Teixeira dos Santos: Portugal tem "um problema sério de poupança"
O ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos afirmou hoje que Portugal "tem um problema sério de poupança", tendo assinalado que a descida progressiva desde meados da década de 1990 acabou por resultar num aumento da dívida externa.
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Economia Teixeira dos Santos
"Portugal tem um problema sério de poupança", afirmou o antigo governante, que registou que "entre meados dos anos 1990, até à crise financeira de 2008 e 2009", a poupança em Portugal "desceu cerca de 10 pontos percentuais em termos do seu peso no PIB [Produto Interno Bruto]".
"Esta descida progressiva ao longo destes anos traduziu-se num alargamento do 'gap' [diferença] entre a poupança e o investimento, alargamento esse que tem um reflexo no imediato que é no aparecimento e de um agravamento do défice externo que se traduziu num aumento da nossa dívida externa", acrescentou Teixeira dos Santos, que deteve a pasta das Finanças entre 2005 e 2011, na Conferência Anual da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), em Lisboa.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da Pordata, a percentagem da dívida externa líquida em percentagem do PIB em 1996, o primeiro ano com este indicador era negativa em 1,2%, tendo alcançado os 50,2% em 2005 e os 75,6% em 2008, ano da falência do banco de investimento Lehman Brothers e que foi um dos principais fatores para o desencadear da crise económica do final dessa década.
Em 2011, ano em que Portugal pediu a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida externa líquida representava já 86,5% do PIB, tendo alcançado os 104,6% no ano seguinte.
Para o antigo governante, "este agravamento da dívida externa do país foi, sem dúvida, uma vulnerabilidade muito importante que ajuda a explicar as grandes dificuldades que o país enfrentou nesse ambiente de crise".
Teixeira dos Santos defendeu ainda que uma política de reforço da poupança nacional "tem de passar necessariamente pelo reforço da poupança de longo prazo", contra as outras formas de poupanças -- feitas "muitas vezes, por motivos influenciados pelo ciclo económico".
"Precisamos aqui do porta-aviões da poupança de longo prazo que dá massa crítica que dá estabilidade e sustentabilidade a essa poupança", defendeu Teixeira dos Santos.
O antigo ministro sublinhou que "apesar da melhoria da poupança nos últimos anos, ela é ainda insuficiente", tendo considerado que este indicador está abaixo da média da zona euro.
Ainda assim, tal não é suficiente, uma vez que "mais grave ainda que esta diferença", é a necessidade de "um grande esforço de investimento" em Portugal para melhorar a produtividade, tendo apontado que o rácio capital-trabalho é "49% da média da zona euro".
"Enquanto não reforçarmos a intensidade capitalista da nossa economia, é muito difícil melhorar a produtividade aparente do trabalho. Isto tem consequências muito sérias no bem-estar global dos portugueses", sublinhou.
Teixeira dos Santos falava no painel Poupança de Longo Prazo para a Reforma, que contou ainda com intervenções da diretora executiva de sustentabilidade do BPI e antiga presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Cristina Casalinho, e do ex-secretário de Estado adjunto da ministra da Administração Interna e professor associado na Universidade do Minho Fernando Alexandre.
Fernando Alexandre, que apresentou o estudo "Poupança de longo prazo para a reforma", defendeu a importância de produtos de poupança com benefícios fiscais, assim como a oferta, por parte das entidades patronais, de planos para a poupança pós carreira laboral.
Já Cristina Casalinho destacou o impacto que os Planos Poupança Reforma (PPR) ainda têm, enaltecendo os benefícios para a sua entrada e saída.
Segundo o estudo apresentado, 32% das famílias têm PPR, enquanto 63% das famílias que poupam para a reforma recorrem a estes instrumentos.
A sessão de abertura desta conferência, onde se assinalaram os 40 anos da ASF, contou com a participação do atual ministro das Finanças, Fernando Medina.
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