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"Mulheres são mais prudentes. Não são necessariamente quem gasta mais"

Jana Couto, especialista em finanças pessoais e investimentos, esteve à conversa com o Notícias ao Minuto.

"Mulheres são mais prudentes. Não são necessariamente quem gasta mais"
Notícias ao Minuto

08:38 - 06/08/24 por Teresa Banha

Economia finanças pessoais

O ditado diz que no 'poupar está o ganho', mas numa altura em que os portugueses olham para a carteira à procura que o dinheiro chegue até ao final do mês, como é que é possível que isso aconteça?

 

Notícias ao Minuto falou com Jana Couto, especialista em finanças pessoais e investimentos, que acaba de lançar o seu primeiro livro.

Na obra 'Como ter mais dinheiro', a autora fala sobre os quatro passos que "qualquer pessoa" pode dar para ter mais dinheiro.

Quatro anos depois de se ter aventurado o projeto Finanças da Jana "por paixão" e com o 'sonho' de ser empreendedora, Jana Couto disponibiliza cursos na área, assim como partilha algum conhecimento na sua página de Instagram.

Nós, os adultos, somos as crianças do passado. E, por isso, se queremos que os adultos do futuro tenham resultados diferentes dos nossos, temos que passar ensinamentos também diferentes.

Como surgiu a ideia de escrever um livro? Já era um sonho ou veio na continuidade dos cursos que disponibiliza?

A ideia de escrever um livro não surgiu de mim. Fui convidada a escrever um livro o ano passado: o que é engraçado porque antes de receber o convite já tinha várias pessoas nas redes sociais e alunos que eu acompanhava que me diziam que deveria escrever um livro e partilhar o meu conhecimento noutras plataformas.

Como começou esta 'aventura'? A plataforma inicial foram as redes sociais, mas como foi o percurso até aos cursos?

Comecei em 2020 a partilhar conhecimento. À medida que estava a partilhar a minha história estava a partilhar a minha experiência. Acho que isso gerou identificação com as pessoas. Confesso que quando comecei a partilhar conhecimento achava que aquilo que estava a partilhar as pessoas já sabiam. Partilhei por ocupação. Estava na altura da pandemia de Covid-19, a minha empresa tinha entrado em 'layoff' e então, para me entreter, digamos assim, comecei a partilhar como é que geria as minhas finanças pessoais.

Só depois é que as pessoas me começaram a perguntar quanto eu cobrava pelos meus serviços – mas eu não tinha serviços e, portanto, foi a partir daí que comecei a pensar de outra forma e o projeto foi crescendo. Comecei foi a perceber que havia muita gente que não sabia gerir as finanças porque depois as pessoas começavam a aplicar aquilo que eu ensinava e comecei a receber mensagens a dizer: 'Jana, graças à tua dica este mês consegui poupar pela primeira vez' ou 'este mês consegui poupar mais'. Perceber que havia esta falha, entre aspas, na sociedade, foi também uma descoberta para mim.

Que tipo de conteúdos começou por partilhar?

Comecei a partilhar como é que geria as minhas finanças, ou seja, o meu método de organização, depois há um plano, como é que definia o dinheiro para as minhas metas financeiras, como é que usava os investimentos para chegar às mesmas metas.

Comecei a partilhar a parte da mentalidade, ou seja, como é que poderia fazer para pensar de forma diferente e começar a fazer mais dinheiro. O que acontece na maioria das vezes é que as pessoas pensam algo como 'não tenho dinheiro. Ser rico não é para mim'. Eu sempre pensei de uma forma diferente, que é: 'como é que posso ter mais dinheiro?'. O facto de pensar de forma diferente acaba por me trazer respostas diferentes também. É o primeiro passo.

No livro fala de mudar a mentalidade em relação ao dinheiro e numa gestão mais eficaz, mas apercebeu-se de que a literacia financeira não é acessível a todos em Portugal?

Não é tão acessível, não. Tanto que para eu aprender aquilo que hoje sei, na altura em que aprendi não havia conteúdo em Portugal. Fui buscar livros fora para perceber como é que eu poderia aplicar no meu caso. E tentar simplificar conceitos complexos porque, na verdade, quando comecei a olhar primeiro para os termos, eu não os compreendia. Primeiro, tive de simplificar para mim própria.

Era importante que estes assuntos fossem mais falados nas escolas?

Sim. Nós, os adultos, somos as crianças do passado. E, por isso, se queremos que os adultos do futuro tenham resultados diferentes dos nossos, temos que passar ensinamentos também diferentes.

E qual foi o seu percurso até aqui?

No liceu segui o curso de Línguas e Humanidades e no 11.º ano, durante uma aula de inglês, um professor pediu-nos para traduzir textos, e havia um que era sobre empreendedorismo. Na altura, olhei para aquilo e pensei: 'Quero ser empreendedora. No 11.º ano é a altura em que começamos a pensar o que é que queremos seguir. Na altura lembro-me de perguntar aos meus pais qual seria o curso que tinha de fazer no Ensino Superior. E eles disseram-me que não havia nenhum curso de empreendedorismo e que o que eu podia fazer era seguir Gestão e criar a minha empresa. Basicamente, foi o que fiz.

Segui Gestão no sentido de que um dia podia criar a minha empresa, mas completamente fora da expetativa de quando é que poderia criar a minha empresa. Conclui o curso, trabalhei em contabilidade, na área, e só depois é que comecei o meu projeto e aí deu origem à minha empresa. Foi tudo um processo que acabou por ser consequência de várias etapas.

Na hora de 'fazer contas' muitos jovens costumam usar a expressão 'sou de Humanidades' para justificar que talvez não saibam ou tenham alguma dificuldade. O percurso da Jana desconstrói essa expressão pejorativa e torna-a um exemplo de quem pode mudar. A mudança até aceder ao curso foi difícil?

Entrei na minha primeira opção. Entrar não foi difícil, mas quando comecei o curso foi mais difícil exatamente porque não tinha bases de Matemática A, bases essas que outros colegas meus tinham.

Mas não fui para Humanidades para fugir da Matemática, já que também escolhi Matemática Aplicada [às Ciências Sociais]. Fui para Humanidades porque gostava muito de Geografia, por exemplo. Escolhi o leque que me fazia mais sentido. Na altura eu até nem queria Humanidades, queria seguir Economia, só que na minha escola não havia essa opção. Mas acabei por me reencontrar com a Gestão.

Posso dizer que não existe uma faixa etária para começar a gerir o dinheiro. A minha aluna mais velha tem 64 anos

Quanto aos cursos que disponibiliza, como definiria as pessoas que procuram aceder a estes?

Acho que acabo por conseguir chegar a vários tipos de pessoas e de realidades diferentes a nível financeiro. A minha aluna mais velha tem 64 anos. Posso dizer que não há, propriamente, uma faixa etária para começar a gerir o nosso dinheiro. Se calhar, o meu aluno mais novo, que não é aluno direto, tem 18 anos. É filho de uma aluna minha, que depois acabou por fazer também o curso com a mãe. Tenho alunas que estavam grávidas e já estavam a pensar investir para os filhos. Chego a um público diverso. Não propriamente a um mais do que a outro. Talvez no início, fossem mais mulheres, mas agora que está muito equilibrado. Não há propriamente um género. O que tenho de ensinar ensino para quem quiser aprender comigo. Mas, ao início, achava que só ia ensinar para mulheres.

Porquê?

Achava que podia ser julgada pelos homens. Era uma crença. E o mais engraçado é que o primeiro aluno que se inscreveu era um homem. E, na altura, perguntei quais eram os objetivos e ele disse que já percebia sobre investimentos. Na minha cabeça, pensei: 'Se ele entende de investimentos, como é que o vou ajudar?'. Porque na minha ideia, uma pessoa que sabia sobre investimentos, sabia sobre todas as outras etapas. E disse isso a essa pessoa. Disse: 'Mas se sabes sobre investimentos, à partida não tenho como te ajudar porque deves saber o resto'. E a resposta foi: 'Não, Jana. Eu preciso mesmo da tua ajuda. O que me falta é o antes de investir. Não consigo gerir as minhas finanças, tenho-as todas descontroladas'. Fiquei a pensar: ‘Caramba, afinal nem toda a gente que sabe investir sabe gerir bem o seu dinheiro. E nem toda a agente que sabe gerir bem o seu dinheiro, pode saber investir'.

Não são, necessariamente, as mulheres que gastam mais. Existe de tudo. Mas, sim, na sociedade existe um padrão de pensamento que é formado e que nos vão passando de geração em geração

Para além do 'Sou de Humanidades', temos também a expressão 'Girl Math' ['Matématica de raparigas', na tradução livre], uma tendência que circula nas redes sociais - e em conversas à mesa - e que pretende 'justificar' gastos 'extra' feitos por mulheres. Vê nisto algum fundo de verdade ou é uma normalização de um preconceito (até pensando no exemplo de que falou acima, já que tinha a expetativa de que iria ensinar só mulheres).

Há um pouco de tudo. Acho que não há só mulheres que não sabem gerir e que só gastam, mas na sociedade existe muito esta questão de que as mulheres esbanjam mais e os homens é que tratam dos investimentos.

As mulheres conseguem ser boas nos investimentos – e até costumam ser mais prudentes nas tomadas de decisões. Se calhar, como são mais prudentes, preferem primeiro adquirir o conhecimento e depois colocar na prática. Acho que os homens já querem colocar mais na prática e se calhar não têm tanta paciência para aprender primeiro – isto de acordo com a minha experiência e de uma forma generalista. Temos mulheres e homens ao contrário.

E também já acompanhei alunos que gastavam muito dinheiro. Não são, necessariamente, as mulheres que gastam mais. Existe de tudo. Mas, sim, na sociedade existe um padrão de pensamento que é formado e que nos vão passando de geração em geração – mas não é necessariamente verdade.

E quanto ao livro, como está a ser o 'feedback'?

As pessoas a aderir, e fui recebendo notificações mesmo da editora sobre ter chegado aos tops de vendas, portanto isso são indicativos de que está a chegar bem às pessoas.

Também tenho recebido partilhas, ou seja, pessoas que tiram fotografias e mostram que já o compraram, outras que já começaram a ler e gostaram. Ainda hoje partilhei uma publicação de uma senhora que disse que estava espetacular, portanto, são tudo indicações que eu vou recebendo. O livro foi lançado há pouco tempo, portanto, é bom sinal. As primeiras impressões foram boas.

Talvez ainda seja muito cedo para pensar num próximo livro, mas é possível que esteja nos planos?

Não pensei nisso ainda porque ainda estou a assimilar que lancei um livro. O livro acaba por me dar uma exposição completamente diferente do que aquela que eu estava habituada até agora. Ainda é muito cedo. Acho que isso é passo a passo. E não queria já saltar para o terceiro degrau, se ainda não estou pronta ou a assimilar.

Leia Também: Planear, controlar e diversificar. Saiba como poupar na alimentação

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