Respondendo a perguntas da audiência durante um debate na conferência Horasis Global Meeting, que decorre até terça-feira em Cascais, perto de Lisboa, Rogério Zandamela acrescentou que "parte dessa dívida é da dívida não divulgada, que é um montante enorme".
O banqueiro central mostrou-se, no entanto, confiante na capacidade do país em ultrapassar a crise económica, orçamental e financeira em que está mergulhado, mas não escondeu que há muitos desafios pela frente.
"Somos um dos países mais abençoados do mundo [em termos de recursos naturais], mas precisamos de um modelo de desenvolvimento que melhore a vida das pessoas e também os indicadores económicos", argumentou o governador, considerando que as altas taxas de crescimento, na ordem dos 8% anuais, distorcem a realidade do país.
O responsável sublinhou que "o Investimento Direto Estrangeiro é bom e é uma bênção para o país", mas tem o problema de "ser concentrado nas minas, no carvão e no gás", enquanto "no resto dos setores não se passa nada".
Como exemplo, apontou a agricultura.
"O setor está dormente, apesar do enorme potencial que tem. A esmagadora maioria da agricultura que se pratica é de subsistência, o setor está completamente subdesenvolvido, há muito pouco para o agronegócio que se vê no Brasil e na América Latina, e parte disso acontece por causa das regras de investimento. A lei favorece os grandes investimentos, mas tenta-se fazer um pequeno negócio e não se vai a lado nenhum", disse Rogério Zandamela.
O governador, que chegou atrasado à sessão matinal da conferência por causa dos problemas nos aeroportos de Londres, acabou por concentrar as perguntas da assistência, e foi numa dessas respostas que explicou: "O crescimento de 7% ou 8% ao ano faz grandes manchetes na imprensa internacional, mas olhando para o que realmente interessa, que são os cidadãos, nós não estamos bem, e as políticas macroeconómicas também não são saudáveis".
Moçambique, lembrou, acumula défices orçamentais ano após ano, e respalda-se no Investimento Direto Estrangeiro e nos doadores internacionais.
"Se este é modelo de desenvolvimento que vamos continuar a ter, então vamos ter problemas. Vamos ter muito dinheiro, mas vamos continuar pobres, porque a maioria da população não tem emprego nem há hospitais", exemplificou o governador, que admitiu que por ter estado 40 anos fora do país se sente como "um 'outsider' a viver em casa".