"A EDP tem a ambição de liderar a transição energética, tornando-se 100% verde até 2030, e a nossa operação no Brasil será fundamental para atingir esse objetivo - que está totalmente alinhado com a estratégia do governo brasileiro", frisou Miguel Stilwell d'Andrade, na quinta-feira, à agência Lusa, após um encontro que manteve com Lula da Silva no Palácio do Planalto.
Nesta reunião marcaram ainda presença o CEO da EDP Brasil, Joao Marques da Cruz, o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, o ministro de Minas e Energia brasileiro, Alexandre Silveira, e ainda o chefe da Casa Civil, Rui Costa.
O Brasil, sublinhou o presidente executivo da empresa fortemente representada há mais de 25 anos no gigante sul-americano, dispõe de uma "matriz maioritariamente renovável, além de recursos naturais abundantes para que a geração de energia solar e eólica acelere e oportunidades para o desenvolvimento de novas tecnologias, como o hidrogénio verde".
Na declaração por escrito enviada à Lusa, Miguel Stilwell d'Andrade detalhou que na reunião com o chefe de Estado brasileiro foram abordados os planos de investimento que o grupo pretende fazer no país (cerca de seis mil milhões de euros nos próximos cinco anos), centrados nas energias renováveis e nas redes de eletricidade, "os planos e investimentos previstos para o segmento de distribuição em São Paulo e Espírito Santo, e expetativas para a renovação das concessões", o hidrogénio verde e ainda a reforma tributária no país, aprovada na Câmara dos deputados na semana passada, que simplifica o complexo sistema tributário do país, em discussão há mais de 20 anos.
Em relação ao hidrogénio verde, os interesses de ambos são comuns, com o Presidente brasileiro a considerar por várias vezes, ao longo dos seus primeiros sete meses de mandato, que o país não pode perder a oportunidade de se tornar numa "potência global de hidrogénio verde".
"O hidrogénio verde será um dos protagonistas na transição energética mundial nos próximos anos e integrar operações na vertente desse gás e de seus derivados é estar à frente no mercado de energia", sublinhou o presidente executivo do grupo EDP.
Para além disso, o Governo brasileiro está a trabalhar para estabelecer uma estrutura regulatória para a energia eólica no mar e o hidrogénio verde até o final deste ano e em maio anunciou um acordo com os Países Baixos para o transporte de hidrogénio verde entre os portos de Pecém (estado do Ceará) e Roterdão, que terá a participação da empresa portuguesa EDP.
Em dezembro de 2022, a empresa portuguesa EDP gerou em São Gonçalo do Amarante, no estado brasileiro do Ceará, a primeira molécula de hidrogénio verde até agora criada no país e a primeira na América Latina.
O foco, frisou o responsável português, é "melhorar o processo de geração, avaliar modelos de negócio, expandir a produção e estabelecer parcerias estratégicas com diferentes segmentos da indústria que podem utilizar o gás, além de contribuir para viabilizar a regulamentação do mercado no país"
"Acreditamos que para a expansão da produção é necessária uma análise económica holística, visando o atendimento tanto do mercado local quanto do mercado externo", frisou, detalhando ainda que no Brasil, o grupo já encetou diálogos com empresas com interesse "em ter o hidrogénio verde na sua produção".
"Estamos atentos às oportunidades, bem como a financiamentos que promovam o desenvolvimento desta tecnologia e das suas vantagens para a sustentabilidade do planeta", acrescentou.
Esta reunião com o Presidente brasileiro acontece na mesma semana em que a oferta pública de aquisição (OPA) da EDP sobre a EDP Brasil resultou na aquisição de 185.169.240 ações, correspondentes a 31,86% do capital da empresa brasileira.
Com a liquidação do Leilão, que ocorrerá hoje, remanescerão em circulação 55.699.225 ações ordinárias de emissão da EDP Brasil, que representam 9,58% do seu capital social total.
O preço oferecido aos acionistas minoritários da EDP Brasil foi de quase 24 reais por ação (cerca de 4,4 euros), correspondendo, assim, a um investimento potencial total de 5.770 milhões de reais (cerca de 1.040 milhões de euros).
A retirada bolsista da EDP Brasil deverá estar concluída no segundo semestre de 2023.
A EDP Renováveis Brasil foi fundada em 2009 e tem 1,1 gigawatts (GW) de renováveis em atividade.
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