Numa entrevista ao Diário de Notícias (DN) e à rádio TSF, Vítor Bento afirma que "a inflação tem de ser contida", porque "se perdurar por mais tempo, terá de haver um "esforço maior e, provavelmente, uma recessão"
Relativamente à inflação, é preciso olhar para a "inflação visível", que "está a desacelerar mais rapidamente". Mas sublinha: "criou-se um excesso de procura na economia e esse excesso de procura tem sido, desde há algum tempo para cá, um dos grandes motores da inflação".
"Quando se diz que há inflação porque as empresas todas aumentaram os lucros, se as empresas todas aumentaram os lucros é porque há muita procura, portanto, o problema macroeconómico é o excesso de procura", defende.
O responsável explica que o aumento das taxas de juro têm precisamente o efeito de "tratar esse excesso de procura".
Defende igualmente que "tem de haver um abrandamento sério da atividade económica" e lembra que "o facto de a inflação estar a desacelerar não significa que os preços tenham deixado de crescer": "significa que crescem menos rapidamente, mas continuam a crescer".
O antigo presidente da SIBS - Sociedade Interbancária de Serviços SA, que esteve igualmente à frente do BES e do Novo Banco, defende a ideia de que a banca tem estado a ajudar as famílias, renegociando com os clientes mais vulneráveis.
"É do interesse dos bancos que as pessoas tenham possibilidades de pagar os seus empréstimos", refere, adiantando: "Os bancos não querem ficar com casas, não faz parte do seu negócio".
Questionado porque é que a banca não acompanha a subida das taxas de juro com os juros pagos nos depósitos, responde: "as necessidades dos bancos são menores, porque têm muito mais depósitos do que o crédito que concedem".
"Não precisam de disputar entre si esses recursos e isso levará, provavelmente, a um ajustamento mais lento dessa parte, o que contribuirá eventualmente para uma margem financeira maior transitoriamente", afirma.
Contudo, Vítor Bento, que foi diretor-geral do Tesouro no tempo do governo de Cavaco Silva, frisa: "Recordo, também, que (...) quando as taxas de juros se tornaram negativas, a parte que estava contratualizada tornou-se negativa, e foi proibido aos bancos remunerar negativamente os depósitos".
"Portanto, a margem financeira também encolheu mais do que aquilo que seria a natureza do mercado, precisamente porque, de um lado, a parte contratual protegeu os devedores, mas os bancos foram impedidos de refletir também nos depositantes", acrescentou.
Na entrevista, defende que falta estratégia a Portugal, que classifica como "um navegador de circunstâncias".
"Para ter uma estratégia nacional não é apenas ter objetivos, porque essa é a parte fácil do enunciado, para ter uma estratégia é preciso ter objetivos realizáveis e edificar os instrumentos necessários para concretizar esses objetivos", afirma, sublinhando que, para isso, "é necessário ter uma capacidade de 'governance'".
"E nós não temos uma 'governance' estratégica", afirma o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, considerando que "a parte do Estado que em tempos tinha uma componente de planeamento e de pensar estrategicamente tem vindo a ser desmantelada".
"Hoje vive-se tudo em função do curto prazo, praticamente todas as grandes decisões, todas as grandes opções são feitas em função do curto prazo. E (...) o curto prazo acaba por ser muito condicionado pelas circunstâncias políticas", afirma.
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