Responsáveis defendem que UE "não pode voltar a ser dependente"
A União Europeia "não pode voltar a ser dependente" de um país em matéria de energia, defenderam hoje responsáveis por companhias energéticas europeias, que alertaram para a relação da Europa com a China.
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Economia Energia
Os avisos foram feitos num painel dedicado à autonomia e segurança energética da Europa, que abriu o segundo dia de trabalhos do IV Foro de La Toja-Vínculo Atlântico, com a presidente da OMIE, Cármen Becerril, a questionar se a União Europeia se pode voltar a pôr numa situação de dependência, referindo-se ao facto da China produzir atualmente 80% dos componentes utilizados para a produção de energia fotovoltaica.
"O gás, vendo a história da Rússia e da Europa, era uma morte anunciada. Neste momento, a Europa tem que começar a pensar se isto [depender maioritariamente de um país como fornecedor] pode voltar a acontecer", considerou.
Segundo a responsável pelo operador de mercado grossista ibérico de eletricidade, a Europa pode estar a cair no mesmo erro que caiu com o fornecimento de gás pela Rússia.
"Temos vários estudos, de todo o tipo, que estamos a apostar na [energia] fotovoltaica e na fotovoltaica os painéis têm muitos componentes e, neste momento, a China é produtora de 80% dos componentes desses painéis", disse.
"Estima-se que em 2025 será produtora de 90%. Podemos assumir um risco deste tipo? Que um desacordo com a China possa arrasar a transição energética?", questionou.
Também o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, que assistia ao debate e foi questionando sobre o tema, chamou a atenção para a posição da Europa em relação à China e para a necessidade da Europa "construir a sua segurança".
"A Europa dissociou as fontes de prosperidade e as de segurança. Depositou na Rússia e na China a prosperidade e a segurança nos Estados Unidos. A energia barata e mercados abertos serviram para que houvesse um 'boom' tecnológico", disse.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol deixou um aviso: "A China já não é um fabricante de baixo custo de produtos, agora é um concorrente e a energia barata [vinda da Rússia] acabou", alertou.
A dependência da Europa em matérias de energia face a outras potencias foi um dos temas dominantes naquele painel: "Não podemos voltar a ser dependentes de um só fornecedor. Cruzaram-se todas as linhas vermelhas e isto nunca vai voltar atrás", defendeu o presidente da Enagás, Antonio Llardén.
O líder daquela empresa espanhola de energia e operadora do sistema de transporte europeu, apontou como caminho "políticas comuns" de energia nos 27 países das União Europeia.
"A União Europeia, no passado, considerou que não era necessária uma política energética, há políticas europeias transversais, como a liberalização, a descarbonização, mas esqueceram-se de outras questões", disse.
Na Europa, referiu, "cada país tem uma matriz energética" e, "de repente a União Europeia deu conta que tem que ter uma política energética [...], mas não será fácil harmonizar políticas de 27 países, com matrizes e empresas diferentes".
Llardén apontou como prioridades a descarbonização e "redes eletrificadas com energias renováveis" por toda a Europa, opinião partilhada pelo presidente executivo da Iberdola.
"Temos que ter uma rede de infraestruturas. Se queremos prescindir do gás russo e descarbonizar temos que ter redes não só de gás, mas também elétricas com capacidade de internacionalização", defendeu Mario Ruíz-Tagle.
Até sábado, vão passar pelos vários paneis do Forun La Toja personalidades como os ex-primeiros ministros espanhóis Felipe González, Mariano Rajoy, o ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, responsáveis por várias companhias europeias ligadas à energia e o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa.
Nesta quarta edição, o Fórum La Toja debruça-se sobre temas como a segurança energética na Europa, cibersegurança, inflação, desafios demográficos, coesão territorial, entre outros.
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