O antigo primeiro-ministro José Durão Barroso confessou-se surpreendido com a dimensão da vitória de Donald Trump, que esta semana foi eleito 47.º presidente dos Estados Unidos.
"Com a dimensão sim. Todas as sondagens apontavam para uma luta muito renhida e, de facto, a vitória de Trump foi surpreendente pela sua dimensão. Não ganhou só no colégio eleitoral, ganhou no voto popular. Gostemos ou não de Trump, é notável do ponto de vista político aquilo que ele conseguiu", começou por considerar, numa entrevista à SIC Notícias, dando depois conta dos processos judiciais, da condenação, dos 'impeachment', tentativas de assassinato e também da derrota frente a Joe Biden.
"Ele volta e tem este resultado. É, a meu ver, o mais extraordinário 'comeback' [regresso] da histórica política dos Estados Unidos", considerou.
É muito estranho, mas tem um aspeto importante em que devíamos refletir: ele fala das coisas que interessam às pessoas
Questionado sobre uma eventual explicação para este cenário, Durão Barroso falou da marca que o republicano deixa da História dos EUA. "Há um antes e um pós-Trump. É o grande disruptor. Mudou a política. Sobretudo, a comunicação política. Tornou possível dizer na esfera pública aquilo que ninguém dizia na esfera pública - às vezes coisas muito violentas, que as pessoas educadas não dizem", explicou, exemplificando também com a comunicação nas redes sociais.
Falando ainda da comunicação, Durão Barroso apontou que Trump "insulta" os seus adversários, como também muitas vezes os seus aliados. "É muito estranho, mas tem um aspeto importante em que devíamos refletir: ele fala das coisas que interessam às pessoas", atirou, dizendo que na Europa por vezes existe "um desvio para outras coisas".
Falando da inflação e das questões de segurança, temas que Trump trouxe para discussão, o antigo chefe de governo português disse que estes são temas "que interessam às pessoas comuns".
Confrontando se essa pode ter sido a razão pela qual Trump não foi penalizado face ao seu 'cadastro', Durão Barroso defendeu: "Exatamente. Ele conseguiu passar a imagem de que estava ali a falar com o povo, com os trabalhadores, enquanto os outros falavam de coisas que são importantes - questões de identidade de género, questões dos transexuais, coisas que a Esquerda gostam muito de falar -, mas que não interessam ao operário".
Durão Barroso disse então que era preciso pensar nisto na Europa, sobretudo "aqueles que se dizem moderados". "Como é que evitamos que haja um fenómeno populista na Europa mais radical? Temos de responder às preocupações das pessoas. É legítimo haver preocupações com a segurança, imigração ilegal ou economia", justificou.
Os EUA são uma grande democracia. É um país com um pluralismo fortíssimo e capacidade de inovação. Continuam a ser
O futuro também esteve em cima da mesa nesta entrevista e o antigo presidente da Comissão Europeia considerou que Trump iria "mais longe" neste segundo mandato. "Ele está 'à solta'. Não tem necessidade de uma nova eleição. Não pode ser reeleito", afirmou, usando o "estilo" de Trump.
"À partida, Trump agora sente-se vingado por este voto popular, que é impressionante, e vai estar muito mais solto para fazer aquilo que acha que é o melhor para ele ou para os Estados Unidos", asseverou.
A Europa tem de deixar de ser o adolescente que nunca mais sai de casa dos pais, que nunca mais assume responsabilidades. É neste sentido que acho que pode ser um acordar para a Europa
Durão Barroso disse ainda que "as pessoas votaram" e também que acha "que se está a exagerar um pouco esse perigo contra a democracia nos Estados Unidos". "Os EUA são uma grande democracia. É um país com um pluralismo fortíssimo e capacidade de inovação. Continuam a ser", atirou.
Após falar também de outras inovações que podem estar a deixar a Europa para trás e que o regresso de Trump pode 'abrir os olhos' para a situação, Durão Barroso afirmou ainda: "A Europa tem de deixar de ser o adolescente que nunca mais sai de casa dos pais, que nunca mais assume responsabilidades. É neste sentido que acho que pode ser um acordar para a Europa", que "como sempre é lenta", dado também o número elevado de países que compõe o bloco europeu.
Donald Trump foi eleito como 47.º presidente dos Estados Unidos esta semana, depois de uma várias polémicas o levarem à barra dos tribunais, onde chegou mesmo a ser condenado. Agora, o novo presidente-eleito dos EUA vai regressar, em janeiro, sucedendo assim a Joe Biden, depois de derrotar a atual 'vice', Kamala Harris, que era a candidata democrata.
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