EUA. Colapso de bancos reforça abrandamento da política monetária da Fed
As expectativas dos investidores de uma desaceleração ou mesmo travagem completa da subida das taxas de juro da Reserva Federal dos EUA (Fed) foi reforçada com o colapso de dois bancos norte-americanos nos últimos dias, afirmaram analistas contactados pela Lusa.
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Economia SVB
O Silicon Valley Bank (SVB) anunciou falência na sexta-feira e o Signature Bank também fechou depois, mas entretanto a Reserva Federal dos EUA (Fed) anunciou que disponibilizará "financiamento adicional" aos bancos norte-americanos para ajudar a garantir que as instituições tenham capacidade para satisfazer as necessidades "de todos os seus depositantes".
"A situação é séria e a forma como as autoridades dos EUA reagiram, ao garantir os depósitos e a facilitar linhas de crédito para evitar o contágio, mostra que o caso é para levar a sério pois pretende evitar-se o alargamento da crise", sustenta Filipe Garcia, da IMF - Informação de Mercados Financeiros.
Os analistas contactados pela Lusa sublinham que a subida das taxas de juro nos EUA contribuiu para o colapso dos dois bancos norte-americanos.
"É importante notar que a subida dos juros nos EUA contribuiu para a atual situação, pelo que poderá fazer com que os decisores de política monetária nos EUA comecem a ponderar abrandar ou até mesmo parar a subida dos juros, sendo que as atuais circunstâncias poderão também fazer com que o Banco Central Europeu (BCE) pondere e esteja atento a eventuais riscos na banca devido à subida abrupta dos juros ao longo dos últimos meses", afirma Henrique Tomé, analista da XTB.
Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, refere que "os investidores antecipam agora uma desaceleração do ritmo de aumento das taxas de juro, sobretudo do banco central dos EUA, acrescentando que "este abrandamento poderá mitigar as atuais dificuldades nos pequenos bancos, em grande parte impulsionadas pela subida dos juros para travar a inflação mais elevada das últimas décadas".
"O caso SBV mostra uma das implicações das subidas de taxas de juro de forma rápida", afirma Filipe Garcia, que explica que, "em rigor, o banco não se encontrava descapitalizado ou com uma carteira de investimentos em títulos de má qualidade", mas que a situação foi provocada pela discrepância entre a maturidade da carteira de investimentos e a possibilidade de exigência de liquidez.
Filipe Silva considera que nos EUA há riscos de que os depositantes de bancos de menor dimensão procurem refúgio em bancos maiores, o que poderá causar tensão adicional.
"O SVB era o 16.º maior em termos de depósitos e isso significa quase o tamanho do sistema bancário português", precisa.
Em relação a eventuais repercussões da falência dos dois bancos, Paulo Rosa não as antevê até ao momento, mas considera que "é normal existirem receios dos investidores, nomeadamente dos que estão mais expostos ao setor bancário, relativos a potenciais contágios e ao escalar deste fenómeno".
"No entanto, atualmente, o mercado monetário apresenta-se calmo e não corrobora os receios dos investidores, mesmo se existirem, eventualmente, mais instituições financeiras de pequena dimensão e com a mesma especificidade, em dificuldades", refere o responsável do Banco Carregosa.
Paulo Rosa realça que o SVB investiu parte dos depósitos dos seus clientes em obrigações do tesouro, uma opção que tem sido significativamente penalizada pela enérgica política monetária restritiva encetada pelos bancos centrais em 2022.
As obrigações do tesouro, um ativo financeiro tido como de pouco risco, tiveram no ano passado um dos piores desempenhos dos últimos 80 anos, precisa Paulo Rosa.
"Em suma e corroborando uma relativa serenidade nas perspetivas para as próximas semanas, o mercado monetário nos EUA mantém-se calmo, sobretudo a taxa de juro diária do dólar, a 'overnight' (SOFR), permanece em 4,55%, junto ao limite inferior do intervalo de taxas de juro da Fed [4,50% a 4,75%], confirmando que os grandes bancos norte-americanos com excesso de liquidez continuam a financiar o mercado monetário, especificamente bancos com escassez de liquidez, sendo certo que o fazem de uma forma criteriosa", afirma Paulo Rosa.
"O mercado monetário é o principal lubrificante dos mercados financeiros e da economia, refletindo atualmente tranquilidade", acrescenta.
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