Kyiv pretende com incursão em Kursk retirar iniciativa à Rússia
A incursão militar ucraniana na província russa de Kursk, de que as autoridades de Kyiv evitam falar, é definida até agora por analistas locais como uma tentativa de dispersar as forças russas e retirar iniciativa ao país invasor.
© OLGA MALTSEVA/AFP via Getty Images
Mundo Ucrânia
"Cabe ao Exército dizer o que está a acontecer lá", disse Mikhailo Podoliak, assessor do chefe do gabinete presidencial em declarações à televisão, no que constitui o primeiro comentário sobre o tema de um representante do Governo, assinala a agência noticiosa Efe.
Podoliak referiu-se a um aumento da eficácia nas "operações militares da Ucrânia na zona de hostilidades" e explicou que poderiam influir na posição da Rússia em futuras negociações.
"Atualmente temos uma guerra que gradualmente está a avançar para o interior da Federação russa. Assusta-os? Sim. Reagem a outra coisa que não seja o medo? Não", afirmou Podoliak.
O dirigente ucraniano enfatizou ainda que apenas numa situação em que a guerra não decorra em conformidade com os planos russos, e se agravem os custos em termos de baixas e perdas materiais e de território, será esse o momento em que Moscovo estará disposto a compromissos.
Nem o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nem o estado-maior do Exército ou outros altos cargos revelaram até ao momento qualquer detalhe sobre a participação das forças ucranianas na incursão.
A maior parte das informações sobre a extensão da operação em curso são provenientes de fontes russas, indicou o analista militar Oleksandr Kovalenko.
No entanto, em declarações à Efe, referiu que as forças atacantes conseguiram controlar 400 quilómetros quadrados de território russo, quase metade da extensão tomada na Ucrânia no início de 2024 em intensos combates por forças russas numericamente muito superiores.
A compreensão sobre os possíveis objetivos da Ucrânia em Kursk podem alterar-se rapidamente quando surgirem mais detalhes sobre a operação, preveniu Kovalenko.
No entanto, as peculiaridades do relevo da região de Sudzha apontam para uma opção cuidadosa do teatro de operações, que favorece quer os avanços rápidos quer a defesa, e tentando demonstrar a vulnerabilidade das forças russas perante um ataque surpresa, explicou.
Segundo Kovalenko, a incursão forçou a Rússia a transferir reservas de algumas zonas da frente na Ucrânia, onde Moscovo continua a exercer pressão nas regiões de Kharkiv (nordeste) e Donetsk (leste).
A formação de uma "zona sanitária" sob controlo ucraniano também poderia converter-se num fator em eventuais negociações com a Rússia.
O ritmo dos avanços ucranianos é tão rápido que não pode ser excluída a tentativa de capturar a central nuclear de Kursk, para a trocar por territórios ucranianos ocupados, assinalou.
"Na guerra não importam apenas as situações no terreno, mas também a perceção que existem sobre elas, o que se converte numa batalha de nervos", disse à Efe Oleksi Melnik, do centro de estudos Razumkov.
Na sua perspetiva, se um dos objetivos consistia em aplicar um golpe psicológico à Rússia, a incursão teve êxito caso se considere a "agitação" nos 'media' russos e a "pouco convincente reação" do Presidente russo Vladimir Putin.
Ao capturar território russo ao fim de dois anos e meio do início da invasão, a Ucrânia também demonstra que os receios dos seus aliados sobre uma possível resposta de Moscovo, que os impeliu a limitar o seu apoio a Kyiv, são exagerados, argumentou por sua vez nas redes sociais Timofi Milovanov, presidente da Escola de ciências económicas de Kyiv, também citado pela Efe.
Algumas vozes críticas na Ucrânia questionaram a oportunidade de utilizar os escassos recursos militares em Kursk, em vez de reforçar as tropas exaustas e em inferioridade numérica no leste, em particular nas regiões de Toretsk e Pokrovsk.
Mas também surgiram apreciações positivas.
"Bravo por todos os que o planearam. Utilizaram-se os princípios da guerra: surpresa, caráter massivo, unidade de comando, ofensiva, iniciativa, logística", comentou na rede social X Bogdan Krotevich, um comandante da brigada "Azov" que recentemente tinha criticado publicamente a contraofensiva do verão de 2023.
Umas forças limitadas conseguiram muito mais em Kursk do que poderiam ter conseguido em Pokrovsk ou Toretsk, onde estão 80.000 efetivos russos, acrescentou Kovalenko.
"Onde tem mais sentido contra-atacar? Onde a Rússia tem uma vantagem total ou onde é mais vulnerável?", questionou.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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