O vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) falava na conferência de imprensa 'online' de apresentação dos resultados do 21.º inquérito realizado no âmbito do projeto "Sinais Vitais", desenvolvido pela entidade, em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE.
"Estas respostas são preocupantes", afirmou Armindo Monteiro, comentando os resultados do inquérito, que concluem que 29% das empresas inquiridas registaram um decréscimo de encomendas em carteira até 01 de setembro (face ao período homólogo de 2019), enquanto 20% das empresas mantiveram e uma em cada quatro (25%) aumentaram.
As empresas que registam uma diminuição do número de encomendas informaram que em média diminuíram 28% e as que tiveram "uma melhoria das encomendas indicaram um aumento médio de 29% do seu valor", segundo o estudo.
Armindo Monteiro destacou quatro pontos, em que "o primeiro é que claramente (...), ao contrário dos meses anteriores, há efetivamente uma redução das encomendas".
E uma redução das encomendas "é naturalmente algo preocupante porque tem a ver com as vendas futuras e este ponto é extraordinário porque até agora havia algum otimismo, não apenas nas encomendas que estavam a chegar, mas também nas encomendas que os empresários achavam que iam ter", agora, neste questionário, "pela primeira vez nota-se nalguns um otimismo moderado, noutros já não é um otimismo sequer, é efetivamente uma consciência de que as encomendas estão a diminuir", apontou.
Ou seja, falar da diminuição das encomendas é falar da diminuição das vendas. De acordo com o estudo, em termos médios, 28% das empresas diminuíram as vendas e prestações de serviços até final de agosto (comparativamente a período homólogo de 2019, antes de pandemia), 32% mantiveram e 40% aumentaram.
A segunda conclusão é que "60% das empresas" inquiridas tiveram "aumentos [de custos] acima de 15%", o que é "muitíssimo", já que reduz "imediatamente a margem", apontou.
"A terceira observação é que, apesar deste aumento enorme dos custos, 75% dos empresários optaram por não repercutir no preço esse aumento de custo, significa que não só a margem está a ser desastrosa por este aumento de custo, mas os empresários, dentro desse esforço de não contribuir para o aumento generalizado de preços" não repercutiram ou repercutiram moderadamente no preço final, prosseguiu.
Segundo o estudo, "em média cerca de 36% das empresas registou aumento dos seus custos operacionais entre 16% e 35%" e apenas 16% teve aumentos abaixo de 5% nos seus custos.
O estudo contou com uma amostra de 245 empresas, das quais 45% são do setor da indústria e energia, os outros serviços representam 27% e o comércio 10%.
"Apenas 7% das empresas, em média, referiu que repercutiu integralmente o aumento dos custos nos seus preços de venda. Em termos médios, a maioria (53%) referiu que repercutiu moderadamente, ou seja, menos de metade do aumento de custo sofrido", sendo que, "em média, cerca de 22% das empresas não efetuou aumento de preços", lê-se no documento.
A quarta observação feita por Armindo Monteiro é que "há efetivamente um esforço para manter o nível de preço por parte dos empresários, mesmo com aumento muito acentuado dos custos".
Em suma, "a inflação está a prejudicar claramente as empresas", sublinhou o vice-presidente da CIP.
"Tudo isto já é preocupante de forma grave", disse, referindo que sobre a satisfação ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para superar as dificuldades, o questionário revela que "89% consideram que o PRR está aquém ou muito aquém das necessidades".
Ora, "aqui só falta perguntar se é necessário chegar aos 100%, ou seja, com este nível de insatisfação, com estas dificuldades que estão identificadas e quando o principal instrumento de apoio fica aquém ou muito aquém, efetivamente é um pouco desesperante", sublinhou.
"Os apoios são necessários agora", disse, alertando que o que se nota no questionário "é que o tempo de atuar é mesmo este e que nalguns casos começa a ser tempo já além do tempo de atuar".
Este inquérito foi realizado entre 05 e 15 de setembro, ou seja, terminou no dia em que foram apresentadas as medidas do Governo de apoio às empresas.
Armindo Monteiro salientou ainda que "há uma pressão grande sobre os salários", mesmo "com este esforço das empresas de não repercutir ou repercutir no preço de forma moderada o aumento dos custos".
O responsável disse que, sendo o sistema de impostos português "progressivo", "pode acontecer que um aumento salarial faça com que parte mais significativa desse aumento reverta para o Estado e não para o próprio trabalhador".
O que para a CIP parece "moralmente inaceitável é que isso aconteça", pelo que defende que para todos os aumentos salariais que venham a suceder "se possa encontrar uma fórmula -- e aqui será com redução das contribuições sobre o trabalho, seja em termos de Segurança Social, seja em termos de imposto sobre o rendimento IRS -- e que haja da parte do Estado essa compreensão para não tirar benefício de algo que acontece precisamente para repor essa liquidez às famílias que a perderam por via dos custos".
Se as empresas "tiverem que acorrer a essa perda de liquidez e ao mesmo tempo não tiverem essa compreensão por parte do Estado, acaba por naturalmente ainda se refletir num maior aumento de custos da empresa", rematou.
Armindo Monteiro destacou ainda que na execução orçamental se verifica que a receita em termos de IRS, IRC e IVA "está a aumentar de forma muito significativa, em alguns casos está a aumentar 25%".
Em termos de valor absoluto, "neste momento, comparando com o período homólogo do ano passado, a arrecadação [fiscal] está aumentar em 5,4 mil milhões de euros e isso nem sequer estava previsto no orçamento geral do Estado, é valor cobrado a mais", portanto, "falamos, por analogia, de lucros extraordinários".
Este valor "entendemos que deve retornar à economia que o gerou e quem o gerou foram as famílias e foram as empresas, sob a forma de IVA, de IRS e IRC, e há por isso há uma folga muito significativa para que haja esse retorno", defendeu o vice-presidente da CIP.
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