 234.

O título alemão a dez anos, ao contrário do restante da dívida periférica de dez anos, marca o prémio de risco, terminou em 1,13%.

O pedido de demissão de Draghi - que faria cair todo o Governo, que tomara posse em fevereiro de 2021 - foi provocado pela decisão do M5S de se abster numa moção de confiança, hoje no Senado, distanciando-se dos restantes parceiros de uma coligação heterogénea, que inclui desde partidos da extrema-direita até à esquerda.

A razão da rutura entre Draghi e o líder do M5S, Giuseppe Conte, que o antecedeu no cargo de primeiro-ministro, foi um decreto sobre um pacote de ajuda contra a inflação que o movimento de extrema-direita considera "insuficiente".

Mas este foi apenas mais um dos episódios de desavenças entre Draghi e o M5S, que parecia cada vez mais distanciado da estratégia do Governo, criticando mesmo o apoio a Kiev na sua resistência contra a invasão russa.

Draghi assumiu o cargo em fevereiro de 2021, com a incumbência de lidar com a pandemia de covid-19 e ajudar o país na recuperação económica.

Leia Também: Presidente italiano recusou pedido de demissão de Mario Draghi

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