"Estamos muito satisfeitos com este passo, mas isto não significa que vamos ficar por aqui. Vamos continuar a olhar para outras oportunidades, até porque também gostaríamos de poder crescer no 'last mile' e, havendo oportunidades, cá estaremos", afirmou João Bento em conferência de imprensa.
Relativamente ao acordo, anunciado hoje, para compra da empresa espanhola do setor aduaneiro de comércio eletrónico internacional CACESA, por um valor total de 104 milhões de euros, o CEO avançou que o negócio "vai incrementar instantaneamente um pouco mais de 100 milhões de euros" à faturação dos CTT e "cerca de 20 milhões de euros ao EBIT [resultado operacionl]".
"É uma operação que nos vai permitir ganhar elos da cadeia um bocadinho a montante de onde estamos hoje em dia e que tem bastantes sinergias, uma vez que há um 'overlap' [sobreposição] de serviços que hoje em dia consumimos de terceiros e vamos poder fazê-lo no âmbito da CACESA", referem os CTT.
De acordo com João Bento, a empresa espanhola tem um 'equity value' de 91 milhões de euros, tendo sido adquirida por 104 milhões "porque a companhia tem dinheiro".
O negócio vai ser financiado com dívida, mas "não ultrapassando o limite de alavancagem autoimposto" pelos CTT, sendo a operação da CACESA descrita como "muito rentável" e "criadora de valor", com uma margem operacional de 22%, "muitíssimo acima da margem EBIT média da atividade logística" dos CTT.
Assim, e embora este negócio eleve o nível de alavancagem dos CTT para o máximo "conservador" que a empresa se auto impôs, esta destaca que o facto de a operação da CACESA ser "bastante geradora de 'cash'" lhe permitirá "rapidamente desalavancar e ter capacidade, em um ou dois trimestres, de continuar a fazer aquisições de dimensão semelhante".
Segundo o CEO dos CTT, a expectativa é que a compra da empresa espanhola fique concluída "em março/abril" do próximo ano, estando agora a ser notificadas as entidades relevantes, nomeadamente ao nível da concorrência, mas não sendo de esperar "problemas de maior" a este nível.
"Acho que não vai levantar nenhum alerta de natureza política, nem a empresa é estratégica para a soberania da Espanha. Tem uma quota de mercado relevante, [mas] não é o único operador de mercado. Não nos parece que haja problemas de maior nesta dimensão", afirmou.
Questionado sobre o eventual interesse dos CTT na entrada em novos mercados, João Bento disse que "vai depender muito das oportunidades", mas enfatizou que a empresa tem "ainda um caminho enorme de crescimento na Ibéria": "[Mas] a própria CACESA tem vindo a instalar-se noutras geografias muito estimulada pelos clientes, que lhe pedem para o fazer, e essa pode ser uma forma possível de o fazermos", disse.
Atualmente, segundo os CTT, 78% dos proveitos da CACESA são obtidos em Espanha, sendo a Bélgica o seu segundo maior mercado, mas João Bento destaca que a empresa "está também em mercados emergentes, como a Turquia e a Índia, perspetivando-se que este último país será, no futuro, "muito provavelmente um polo emissor de comércio eletrónico com relevância".
Relativamente a eventuais restrições que venham a ser impostas pela União Europeia (UE) às plataformas asiáticas de comércio eletrónico, o CEO dos CTT diz encarar o tema "com serenidade", explicando que eventuais taxas que venham a ser impostas terão um impacto "Irrelevante para a esmagadora maioria dos produtos comprados nessas plataformas" e que uma potencial maior complexidade no seu desalfandegamento só valorizará a atividade de empresas como a CACESA.
Já sobre o Banco CTT, o CEO afirmou que nada está a ser feito "neste momento para monetizar partes do banco", mas admitiu que, querendo os CTT "afirmar-se perante o mundo e o mercado de capitais como um operador logístico de comercio eletrónico, complica um bocadinho o facto de ter dentro um banco".
"É nesse sentido que achamos que não precisamos de ter tanta exposição ao banco no nosso portefólio e que encaramos com tranquilidade um futuro em que este tenha menos peso. Mas não estamos neste momento a fazer nada, nem para monetizar partes do banco, nem para reduzir essa exposição, porque o banco tem uma história e um presente de crescimento com bastante potencial e que podemos ajudar a capturar", sustentou.
[Notícia atualizada às 14h41]
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