Combustíveis. Setores estratégicos em França temem continuação da greve

O Governo francês prometeu hoje melhorias no abastecimento "nos próximos dias", mas setores estratégicos da economia francesa temem que a situação continue, depois de já se ter avançado com uma requisição de trabalhadores das refinarias em greve.

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© Geoffroy Van der Hasselt/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
12/10/2022 16:21 ‧ 12/10/2022 por Lusa

Economia

Combustíveis

 

"Estou a ter muitas dificuldades. Tanto na agência de Paris como de Lyon temos as nossas próprias cisternas de combustível e há 10 dias que não recebemos nem um litro de combustível", afirmou o empresário português Mário Martins, proprietário da empresa de transportes francesa MRTI, em declarações à Agência Lusa, indicando que os camiões se abastecem agora nas estações nas autoestradas, quando há combustível, mas a preços muitos mais elevados.

Há mais de 10 dias que os trabalhadores das refinarias da Total e da Esso-ExxonMobil em França estão a bloquear estas infraestruturas, impedindo o abastecimento de combustível no país, causando uma corrida às bombas de gasolina, escassez de combustível à volta das grandes cidades e ainda o aumento dos preços da gasolina e do gasóleo. A reivindicação destes trabalhadores é uma melhor redistribuição dos lucros excessivos destas empresas, incluindo um aumento de salário.

Perante filas intermináveis e dificuldades de abastecimento de norte a sul do país, com pelo menos 30 por cento das estações de serviço a não terem combustível, o Governo decidiu na terça-feira à noite a requisição dos trabalhadores das refinarias. As forças da ordem francesas podem assim ir a casa dos trabalhadores e escoltá-los até ao trabalho.

Quem se recusar a trabalhar, incorre em multas até 10 mil euros.

No entanto, esta medida está a ser criticada pelas centrais sindicais que apoiam este movimento, como a CGT e Force Ouvriere, que prentendem que se abram negociações com os gigantes dos combustíveis para obter melhores salários e condições para os trabalhadores. A primeira requisição aconteceu na refinaria de Gravenchon-Port-Jérôme, na Normandia, com o porta-voz do Governo, Olivier Veran, a garantir esta manhã que o abastecimento vai melhorar "nos próximos dias".

No entanto, com 300 viaturas de transportes a operar em França e na Península Ibérica, os custos para Mário Martins são já elevados.

"Temos de fazer muitos ajustes e os preços para os clientes têm de ser revistos, se levávamos 1.000 euros num transporte, agora estamos a levar 1.200 euros, porque não há outra hipótese. O combustível já tinha aumentado muito, mas com esta escassez, eles ainda aplicaram mais 20 a 25 cêntimos por litro. Na minha empresa gastamos cerca de 700 mil litros por mês, é um grande aumento para nós", declarou.

Mário Martins lamenta que o sindicato dos transportes seja "fraco" em França, já que lembra que se as transportadoras quisessem, "em dois dias imobilizavam o país inteiro" e não tenha uma palavra a dizer nesta crise. O empresário alerta que este setor pode "morrer em dois ou três meses", já que mesmo antes da escassez, teve de lidar com os sucessivos aumentos de combustível devido à guerra na Ucrânia.

"A Total hoje ganha fortunas, portanto não percebo que não paguem melhor; ao mesmo tempo, os funcionários da Total, segundo o que li, não ganham mal. Portanto esta é uma polémica sem pés na cabeça e é o Governo que tem fazer alguma coisa, porque não pode ser a CGT a mandar no país", concluiu.

Leia Também: Energia. Costa reúne-se com Macron e Sánchez dentro de "dias" em Paris

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