"Em termos prospetivos, espera-se que a inflação aumente temporariamente no quarto trimestre deste ano, à medida que as anteriores quedas acentuadas dos preços da energia deixem de ser registadas nas taxas anuais, antes de descer para o objetivo [de 2% fixado pelo BCE para a estabilidade dos preços] no decurso do próximo ano, em 2025", disse Christine Lagarde.
Intervindo perante os eurodeputados da comissão de Assuntos Económicos e Financeiros do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Christine Lagarde lembrou que a inflação global voltou a aumentar após desaceleração nos meses anteriores, 2,3% em novembro contra 2% em outubro deste ano, e atribuiu a mudança à "moderação da queda dos preços da energia e a um aumento da inflação dos produtos alimentares".
Com a componente dos serviços a ser a que mais pesa na inflação (contra outras como os custos laborais ou as pressões inflacionistas internas), a responsável salientou que "o processo de desinflação está bem encaminhado", razão pela qual o banco central baixou há duas semanas, pela terceira vez, as taxas de juro diretoras.
Porém, Christine Lagarde avisou: "Voltaremos a rever a nossa orientação na próxima semana, seguindo a nossa abordagem orientada por dados e de reunião para reunião e, por conseguinte, não nos comprometemos previamente com uma determinada trajetória para a taxa".
A taxa de inflação baixou nos últimos meses após registar valores históricos devido à reabertura da economia pós-pandemia de covid-19, à crise energética e às consequências económicas da guerra na Ucrânia, mas ainda se encontra acima do objetivo de 2% fixado pelo BCE para a estabilidade dos preços.
Em meados de outubro, o BCE baixou a sua taxa de juro de referência em 25 pontos base para 3,25%, sendo que este foi o terceiro corte do ano, num contexto de moderação da inflação e de abrandamento da atividade económica a curto prazo.
Nesta audição, Christine Lagarde recordou precisamente o "crescimento moderado no primeiro semestre deste ano" da zona euro, após cinco trimestres de estagnação, com uma recente melhoria no Produto Interno Bruto (PIB) real no terceiro trimestre, de 0,4%, impulsionado em parte por fatores temporários como os Jogos Olímpicos de Paris.
"No entanto, os dados baseados em inquéritos sugerem que o crescimento será mais fraco a curto prazo, devido ao abrandamento do crescimento no setor dos serviços e à continuação da contração na indústria transformadora, [mas], numa fase posterior, a recuperação económica da zona euro deverá começar a ganhar algum fôlego [já que] se prevê que as despesas de consumo aumentem à medida que os rendimentos reais aumentam e que o investimento recupere à medida que o impacto da anterior contração da política monetária se desvanece", elencou.
Ainda assim, Christine Lagarde adiantou que "as perspetivas económicas a médio prazo são, no entanto, incertas e dominadas por riscos negativos".
"Os riscos geopolíticos são elevados, com ameaças crescentes ao comércio internacional, e os elevados níveis de abertura comercial e de integração nas cadeias de abastecimento mundiais tornam a zona euro vulnerável a choques externos, com potenciais barreiras comerciais que ameaçam a indústria transformadora e o investimento", acrescentou.
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