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ONU reduzida a "teatro de ação simbólica" com mundo "em fragmentação"

O especialista norte-americano em relações internacionais Ian Lesser defende que as Nações Unidas foram remetidas a um papel de "teatro de ação simbólica", em vez de palco de resolução de conflitos, num cenário global de crescente "fragmentação".

ONU reduzida a "teatro de ação simbólica" com mundo "em fragmentação"
Notícias ao Minuto

24/09/24 10:58 ‧ Há 4 Horas por Lusa

Mundo ONU

Em entrevista à Lusa em Lisboa, na semana do debate anual da Assembleia Geral das Nações Unidas, Lesser diz-se "não muito confiante" de que a arquitetura de segurança internacional sobreviva às atuais pressões e crises de segurança, e vê uma demonstração de que a mesma "já está a falhar de maneiras importantes" na guerra na Ucrânia e no "colapso completo da estabilidade" no Médio Oriente.

 

Embora este tipo de desafios à ordem internacional não seja totalmente novo, hoje a escala dos atores envolvidos é diferente, o que é patente na "postura muito desafiadora" da China, nomeadamente perante vizinhos no Mar do Sul da China, sublinha.

"As consequências disto estão numa ordem diferente daquela que vimos desde o fim da Guerra Fria [que] na verdade, na minha opinião, foi um período muito mais estável, foi mais seguro. Tínhamos acordos de controlo de armas em funcionamento com a União Soviética. Tínhamos acordos para prevenir acidentes. Podíamos discordar, mas havia entendimento e éramos, às vezes, adversários previsíveis", disse à Lusa o especialista norte-americano.

"Há uma certa ironia em que, mesmo no auge da Guerra Fria, de certa forma a ONU foi mais eficaz, pelo menos em questões que não tocavam diretamente na competição entre o Ocidente e a então União Soviética. Hoje, [a ONU] tornou-se um teatro para todos os tipos de ação simbólica, mas muito pouca política concertada", adiantou.  

Convidado pela Fundação Luso-Americana para abrir, na segunda-feira, um ciclo de conferências dedicadas às eleições Presidenciais dos Estados Unidos, Ian Lesser lidera o escritório do German Marshall Fund (GMF) em Bruxelas.

Coordena ainda o GMF South, um programa que abrange pesquisa e análise de desenvolvimentos no Sul da Europa, Turquia, Mediterrâneo e nas relações Norte-Sul na região do Atlântico, sendo doutorado pela Universidade de Oxford.

Para Lesser, é preciso "olhar seriamente para a reforma das Nações Unidas", especialmente em termos de composição do Conselho de Segurança, mas implementar a mesma "é extremamente difícil", até porque os principais membros daquele órgão "nem sempre têm fé na própria instituição"  

Em vez de um "colapso" da ordem internacional, Lesser identifica uma fragmentação, caracterizada também pelos países do chamado "Sul Global", como Índia ou Brasil, "desafiarem o sistema", não tanto "porque tenham uma intenção agressiva, mas porque sentem que foi de alguma forma injusto" para com eles.

Acomodar estas ambições é um "desafio", representando um mundo "mais multipolar" ou "mais nivelado".

Um mundo também de maior "instabilidade" e "insegurança", o que se traduz em maior imprevisibilidade dos acontecimentos, por exemplo na essencial relação entre os Estados Unidos e a China.

"Há muito tempo que as pessoas observam e se preocupam com esta relação. Mas, até recentemente, não tínhamos a sensação de que poderia acontecer algo de mau na próxima semana e, de alguma forma, levar os Estados Unidos e a China a um conflito. Agora isso é muito diferente", disse à Lusa.

O especialista norte-americano reconhece que, em relação à capacidade das organizações multilaterais prevenirem conflitos, é "difícil ser otimista", nesta fase. 

"As instituições multilaterais não estão exatamente na moda na política americana no momento, e não apenas nos Estados Unidos", ironiza Lesser.  

E, adianta, "a administração [do Presidente norte-americano, Joe] Biden está mais inclinada nessa direção do que as alternativas que se podem imaginar" e que irão a votos nas presidenciais de 05 de novembro, que opõem a a atual vice-presidente Kamala Harris ao ex-Presidente Donald Trump.

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