Fed só acaba com subida de taxa se estiver confiante no recuo da inflação
O presidente da Reserva Federal disse hoje que os dirigentes do banco central "têm de estar muito confiantes em que a inflação está a recuar", para o objetivo de 2%, antes de considerarem acabar com a subida da taxa.
© Reuters
Economia Reserva Federal
As declarações de Jerome Powell foram feitas em conferência de imprensa, depois de o comité de política monetária (FOMC, na sigla em Inglês) da Reserva Federal (Fed) ter decidido elevar a taxa de juro de referência em três quartos de ponto percentual (75 pontos-base) para o intervalo entre três por cento e 3,25%.
Este valor é o mais alto desde o início de 2008.
Na ocasião, Powell apontou que a força do mercado laboral está a alimentar ganhos salariais, que estão, por sua vez, a pressionar os preços no sentido da alta.
Na mais crescente demonstração da sua luta contra a inflação, a Fed elevou hoje a sua taxa de juro pela terceira vez e assinalou que mais subidas relevantes vão acontecer, mesmo que este ritmo agressivo arrisque provocar uma recessão económica.
Em concreto, a taxa de referência pode subir até aos 4,4% no final do ano, um ponto percentual acima do que tinham admitido tão recentemente quanto junho último.
E pode mesmo alcançar os 4,6% no próximo ano. Este valor, a verificar-se, será o mais elevado desde 2007.
Ao subir a taxa de juro, a Fed dificulta o acesso ao crédito por parte das famílias e empresas, para comprarem, por exemplo, habitação, viaturas ou investirem.
Os consumidores e as empresas deverão assim endividar-se menos e gastarem menos, o eu arrefece a economia e reduz a inflação.
Powell insistiu no seu entendimento que reduzir a inflação é vital para garantir a saúde do mercado laboral a longo prazo.
"Se queremos iluminar o caminho para outro período de muito forte mercado laboral, temos de deixar a inflação para trás de nós. Desejaria que houvesse uma forma indolor de o fazer. Mas não há", disse Powell.
Dirigentes da Fed têm dito que procuram uma "aterragem suave" da economia, expressão que significa que pretendem arrefecer a economia o suficiente para controlar a inflação, sem provocar uma recessão.
Mas entre os economistas, o ceticismo quanto a este objetivo é grande. Têm apontado que esperam uma recessão, com despedimentos e desemprego crescente, no final deste ano ou no início do próximo, como resultado das fortes subidas da taxa de juro pela Fed.
"Ninguém sabe se este processo vai conduzir a uma recessão ou, neste caso, quão forte esta pode ser", admitiu hoje Powell. Na sua opinião, tudo vai depender "da rapidez com que se controlar a inflação".
Nas suas previsões económicas atualizadas, os dirigentes da Fed esperam agora que o crescimento da economia continue fraco durante os próximos anos, com um desemprego crescente. Esperam, em concreto, que a taxa de desemprego, que é de 3,7%, suba para 4,4% no final de 2023.
Historicamente, apontam economistas, sempre que a taxa de desemprego subiu meio ponto percentual ao longo de vários meses, seguiu-se sempre uma recessão.
As previsões da Fed apontam agora para um crescimento da economia de 0,2% em 2022, bem abaixo dos 1,7% apontados há três meses. E esperam que a economia se expanda a uma taxa inferior a dois por cento entre 2023 e 2025.
E, apesar das acentuadas subidas da taxa de juro, esperam uma inflação subjacente -- que exclui índices voláteis como os da energia e alimentação - de 3,1% no final de 2023, bem acima do objetivo de dois por cento.
Em agosto, Powell admitiu, durante um discurso, que as decisões da Fed iriam "implicar alguma dor" para as famílias e as empresas.
Na ocasião, reforçou que o compromisso do banco central em controlar os preços e remeter o seu crescimento para o patamar dos dois por cento era "incondicional".
Vários economistas têm expressado o entendimento de que vão ser necessários despedimentos generalizados para arrefecer o crescimento dos preços.
Investigação publicada no início deste mês, sob os auspícios da Brookings Institution, apontou que a taxa de desemprego tem de atingir os 7,5% para a taxa de inflação voltar para os dois por cento almejados pela Fed.
"O risco é o que a Fed agir mais agressivamente na sua missão de trazer a inflação de volta para o seu objetivo de dois por cento, levando a taxa de juro para níveis mais altos do que pensado e mantendo-os aí por mais tempo do que admitido", avançou hoje Nancy Vanden Houten, a economista principal na Oxford Economics, depois de conhecida a decisão da Fed.
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