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Provedor diz que Santa Casa intervir no setor financeiro não é novidade

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Edmundo Martinho, disse hoje que a instituição tem um histórico de intervenção no setor financeiro e que a eventual entrada no banco Montepio não seria uma situação nova.

Provedor diz que Santa Casa intervir no setor financeiro não é novidade
Notícias ao Minuto

11:57 - 10/01/18 por Lusa

Economia SCML

"Pelo menos desde anos 60 que [a SCML] tem tido intervenções no domínio financeiro, em sociedades de 'leasing', participação no capital de companhias seguros, de instituições financeiras e bancárias, e têm vindo a revelar-se benéficos para a Santa Casa", disse Edmundo Martinho no parlamento, em audição na Comissão de Trabalho e Segurança Social.

O provedor afirmou que a diversificação de investimentos da SCML é mesmo obrigação estatutária e que o setor financeiro tem motivado o interesse, referindo que a SCML "já chegou a ter intervenção" no banco BCP no passado.

Segundo o responsável, houve também no passado investimentos da SCML que "foram validados por membros do governo que tinham a tutela da Santa Casa que hoje se afirmam contra" este eventual investimento no Montepio.

Edmundo Martinho destacou a criação, no início da década de 2000, de um fundo imobiliário da SCML que "mobilizou 30% dos ativos da SCML", quando tutelava a Santa Casa "um ministro que é [hoje] muito crítico deste processo", referindo-se a Bagão Félix, que foi ministro da Segurança Social no Governo do PSD/CDS-PP liderado por Durão Barroso (2002-2004).

"E posso recordar que a SCML perdeu quase 100 milhões de euros em imobiliários porque houve desvalorização. Agora está a recuperar", afirmou.

Segundo o provedor, atualmente, é a "estável situação económico-financeira" da SCML, com excedentes financeiros, que faz pensar em investimentos que, afirmou, não "prejudicarão a intervenção da Santa Casa na sua responsabilidade social", nas áreas de ação social e saúde.

Questionado sobre a existência de pressões do Governo para a SCML entrar no Montepio, Edmundo Martinho disse que à direção da SCML foi suscitada a avaliação desse investimento, mas sem pressões.

"Fomos suscitados [pelo Governo]. 'Porque não avaliam a entrada na CEMG'?", afirmou, garantindo que "nao há pressões".

A imprensa tem adiantado que a SCML poderá entrar com 200 milhões de euros em troca de uma participação de 10% na CEMG, o que valoriza o banco em cerca de 2.000 milhões de euros.

Edmundo Martinho disse hoje que este valor não está definido e que o que há é a definição de um limite máximo de participação da SCML no setor financeiro, que advém de um parecer interno feito quando houve um estudo para eventual investimento no Novo Banco.

O provedor, que foi presidente do Instituto de Segurança Social entre 2005 e 2011, durante Governos PS, disse que a avaliação de uma entrada no Montepio começou a ser estudada há cerca de um ano, quando Santana Lopes ainda era o provedor (cargo que deixou para concorrer à liderança do PSD), e que de momento decorre um estudo financeiro para perceber o "valor do banco".

A imprensa tem noticiado que este estudo está a ser levado a cabo pelo banco Haitong (ex-BES Investimento).

Afirmou ainda o provedor que o auditor da Santa Casa também foi chamado a perceber o impacto na Santa Casa de um investimento no Montepio.

A audição do provedor da SCML, que hoje decorre no Parlamento, foi pedida por unanimidade entre todos os grupos parlamentares, após requerimento do CDS-PP.

No domingo, em entrevista à Antena 1, o ministro do Trabalho disse ter sido ideia de Pedro Santana Lopes o envolvimento da Santa Casa no setor financeiro, enquanto a hipótese de investimento no Montepio foi colocada pelo Governo.

Quanto a críticas feitas ao envolvimento do setor social no financeiro, Vieira da Silva falou em "profundo desconhecimento da realidade", porque em "toda a Europa existem instituições financeiras do setor social".

A CEMG, detida na totalidade pela Associação Mutualista Montepio Geral, está num período de mudança dos estatutos e mesmo da sua equipa de gestão, tendo a Associação Mutualista anunciado a entrada de Nuno Mota Pinto para presidente do banco, lugar ainda ocupado por Félix Morgado.

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