Em entrevista à Lusa, Paolo Mauro, subdiretor do departamento dos assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), explica que, por um lado, a instituição quer que os governos apoiem as famílias, particularmente as mais vulneráveis, mas por outro lado quer uma posição orçamental que também conduza à redução da inflação.
"Queremos que os decisores de política orçamental ajam de forma que não contrarie as ações das autoridades monetárias. É aí que estamos em termos de resposta. Vimos muitas respostas diferentes em todo o mundo e também na Europa", disse.
O economista do FMI recorda o atual contexto em que "há um choque muito grande a vir", enquanto "o aumento dos preços da energia, dos preços dos alimentos é algo que está [já] realmente a prejudicar a carteira das pessoas".
"Particularmente no lado da energia, a Europa sendo um importador líquido e para muitos países da Europa dependendo tanto do gás russo, este é um choque muito, muito forte. A resposta tem sido forte, mas estamos num contexto diferente do momento da pandemia", salientou.
O economista recordou que durante a pandemia a inflação e as taxas de juros mantinham-se baixas e "fazia sentido que o governo fosse muito determinado na resposta orçamental" para mitigar o impacto dos confinamentos, o que, diz, "foi consistente com o objetivo das autoridades monetárias de evitar a deflação".
"Agora estamos numa situação muito diferente. Temos uma inflação muito elevada, porque temos um choque adverso de oferta. E assim, por um lado, o governo precisa dar algum apoio às pessoas, principalmente aos mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, a orientação orçamental geral não deve ser demasiado generosa porque isso dificultaria muito a vida do Banco Central Europeu", justifica.
O responsável do FMI salienta que no que toca à energia num nível geral a instituição recomenda medidas que permitam que os incentivos para poupar energia permaneçam em vigor.
"Alguns estão a dar transferências de dinheiro às famílias vulneráveis, e isso é muito apropriado. Outros, por exemplo, estão a tentar controlar os preços através de subsídios ou tetos de preços, que têm uma grande desvantagem: reduzem o incentivo para as pessoas pouparem energia", salienta.
Deste modo, destaca que a posição do FMI é: "Tendemos a aconselhar um apoio direcionado às famílias ou a algumas empresas-chave que são realmente necessárias para o funcionamento normal da economia, em oposição a um grande subsídio de preços que se aplica de maneira mais geral".
"Uma forma mais criteriosa do ponto de vista orçamental é dar algum dinheiro para as pessoas que realmente precisam e um dos desafios na Europa é que não são apenas os muito pobres, mas também a classe média", salientou.
Perante este desafio, "quando falamos sobre essas transferências de dinheiro, começamos a ter que dar uma quantia razoável para um grande número de pessoas", disse
"Portanto, ainda é caro, mas ainda achamos que é menos caro do que subsidiar todos ou grandes cortes de impostos", acrescentou.
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