Empunhando cartazes onde se lê "sou piloto da TAP e também sou contribuinte" e "perdão, sou piloto da TAP", mais de 400 pilotos protestam em silêncio, apenas interrompido por aplausos.
O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) convocou uma manifestação para hoje, dirigida aos trabalhadores que não se encontrem ao serviço, contra os "atropelos e injustiças" da administração da TAP e da tutela.
Em causa, segundo o SPAC, estão as recusas do Conselho de Administração da TAP Air Portugal para a realização de reuniões de trabalhadores.
O objetivo da manifestação é demonstrar insatisfação face aos "atropelos, injustiças e à forma como a administração e a tutela têm gerido a empresa e a relação laboral com os pilotos", de acordo com o sindicato.
A manifestação teve início às 08:30, em Lisboa, junto ao Terminal de Tripulações do Areeiro (TTA), e termina no Campus da TAP.
A TAP disse hoje lamentar não ter chegado a um acordo com os seus pilotos, afirmando que se mantém "empenhada em encontrar soluções que permitam garantir a sustentabilidade da empresa e de todos os seus trabalhadores".
Fonte oficial da transportadora disse hoje à Lusa que a empresa "lamenta não ter ainda chegado a um acordo com os seus pilotos, essenciais à companhia", e que se mantém "empenhada em encontrar soluções que permitam garantir a sustentabilidade da empresa e de todos os seus trabalhadores".
"Este sindicato desde janeiro que vem a avisar que a recuperação da TAP, ou da aviação neste caso, seria em breve, muito em breve, tanto é que a engenheira Christine [Oumières-Widener] veio afirmar que essa recuperação está a chegar, está a 90% de 2019, mas temos menos aviões, menos trabalhadores, o que significa que estamos a 100%, 120%, e os pilotos continuam com um corte [no salário]", disse aos jornalistas o presidente do SPAC, Tiago Faria Lopes.
Com uma gravata preta a simbolizar o luto, o responsável disse não perceber porque continua a ser aplicado um corte salarial aos pilotos superior ao dos outros trabalhadores da companhia aérea, no âmbito do acordo de emergência assinado com os sindicatos que representam os trabalhadores da companhia aérea, para que se pudesse avançar com o plano de reestruturação.
"Já pedimos para reduzir [o corte], para, pelo menos, ficar igual aos outros trabalhadores, nós não somos diferentes dos outros trabalhadores, somos iguais, somos contribuintes e assim continuaremos, sempre profissionais, ao contrário da gestão, ao contrário do ministro [das Infraestruturas]", vincou Tiago Faria Lopes, lembrando que se trata de uma profissão que implica um investimento elevado no curso, estudo permanente e "danos físicos e psicológicos", devido à disrupção constante do sono.
Relativamente à declaração de hoje da TAP, sobre a falta de acordo com o SPAC, o sindicato sublinhou que "os pilotos já deram tudo o que tinham a dar".
"Temos de ter os trabalhadores todos por igual, não podemos ter uns com cortes superiores aos outros. Era um acordo de emergência? É uma verdade, mas os pressupostos mudaram, já não é preciso poupar postos de trabalho", referiu o dirigente sindical, acrescentando que estão a ser cancelados voos por falta de pilotos.
Para o SPAC, se a atual administração da TAP, liderada por Christine Ourmières-Widener e que está sob a alçada do ministro Pedro Nuno Santos, "não está a correr bem", tem de se mudar. "Não quer dizer que seja a demissão da engenheira Christine, temos é que mudar a maneira de gerir", vincou o presidente.
O sindicato garantiu que a manifestação não teve qualquer impacto nos voos programados para hoje, uma vez que entre os cerca de 500 participantes estavam apenas pilotos de folga, férias, ou reformados.
"O profissionalismo dos pilotos é de tal maneira elevado, [...] ainda bem que nós não pilotamos os aviões da TAP Air Portugal como esta gestão gere a companhia, ou como o senhor ministro gere esta gestão", rematou Tiago Faria Lopes.
[Notícia atualizada às 12h41]
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