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Médio Oriente: O que se pode seguir à morte do líder do Hezbollah?

A morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, confirmada no sábado, é um golpe desmoralizador para o grupo que liderou durante 32 anos, marcando um ponto de inflexão significativo para o Líbano e a região.

Médio Oriente: O que se pode seguir à morte do líder do Hezbollah?
Notícias ao Minuto

29/09/24 11:18 ‧ Há 4 Horas por Lusa

Mundo Médio Oriente

Nasrallah, 64 anos, chefiava a força paramilitar mais poderosa do mundo - considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos da América (EUA) - que agora fica sem um sucessor claro num momento crítico.

 

Resta saber se a sua morte desencadeará uma guerra total entre as duas partes, que poderá envolver o Irão e os EUA.

Eis a opinião de vários analistas sobre o que poderá acontecer, num trabalho da agência norte-americana AP:

+++ Golpe fatal? +++

O assassinato de Nasrallah é um duro golpe para o grupo, mas não um golpe fatal. Ainda assim, os analistas dizem que o Hezbollah vai precisar de algum tempo para absorver o choque e recuperar.

"É um revés significativo para o Hezbollah, não só devido ao papel fundamental que desempenhava na estratégia do Hezbollah, mas também porque a sua eliminação revela a extensão da vulnerabilidade do grupo face a Israel", afirmou Lina Khatib, membro associada da Chatham House, um grupo de reflexão sobre assuntos internacionais.

"Isto abalará a confiança dos aliados do Hezbollah apoiados pelo Irão em todo o mundo árabe, desde os Huthis no Iémen até às Forças de Mobilização Popular no Iraque, bem como o próprio Irão, provocando uma mudança tectónica na rede de influência do Irão no Médio Oriente", acrescentou.

Não é a primeira vez que Israel mata um dirigente do Hezbollah. Nasrallah substituiu Abbas Mousawi, que foi morto por um ataque de helicóptero israelita em 1992.

Mas o Hezbollah atual é muito diferente do grupo desorganizado da década de 1990.

Nos últimos anos, Nasrallah liderava um grupo semelhante a um exército, que se calcula ter dezenas de milhares de combatentes e um arsenal sofisticado capaz de chegar a qualquer ponto dentro de Israel.

Tornou-se a parte principal de um grupo de fações e governos apoiados pelo Irão do autodenominado "Eixo da Resistência".

"O Hezbollah não recuará após o assassinato do seu líder, pois terá de mostrar firmeza face a Israel se quiser manter a credibilidade como o mais forte ator da 'resistência' na região", disse Khatib.

+++ O dilema do Irão +++

Nas primeiras declarações após a morte de Nasrallah, o líder supremo do Irão não deu qualquer indicação sobre a forma como Teerão irá reagir.

Numa declaração vaga, Ali Khamenei disse que "todas as forças de resistência regionais" apoiam e estão ao lado do Hezbollah, mas não entrou em pormenores.

O Irão é o principal apoiante do Hezbollah e de outros grupos militantes anti-israelitas na região, mas tem evitado entrar em conflito direto com Israel devido a questões internas.

No entanto, Teerão poderá ter de reagir para manter a credibilidade junto dos parceiros no eixo.

"Neste momento, o Irão encontra-se num dilema político", afirmou Firas Maksad, do Instituto do Médio Oriente.

Por um lado, quer evitar um confronto direto e total, dada a preferência de longa data pela guerra assimétrica e por procuração.

"Mas, por outro lado, a falta de uma resposta digna, dada a magnitude do acontecimento, apenas encorajará Israel a ultrapassar as linhas vermelhas do Irão", afirmou.

A ausência de resposta envia também um sinal de fraqueza aos parceiros regionais.

Qualquer envolvimento direto do Irão arrisca-se a arrastar o principal aliado de Israel, os EUA, a pouco mais de um mês das eleições norte-americanas e numa altura em que Teerão manifestou interesse em renovar as negociações com Washington sobre o seu programa nuclear.

Maksad disse que um cenário possível é uma resposta coordenada de todo o eixo. Se isso será acompanhado de uma resposta direta do próprio Irão é uma questão em aberto.

+++ Quem sucederá a Nasrallah? +++

Não há ninguém tão influente e respeitado entre os restantes líderes do grupo como Nasrallah.

O homem amplamente considerado como seu herdeiro é Hashem Safieddine, um primo de Nasrallah que supervisiona os assuntos políticos do grupo.

Não se sabe se ele sobreviveu ao ataque de sexta-feira, e a declaração do Hezbollah anunciando a morte de Nasrallah na sexta-feira não fez menção a um sucessor.

O conselho do grupo terá de se reunir nos próximos dias ou semanas para escolher a nova direção.

O jornalista e escritor libanês Maher Abi Nader disse que Safieddine ou Nabil Kaouk, um membro do conselho executivo do grupo, são os prováveis sucessores.

Quem substituir Nasrallah terá de enfrentar uma força profundamente enfraquecida, confrontada com uma raiva e frustração crescentes na frente interna.

Em pouco mais de 10 dias, o grupo apoiado pelo Irão foi atingido por uma série de ataques devastadores que desferiram um rude golpe na sua estrutura militar e expuseram falhas profundas dos serviços secretos.

Explosivos escondidos nos 'pagers' e 'walkie-talkies' do grupo mataram dezenas de pessoas e feriram milhares, muitos dos quais membros do Hezbollah.

Israel também lançou mísseis sobre áreas residenciais onde o grupo tem uma forte presença, matando centenas e deslocando dezenas de milhares de pessoas.

Nasrallah era considerado pelos apoiantes como um líder carismático e astuto.

Apesar de ser uma figura polémica, conseguiu transformar o Hezbollah num importante ator político no Líbano e numa das principais forças armadas da região.

Tinha um enorme poder sobre o grupo e a comunidade xiita do país.

Orna Mizrahi, investigadora principal do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, sediado em Telavive, observou que Nasrallah era por vezes uma "voz da razão", interessada em envolver Israel numa guerra de desgaste, impedindo o Hezbollah de utilizar toda a força contra o inimigo.

Preencher esse lugar será um ato difícil, dizem os analistas.

+++ Tensões crescentes no Líbano +++

Qualquer novo líder do Hezbollah terá também de enfrentar o ressentimento e a frustração crescentes de uma parte significativa da população libanesa.

Durante anos, dizem os críticos, o Hezbollah privou o Líbano da sua soberania, comportando-se como um Estado dentro de um Estado e tomando decisões unilaterais em matéria de guerra e de paz.

Muitos cristãos e sunitas, bem como xiitas, opõem-se ao que consideram ser a decisão unilateral de Nasrallah de atacar Israel para apoiar o Hamas contra a ofensiva israelita em Gaza, desencadeada há 11 meses pelo ataque do aliado palestiniano em solo israelita.

As tensões são extremamente elevadas no pequeno Líbano, que já se está a afogar sob a força de um colapso económico e de várias outras crises.

O país está na bancarrota e há dois anos que não tem presidente nem governo a funcionar. No vazio, as tensões sectárias e as frustrações no interior do país podem transformar-se em violência armada.

A diretora do Centro Carnegie para o Médio Oriente, sediado em Beirute, Maha Yahya, disse que o Hezbollah tem agora de enfrentar tudo isto enquanto luta para se reagrupar.

"E terá de ser mais complacente com os outros partidos políticos e comunidades do Líbano", defendeu Yahya.

Leia Também: Da preocupação à solidariedade. Mundo reage à morte do chefe do Hezbollah

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