A Alsa Todi, empresa que venceu o concurso para Lote 4 do transporte público rodoviário da Carris Metropolitana de Lisboa, que abrange os concelhos de Alcochete, Barreiro, Montijo, Moita, Palmela e Setúbal, viu-se obrigada a contratar no estrangeiro face à alegada inexistência de motoristas profissionais em Portugal.
Quando começou a operar no Lote 4, em junho, a Alsa Todi deparou-se com inúmeras queixas dos passageiros devido a dificuldades no cumprimento de horários e na realização das carreiras previstas, alegadamente devido a dificuldades na contratação de motoristas.
Por isso, decidiu contratar profissionais em Cabo Verde.
Segundo o administrador da Alsa Todi e responsável da Alsa em Portugal, Juan Gomez Pina, alguns motoristas cabo-verdianos já estão a trabalhar em pleno, após um período de formação, e os 24 que ainda estão em Cabo Verde deverão chegar no mês de dezembro ou no início de 2023.
"Pedimos os vistos para os primeiros 51 motoristas em 07 de setembro, mas o processo, que normalmente demoraria cerca de uma semana, acabou por se prolongar durante um mês e meio, porque na altura a embaixada portuguesa também tinha de emitir 5.200 vistos para estudantes", justificou Juan Gomez Pina, reconhecendo que esse atraso também prejudicou a rápida regularização da atividade da empresa.
Foi uma espera desesperante para a Alsa Todi, mas também para alguns dos novos motoristas contratados em Cabo Verde, que viram a oferta de trabalho em Portugal como uma oportunidade para melhorarem as suas condições de vida.
Delis do Rosário soube da possibilidade de vir para Portugal através de um amigo, chegou a sentir-se "angustiado" devido à demora na emissão de vistos, mas garante que está satisfeito com a oportunidade de trabalhar como motorista na Alsa Todi.
"Fui contactado por um amigo que me perguntou se eu queria vir trabalhar na Carris Metropolitana, aqui em Portugal. Aceitei e passei no teste", disse, assegurando que está "muito bem alojado, numa casa tranquila", que partilha com um "grupo de nove" pessoas e que "não tem nada a reclamar".
Paulo Silva também se afirma satisfeito com a oportunidade dada pela Alsa Todi e já pensa em trazer a família.
"Vim para a Alsa Todi através de um contrato que eles foram fazer connosco em Cabo Verde. Estou aqui desde o dia 30 de outubro e já comecei a fazer as minhas carreiras. No que respeita ao alojamento, estamos bem alojados, à responsabilidade da Alsa. Não temos que nos queixar disso", disse Paulo Silva, acrescentando que a breve prazo conta estar acompanhado pela família.
Trazer a família para Portugal é também o próximo objetivo de César Silva, outro motorista cabo-verdiano que falou à agência Lusa nas instalações da empresa, no concelho da Moita, e durante uma ação de formação num dos autocarros elétricos que integram a frota de autocarros novos da Alsa Todi.
"É uma nova experiência em Portugal. Está a correr super bem. Maravilhoso. O alojamento é excelente e a Alsa Todi também é uma empresa excelente. A formação está a ser um pouco difícil -- Cabo Verde é um país diferente, a ilha de São Vicente é muito pequena. Mas está tudo a correr bem e penso que na segunda-feira já consigo ir para a linha sozinho", disse.
"E quero trazer a minha família para viver aqui comigo. A situação em Cabo Verde é boa, mas aqui é muito melhor", justificou César Silva.
Em entrevista à agência Lusa, o responsável da Alsa em Portugal garantiu que a empresa está a comparticipar em 66% o alojamento dos motoristas cabo-verdianos em diversas unidades hoteleiras da região e está a trabalhar com duas imobiliárias na procura de alojamento para aqueles trabalhadores.
"E estamos também a preparar um programa para ajudar os motoristas que queiram continuar a trabalhar connosco a trazerem as suas famílias para se integrarem na região, em diferentes localidades", disse Juan Gomez Pina.
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