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Energia? Europa tem "reservas suficientes" para aguentar o inverno

O antigo ministro Ângelo Correia afirma que a Europa tem "reservas suficientes" para aguentar o inverno e que as compras conjuntas de gás do bloco "já podia ter sido" na primavera ou antes.

Energia? Europa tem "reservas suficientes" para aguentar o inverno
Notícias ao Minuto

08:18 - 30/10/22 por Lusa

Economia Ângelo Correia

Questionado sobre se a solução para a crise energética que a Europa atravessa está na diversificação de fornecedores, o antigo presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa e gestor foi perentório: "Total, é inevitável".

A Europa "está a fazer um esforço" e o que "a Comissão Europeia está a fazer, parece-me bem, positivo", mas "atrasados porque a política de compras, quando dizem para o próximo ano, eu acho que já podia ter sido, por exemplo, para a primavera deste ano, ou até antes", diz Ângelo Correia.

Como a Europa "não comunitarizou a política de energia", ou seja, "há políticas europeias que são nacionais e não comunitárias, e às vezes não se beneficia", o que, "no caso da energia, é mais que óbvio que não faz sentido políticas nacionais, até pelo custo e pelo preço que nós pagamos por isso", aponta.

Mas até se chegar a esse estado - "que não saberemos se chegará, mas Deus queira que chegue", pois "era uma prova de maturação da Europa" -, Ângelo Correia considera que se vai viver duas realidades diferentes.

"Uma, atual, comprar" a energia 30% a 40% "mais cara aos americanos, os americanos têm gás de xisto, que é outra coisa, é gás também natural, mas feito de outro modo, não tem o gás já em poços, portanto é mais caro", elencou.

Depois, "a Nigéria, Trinidad e Tobago, nas Caraíbas, é importante, e Qatar. A Rússia está vedada. Eu acho que o Irão é contingencial. Não sabemos se nós vamos ser clientes do Irão, ou não, nas quantidades que fomos, tenho algumas dúvidas, donde o limite está estabelecido agora", prossegue.

"O que nós temos que fazer é uma política, outra, sobretudo em três sítios do mundo, que são os grandes poços, as grandes reservas de gás que nós temos de explorar, ou podemos participar, induzir e estimular a produção", refere, apontado que primeiro é o Turquemenistão.

"É um país que está para lá da Turquia" do "Azerbeijão" e que "tem das maiores reservas do mundo de gás natural", além disso está ligado à união "onde está a Rússia", prossegue, considerando que a "influência turca vai ser importante" porque vai possibilitar "o acréscimo de valências ao peso da Turquia".

Isto porque a Turquia "está a tornar-se num 'hub'" quer político, geográfico e "se calhar de fornecimentos, não da Rússia, mas de outros sítios", no entanto, o Turquemenistão "é o mais importante do meu ponto de vista", insiste Ângelo Correia.

O segundo "é Moçambique", sublinha, referindo que daqui dentro de algum tempo um navio para a Galp, "explorado pela Eni", porque a petrolífera italiana explora no mar "e o transporte é feito diretamente por navios no próprio mar", mas "em quantidades ainda reduzidas".

As grandes explorações futuras, quer da TotalEnergies, quer da Exxon, são em Pemba.

"Os grandes poços estão a 40, 40, 60 quilómetros no Oceano Índico, na linha direta da foz do Rovuma para o Índico", pelo que têm de ser captadas no estado gasoso, vir para terra, em Pemba, sendo que tem haver unidades de gaseificação e desgaseificação, depois segue por metaneiros que por via marítima vêm para a Europa, "onde serão outra vez gaseificados, portanto, duas vezes a mudança do estado do gás", descreve.

Ora, "isso vai demorar cinco anos, se as condições de segurança naquela zona forem obtidas e não estão a ser obtidas facilmente", afirma.

A terceira fonte está ao pé da Europa, "à frente de Israel e Egito", trata-se de uma "área separada geograficamente, mas o potencial está lá", sublinha, referindo que há uma pequena disputa com o Líbano e Telavive, que lhe dá "alguns direitos de exploração".

Na sua opinião, "daqui a algum tempo estará em condições de vir por 'pipeline'", prevendo que a ligação seja por Itália, provavelmente por Trieste, onde "já há um terminal que abastecerá a Áustria, a Hungria, a Eslováquia, a Roménia, a Alemanha, além de Itália, obviamente", tal como a Eslovénia e Croácia, prossegue.

Em suma, "a parte norte dos Balcãs e a parte leste da 'Mittleeuropa' será abastecida por aí. Vai demorar algum tempo, mas vem", salienta o antigo governante e professor catedrático.

"Neste momento a Europa tem de 90% de reservas. Há países que têm 95, 98%, o que é notável. Ou seja, nós vamos aguentar o inverno? Vamos", considera Ângelo Correia.

E insiste: "Vamos, as reservas são suficientes".

O alarmismo social, "que é legítimo em termos psicológicos, não tem legitimidade em termos materiais, não há razão para isso", agora, "para os anos a seguir, eu acho que o primeiro cenário que indiquei da proximidade e do momento já de exploração está a ser contratado"

Já a médio e longo prazo, a Europa "resolve o problema desde que mantenha as boas relações" com o Turquemenistão, Moçambique, Israel, Egipto, Qatar "e tenha uma política unificada", sublinha.

No entanto, à Europa "não chega ter boas relações", mas "interessa evitar que a Rússia destrua as boas relações que a Europa tem", avisa, dando alguns exemplos, entre os quais a República Centro-Africana, onde há uma força portuguesa das Nações Unidas.

"O Governo da República Centro-Africana é pró-russo, o grupo Wagner tomou conta" da formação do exército do país, aponta.

Em Portugal "não se discute nem se pergunta, mas Portugal está lá com uma companhia reforçada. Estão lá os russos. Não há problemas? Até lhe vou dar a resposta: Não. Respeitam-nos", relata, referindo que o Governo da República Centro-Africana "adora os portugueses, os militares portugueses".

No entanto, aleta para uma "reação anticolonial" que está a regressar várias décadas depois, "em alguns casos 100 anos", que "criou vazios que foram ocupados pela Rússia".

Ora, "se me perguntar: a presença russa é estabilizadora para esses países? Não é", diz, explicando que o Kremlin torna "esses países dependentes do aparelho" e "fornecimento militar", como também chinês.

Aliás, "grande parte do equipamento de transportes" de Angola, hoje em dia, "é chinês", relembra.

"O grande problema do Ocidente é que descolonizou - colonizou mal - descolonizou 'tant bien que mal' [como possível] e viveu hoje em dia um período em que explorou territórios com relações formalizadas, mas que não chegaram ao íntimo da alma dos povos que colonizou", considera, sendo que a Rússia e a China ocupam esse espaço.

Aliás, a maior parte dos votos neutros na assembleia-geral das Nações Unidas, sublinha, "são países endividados à China e à Rússia".

E "a Europa tem de perceber a subtileza de alguns desses países para perceber o que não fez, o que fez a mais ou a menos", remata.

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