"Temos de reafirmar, de forma muito forte, que não se pode minimizar qualquer incidente na aviação", disse Thierry Ligonnière.
Falando numa audição na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, em Lisboa, o responsável sublinhou que "a questão da segurança é um compromisso absoluto e a primeira prioridade" para a ANA, após os incidentes ocorridos no Aeroporto Francisco Sá Carneiro em abril de 2021 e no Aeroporto João Paulo II em maio de 2022, respetivamente no Porto e em Ponta Delgada.
"Tem de ser analisada a fonte [destes incidentes] e tem de ser avaliado como se pode melhorar o sistema", apontou Thierry Ligonnière, aludindo às investigações em curso.
E insistiu: "Não minimizamos a gravidade, é muito grave".
Thierry Ligonnière admitiu ainda que estas ocorrências, que "afetam a segurança", poderiam "ter tido um desfecho mais dramático".
"Levamos mesmo a sério, para ser analisado e para que isto não volte a acontecer", concluiu, perante os deputados.
Em causa estão os requerimentos do PSD e Chega para audição da ANAC, da NAV Portugal, da ANA Aeroportos e do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF), sobre um relatório que apontou "falhas graves no controlo aéreo".
O organismo que investiga acidentes aéreos detetou falhas graves no controlo de tráfego aéreo nos aeroportos do Porto e de Ponta Delgada, que autorizaram descolagens e aterragens quando ainda se encontravam viaturas a realizar inspeção ou manutenção da pista.
As conclusões constam do relatório final do GPIAAF, a que a agência Lusa teve acesso, em 29 de dezembro.
O primeiro incidente aconteceu na noite de 27 de abril de 2021, quando um Boeing 737-400, de carga, operado pela ASL Airlines Belgium, iniciou a descolagem no aeroporto do Porto, no momento em que um veículo 'follow-me', "devidamente autorizado a realizar a inspeção da pista, apercebeu-se de uma luz brilhante e questionou a torre sobre a presença de alguma aeronave a alinhar na pista".
Um "evento semelhante" ocorreu no aeroporto de Ponta Delgada em 13 de maio de 2022, que "resultou no borrego" (abortar uma aterragem) de um A321 da TAP, quando a tripulação se apercebeu "nos últimos instantes da presença de uma carrinha de manutenção na pista, também esta previamente autorizada" pelo Controlo de Tráfego Aéreo.
Os investigadores identificaram "deficiências ao nível da gestão do pessoal e dos turnos de trabalho, que criaram condições organizacionais latentes contribuintes para os eventos".
Intervindo na sessão, o deputado Filipe Melo, do Chega, vincou que estes não se tratam de "meros acidentes", sendo antes "muito graves" e "práticas inadmissíveis e revoltantes" por afetaram a "segurança dos passageiros" e a "imagem que Portugal, que depende do turismo, passa para o exterior".
Pelo PS, Hugo Oliveira solicitou que "não se escondam incidentes futuros", enquanto o social-democrata Paulo Moniz sugeriu a introdução de "elementos acrescidos de segurança", como "inteligência artificial ou sistemas de apoio à decisão".
Leia Também: ANA financiará isolamento em hospitais e escolas de Lisboa e Loures