Em entrevista à Lusa, Paolo Mauro, subdiretor do Departamento dos Assuntos Orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), admite que a subida das taxas de juro é um "desafio" para os países, pelo que é preciso cautela.
"Com o tempo, o custo dos empréstimos para os governos sobe e por isso é importante que estejam bem preparados para não entrarem, por exemplo, numa crise de 'rollover', em que tenham dificuldade em colocar títulos no próximo leilão. Pessoalmente, não acho que Portugal esteja nessa fase neste momento", disse.
Para o economista, braço direito do ex-ministro das Finanças português Vítor Gaspar, atualmente diretor deste departamento do FMI, contudo, na Europa este cenário "historicamente tem sido associado ao aumento das taxas de juros e certamente em mercados emergentes", pelo que adverte para a necessidade de os países controlarem o défice.
"Se os governos entrarem numa uma crise de dívida, terão de cortar de repente, o que é ainda pior do que fazê-lo gradualmente. Portanto, o nosso conselho daqui para frente é -- especialmente porque vemos que é provável que os custos dos empréstimos subam -- ações para reduzir o défice de forma gradual ao longo do tempo são o que é necessário", assinala.
Para o economista, "agora é a hora de colocar as nossas finanças públicas de volta nos eixos" e este será "um bom sinal porque ajuda a evitar esse grande aumento no 'spread' dos títulos".
Numa entrevista que teve lugar antes da divulgação do Orçamento do Estado para 2023, Paolo Mauro destacou a postura orçamental de Portugal perante a crise pandémica.
"Portugal é, eu diria, entre os países europeus, aquele que manteve o seu défice orçamental bastante controlado em relação aos outros", disse.
No entanto, alertou para que o país ainda tem uma dívida alta, com o FMI a estimar (segundo das previsões divulgadas hoje) um rácio da dívida face ao PIB de 115% no final deste ano.
"Por isso, obviamente, as vulnerabilidades da dívida estão lá. Acho que se o défice orçamental continuar mais ou menos no intervalo que esperamos, podemos esperar que a dívida diminua ao longo do tempo", salientou.
Deste modo considera: "Se o défice orçamental continuar a diminuir um pouco, essa seria uma postura orçamental que diria que é consistente tanto com a redução gradual dessas vulnerabilidades daqui para frente, como também com os esforços do Banco Central Europeu para reduzir a inflação".
Até porque, recorda, "reduzir a inflação é importante porque sabemos que quando a inflação se enraíza no sistema, isso prejudica todos e aumenta a incerteza na economia".
Admitindo que o crescimento é uma "preocupação" para todos os países, particularmente na Europa, dado o choque muito adverso no fornecimento de energia, salientou que existem muitas incertezas sobre o caminho do crescimento económico daqui para frente.
"Estamos num momento turbulento daqui para frente", disse.
O FMI divulgou esta semana a atualização das projeções económicas na qual manteve a previsão de crescimento do PIB mundial deste ano em 3,2%, mas cortou em 0,2 pontos percentuais (p.p.) a de 2023 para 2,7%, com uma probabilidade de 25% de cair abaixo de 2%.
Melhorou também ligeiramente as perspetivas de crescimento da economia portuguesa deste ano para 6,2%, mas cortou as do próximo ano para 0,7%, revelando-se mais pessimista do que o Governo, que prevê uma expansão de 1,3% em 2023.
A instituição de Bretton Woods prevê uma taxa de inflação para Portugal de 7,9% este ano e de 4,7% no próximo, o que compara com os 7,4% e 4% previstos pelo executivo português.
O FMI, que não integra ainda as políticas previstas no Orçamento do Estado deste ano, estima ainda um défice de 1,9% em 2022 e de 1,4% em 2023 e um rácio da dívida pública face ao PIB de 114,7% este ano e uma redução para 111,2% em 2023.
Leia Também: FMI vê défice a cair de 1,9% este ano para 1,4% no próximo