Em entrevista à Lusa, o vice-diretor do departamento de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ruud De Mooij, elogia a evolução orçamental de Portugal e defende que o país mantenha o rumo.
Destacando que o FMI prevê que o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) para este ano é de 108%, Ruud De Mooij sublinha que "comparado ao nível pré-pandemia, é na verdade mais baixo".
"Na média europeia, o rácio da dívida pública é superior ao pré-pandemia, mas Portugal diminuiu oito pontos percentuais (pp.) desde a pandemia. Se olharmos para a projeção para os próximos cinco anos prevemos que diminuirá ainda mais, para 90%", aponta, na entrevista que teve lugar antes da apresentação pelo Governo português da proposta orçamental para 2024 esta terça-feira.
O responsável do FMI considera que a tendência de redução é "adequada" e que resulta, sobretudo, do país ter "um excedente primário".
"Isto é considerado apropriado como forma de reduzir os seus níveis de dívida [pública] e ter a certeza de ter almofadas [financeiras] disponíveis, mas também estar pronto para choques e desafios futuros", disse.
Deste modo, a principal recomendação de Ruud De Mooij é que Portugal "continue nesse caminho".
"Acho que isso é muito importante, mas é claro que também é importante como fazer isso e uma das questões para Portugal é que, por exemplo, se olharmos para as perspetivas de crescimento para os próximos cinco anos, são bastante modestas", disse.
Segundo a atualização das projeções económica, que ainda não têm em linha de conta o Orçamento do próximo ano, o FMI prevê que o PIB português cresça 2,3% este ano e 1,5% em 2024.
"Talvez haja espaço para um maior crescimento, por exemplo, através de reformas estruturais, reformas orçamentais estruturais. Isso existe investimento. Um bom investimento em digitalização, investimento em infraestruturas", defende.
O vice-diretor do departamento de assuntos orçamentais do FMI recomenda ainda que "à medida que os preços da energia e a inflação normalizam" as medidas de apoio sejam "retiradas gradualmente e, em vez disso, dar mais atenção a estes investimentos".
"Essa é uma das áreas potenciais onde ainda pode haver melhorias no futuro", considerou.
O responsável do FMI destaca, ainda assim, que "Portugal é um exemplo" no que toca a uma resposta orçamental que não colida com a política monetária.
"Portugal tem uma boa postura em termos de política orçamental contracionista que apoia a desinflação, enquanto outros países estão a demorar mais tempo", concluiu.
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