Para Somik V. Lall, diretor do Relatório de Desenvolvimento Mundial 2024, as condições atuais são "desafiantes" para países em desenvolvimento cujo crescimento de rendimentos perdeu fulgor, e o seu sucesso dependerá nomeadamente de "reformas e abertura".
A Coreia do Sul é apontada no relatório como um "exemplo notável" das melhores práticas ao longo dos últimos 50 anos, tendo o seu rendimento 'per capita' passado de apenas 1.200 dólares norte-americanos para 33 mil no final de 2023.
O país asiático, refere o Banco Mundial, "começou com uma combinação simples de políticas para aumentar o investimento público e encorajar o investimento privado", adotando na década de 1970 uma política industrial que "incentivava as empresas nacionais a adotarem tecnologias estrangeiras e métodos de produção mais sofisticados".
"As empresas coreanas responderam bem a isso. A Samsung, que já foi uma fábrica de macarrão, começou a produzir aparelhos de TV para os mercados nacional e regional. Para fazer isso, obteve uma licença para usar tecnologias de empresas japonesas, como a Sanyo e a NEC", adianta o Banco Mundial.
O sucesso da Samsung aumentou a procura por engenheiros, gestores e outros profissionais qualificados e o governo sul-coreano respondeu definindo metas e aumentando orçamentos para as universidades públicas ajudarem a desenvolver os novos conjuntos de competências exigidos pelas empresas sul-coreanas, caso da Samsung, hoje "uma inovadora global e uma das duas maiores fabricantes de 'smartphones' do mundo".
Outros países seguiram caminhos semelhantes, como a Polónia, que se concentrou em "aumentar a produtividade com tecnologias provenientes da Europa Ocidental", e o Chile, que "incentivou a transferência de tecnologias do exterior e as usou para impulsionar a inovação interna", caso da introdução de tecnologias norueguesas de criação de salmão que tornaram este país um dos principais exportadores desta espécie piscícola a nível mundial, refere ainda o Banco Mundial.
Segundo o relatório, mais de 100 países - incluindo China, Índia, Brasil e África do Sul - enfrentam hoje "sérios obstáculos que podem prejudicar os seus esforços para se tornarem países de rendimento alto nas próximas décadas".
Esta chamada "armadilha" de desenvolvimento surge, normalmente, quando os países atingem cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) 'per capita' anual dos Estados Unidos da América (EUA), ou o equivalente a 8.000 dólares, o centro da faixa que o Banco Mundial classifica como rendimento médio.
Desde 1990, apenas 34 economias de rendimento médio conseguiram evoluir para o alto e, destas, mais de um terço beneficiaram da adesão à União Europeia ou da descoberta de novas jazidas de petróleo.
Os 108 países classificados como de rendimento médio têm no seu conjunto 6.000 milhões de habitantes, 75% da população mundial, geram mais de 40% do PIB global e respondem por mais de 60% das emissões de carbono.
"Enfrentam, também, desafios muito maiores que os seus antecessores na tentativa de escapar da armadilha do rendimento médio: o rápido envelhecimento da população, o aumento do protecionismo nas economias avançadas e a necessidade de acelerar a transição energética", aponta o Banco Mundial.
"A batalha pela prosperidade económica global será, em grande parte, vencida ou perdida nos países de rendimento médio", afirma Indermit Gill, economista-chefe do Grupo Banco Mundial e vice-presidente para Economia do Desenvolvimento, citado no documento.
"Muitos destes países continuam a adotar estratégias obsoletas para se tornarem economias avançadas. Por tempo demais, permanecem dependentes apenas dos investimentos; ou, em alguns casos, procuram inovação de forma prematura. É necessária uma nova abordagem: inicialmente, foco em investimentos; em seguida, ênfase na infusão de novas tecnologias provenientes do exterior; e, por fim, adoção de uma estratégia tripla que equilibre investimento, infusão e inovação. Com o aumento das pressões demográficas, ecológicas e geopolíticas, não podemos nos dar ao luxo de errar", argumenta Gill.
Leia Também: Banco Mundial duplica emissão de garantias financeiras para 20 mil milhões