Festival de Fado com impacto no circuito cultural da Argentina
O Festival do Fado que, neste fim de semana, passa pela Argentina nutre cantores e músicos argentinos dedicados ao género português e educa um público que depois consome a produção de fadistas locais, inspirados nos artistas portugueses.
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Cultura Fado
"O Festival nutre-nos porque nos permite escutar grandes fadistas portugueses ao vivo. Como cantora, eu procuro ficar muito perto para ver os detalhes da técnica porque aqui não temos onde aprender a cantar fado. Tudo isso nos permite crescer como artistas", explica à Lusa a cantora Karina Beorlegui, uma referência na cena musical argentina.
Em 2012, Karina Beorlegui, famosa no circuito de Tango, criou e até hoje produz o 'Festival Portenho de Fado e Tango', um festival bienal independente que procura trazer a Buenos Aires jovens fadistas portugueses e revelar talentos argentinos tanto de Fado quanto de Tango, dois géneros com pontos em comum.
As primeiras edições tiveram o apoio de empresas e pessoas da comunidade portuguesa, dispostas a incentivar um festival que aproximasse Portugal da Argentina.
A partir de 2014, o Festival de Fado e Tango, já oficialmente declarado de "interesse cultural" passou a ser patrocinado por um programa do Governo da Cidade de Buenos Aires que permite às empresas apoiarem projetos artísticos em troca de redução de impostos. A Embaixada de Portugal na Argentina e a Fundação Amália Rodrigues dão apoio institucional ao projeto cujas entradas são gratuitas.
Paralelamente, o Festival de Fado, lançado de Portugal para o exterior em 2011, chegou a Buenos Aires também em 2014.
"Eles trazem fadistas consagrados; nós, novas apostas e talentos locais. Eles apresentam-se num Palácio; nós, no circuito do tango onde tocamos durante o ano. Mas temos um acordo tácito de não coincidirmos com as datas e de retroalimentar-nos: eles formam um público local que depois procura os nossos shows, enquanto os nossos shows consolidam um público que vai ao Festival de Fado", descreve Karina Beorlegui, que criou o festival local "porque queria escutar fadistas na Argentina".
A tangueira e fadista argentina tem quatro discos a solo nos quais, ao longo de 20 anos, o fado convive com o tango, ganhando cada vez mais faixas a cada novo disco: 'Caprichosa' (2003), 'Mañana Zarpa Un Barco' (2008), 'Puerto Cardinales' (2011) e 'Encuentro Amália-Gardel' (2023).
Além de Karina Beorlegui, outra cantora argentina, Mariana Accinelli, combina os dois géneros irmãos. Atualmente, no circuito do fado argentino, há três grupos locais unicamente de Fado: Fadeiros, Fado Trio e Almalusa, sendo este último o único com dois fadistas lusodescendentes, María Laura Rojas e Dulio Moreno.
"A vinda do Festival de Fado todos os anos inspira-nos muito. É quando temos a possibilidade de ver fadistas de Portugal e de, indiretamente, termos uma verdadeira aula. É como ir a uma escola de Fado", conta à Lusa Dulio Moreno que, neste fim de semana, poderá ver António Zambujo e Raquel Tavares.
"Aprendemos questões técnicas da voz por observação como respiração e modulação, os músicos aprendem técnicas de guitarra portuguesa, mas também somos tocados por questões emocionais como as melodias e as letras. É uma magia ao vivo. É comum sairmos a chorar porque nos conectamos muito com o género", desabafa Dulio Moreno.
Essa conexão estende-se pelo público argentino, cada vez em maior número. O Almalusa faz entre 12 e 18 apresentações por ano, com demanda crescente.
"O Festival de Fado ajuda-nos a difundir o género na Argentina. O público sai do festival ávido por continuar a escutar esse género ao longo do ano. É nessa hora que nós entramos. O festival é uma grande ajuda para a posterior formação e consolidação do nosso público", agradece Dulio Moreno.
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