O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs uma taxa adicional de 10% sobre as importações oriundas da China no fim de semana e disse que a isenção tarifária sobre produtos de valor inferior a 800 dólares (770 euros), adquiridos diretamente por consumidores e enviados através do serviço postal, deixaria de se aplicar.
Na segunda-feira, a autoridade aduaneira dos Estados Unidos afirmou que os seus agentes teriam agora de verificar e apurar formalmente o conteúdo de todas as encomendas enviadas por correio da China. Esta medida poderá aumentar os custos das empresas de comércio eletrónico chinesas, cujo crescimento nos EUA tem sido parcialmente impulsionado por entregas eficientes de produtos baratos produzidos na China.
"O impacto vai ser muito maior do que apenas alguns pacotes", disse Henry Gao, professor de direito na Singapore Management University, citado pelo Financial Times. "Tudo o que vem da China vai ficar retido por causa disto", apontou.
A Shein e a rival Temu, que vendem roupas e outros artigos a preços baixos, cresceram rapidamente desde a pandemia da covid-19 e foram provavelmente responsáveis por mais de 30% das encomendas isentas de taxas alfandegárias que chegaram aos EUA, ao abrigo dos regulamentos, apontou um relatório do Congresso norte-americano, em 2023. De acordo com as alfândegas dos EUA, cerca de quatro milhões de encomendas são processadas todos os dias.
Os dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA mostraram que o valor médio dos pedidos era de cerca de 50 dólares (48 euros), com um total de 47,8 mil milhões de dólares (46 mil milhões de euros) em mercadorias elegíveis enviadas nos primeiros três trimestres de 2024.
A medida de Trump surge numa altura em que as empresas chinesas enfrentam crescente escrutínio nos mercados ocidentais, acusadas pelos concorrentes locais e as entidades reguladoras de concorrência desleal.
Os executivos da Shein, que pretende entrar na bolsa de Londres com uma avaliação de cerca de 50 mil milhões de libras (60 mil milhões de euros), argumentaram que os seus produtos continuarão a ser competitivos, devido à sua estratégia de ajustar os volumes de produção em função da procura.
A eliminação da isenção ocorre numa altura em que Trump também anunciou novas taxas sobre os produtos provenientes do Canadá e do México. Estas foram suspensas depois de Trump ter falado com os líderes destes países. As taxas sobre a China entraram em vigor na terça-feira e Trump deverá falar com o líder chinês, Xi Jinping, nos próximos dias.
A empresa norte-americana de comércio eletrónico Amazon procurou contrariar a ameaça dos fornecedores chineses baratos, lançando a marca "Haul", que oferece produtos por menos de 20 dólares (19 euros) com prazos de entrega entre uma e duas semanas.
"O encerramento desta lacuna é favorável à Amazon", afirmou Andy Wu, professor associado em Harvard, acrescentando que a empresa "compraria de preferência a grosso para tirar o máximo partido do seu sistema logístico".
A isenção foi concebida para reduzir os encargos dos funcionários das alfândegas, eliminando a necessidade de inspecionar todos os envios de pequeno valor, e permitiram que as empresas e os consumidores dos EUA evitassem passar por um longo processo aduaneiro quando importam artigos menos valiosos.
No entanto, estas medidas têm enfrentado cada vez mais oposição, o que levou o antigo Presidente dos EUA, Joe Biden, a propor um endurecimento das regras para as importações chinesas no final do ano passado, enquanto a União Europeia propôs a supressão das isenções para as encomendas de valor inferior a 150 euros, segundo o Financial Times.
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