Na intervenção que a líder da CGTP fez perante milhares de trabalhadores que hoje se concentraram em protesto contra a proposta de OE2024, em dia de votação final global, Isabel Camarinha disse que se trata de "um Orçamento da política de direita, da política que deixa intocados os lucros e os privilégios da minoria".
E prosseguiu: "É um Orçamento de uma política, que pode ser aprovada lá dentro, mas que aqui rejeitamos pelo seu conteúdo, pelas suas opções, por faltarem as medidas que valorizem o trabalho e os trabalhadores, melhorem os serviços públicos e tragam maior justiça social e coesão territorial".
Além disso, em declarações aos jornalistas, a líder da CGTP reconheceu que este orçamento "não traz as soluções nem as respostas aos problemas e às reivindicações" dos trabalhadores e que os trabalhadores "estão a mostrar ao Governo que não ficam à espera de eleições" e "querem agora" as respostas aos seus problemas e às suas reivindicações.
Para a CGTP, este Orçamento de Estado é um orçamento que continua as opções tomadas de desvalorização dos trabalhadores da Administração Pública, de desinvestimento nos serviços públicos e nas funções sociais do Estado e de favorecimento dos grandes grupos económicos e financeiros no país, sendo que "não dá resposta" nem aos salários, nem aos serviços públicos, nem à habitação.
No dia em que é aprovado o Orçamento de Estado para 2024, os trabalhadores concentraram-se junto ao parlamento em defesa de uma subida significativa dos salários e das pensões, manifestando-se contra o aumento do custo de vida.
De acordo com Isabel Camarinha, "é urgente o aumento geral e significativo dos salários para todos os trabalhadores, em 15%, não inferior a 150 euros, como elemento fundamental para melhorar de imediato as condições de vida dos trabalhadores e garantir o futuro do país".
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, que esteve presente na concentração afirmou aos jornalistas que os trabalhadores "estão a exigir um combate ao custo de vida", que "já ninguém aguenta mais" e que se trata de uma "exigência justíssima".
"O Orçamento de Estado corresponde exatamente a uma orientação contrária ao que as pessoas aqui exigem", advertiu o líder comunista, adiantando que se trata de um orçamento que "no meio de muita confusão [crise política] aquilo que sobressai são os mais de 1.600 milhões de benefícios fiscais para as grandes empresas".
"Essas tais [empresas] têm mais de 25 milhões de euros por dia. É essa a grande contradição que nós vivemos. E esta gente a fazer um esforço desgraçado para conseguir aguentar as suas vidas. Ora isto não pode continuar assim", advertiu o líder comunista.
Para Paulo Raimundo é preciso dizer "basta a este caminho", lembrando também que "há aqui [na concentração] uma grande demonstração de força".
Sobre a proposta final do Orçamento de Estado, o líder do PCP considerou que as "questões grossas" foram chumbadas na discussão na especialidade do orçamento, nomeadamente, o aumento das pensões e das reformas, a diminuição do preço dos passes para 20 euros, tudo o que tem a ver com a revogação dos benefícios fiscais para os grupos económicos, e o reforço das verbas para o Serviços Nacional de Saúde.
Paulo Raimundo afirmou também que a maioria socialista se tinha apresentado como "uma maioria de diálogo", mas que o diálogo estava "traduzido nas injustiças desta vida" e que esta é que era a realidade.
Também presente na concentração em frente ao parlamento, José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, disse queria sinalizar que este orçamento não dava resposta.
"A banca tem 10 milhões de euros por dia e nunca se pagou tantos juros. Os empréstimos à habitação estão altos e com este orçamento as rendas vão ter o maior aumento dos últimos 30 anos e os salários não permitem fazer face ao custo de vida", advertiu.
O último Orçamento do Estado de António Costa como primeiro-ministro foi aprovado na votação final global apenas com os votos favoráveis da maioria absoluta do PS e a abstenção do PAN e do Livre.
Esta votação ocorreu numa altura em que estão anunciadas eleições legislativas antecipadas para 10 de março, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, em 07 de novembro.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou que vai formalizar a demissão do Governo "nos primeiros dias de dezembro", que é feita por decreto, tendo adiado esse ato para permitir a aprovação final do Orçamento do Estado para 2024 e a sua entrada em vigor.
[Notícia atualizada às 15h06]
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