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Bernardo só pede emprego ao futuro presidente de Moçambique

O rosto cansado e as mãos calejadas revelam em Bernardo o sofrimento comum de jovens que dependem da rua para o sustento no centro de Moçambique e, às portas das eleições moçambicanas, só pede emprego ao futuro Presidente.

Bernardo só pede emprego ao futuro presidente de Moçambique
Notícias ao Minuto

07/10/24 06:09 ‧ Há 4 Horas por Lusa

Mundo Moçambique

"Tenho um certificado da 12.º classe, mas emprego não vejo. Por isso, do momento, estou aqui na praça, com a minha `tchova´ [carrinho de mão para transportar carga]", explica à Lusa Bernardo António, 29 anos, ao lado de outros jovens que se dedicam ao negócio de transporte de carga na sede de Vanduzi, a 34 quilómetros de Chimoio, a capital provincial de Manica, no centro de Moçambique.

 

Sob um sol escaldante, no comando do seu carinho de mão, vazio, Bernardo procura o primeiro cliente do dia no meio de dezenas de outros jovens que prestam diversos serviços para aproveitar o movimento da estrada que "rasga" Vanduzi ao meio, em direção a Tete, província vizinha de Manica.

"Não há nada hoje meu `boss´", comenta o jovem, visivelmente desesperado, já que a próxima refeição depende dos 50 meticais (70 cêntimos de euro) que, em média, leva para casa todos os dias.

"Eu até estudei, falo francês e inglês. Se estou assim hoje, é porque não tenho emprego. Por isso estou aqui na praça", frisa o jovem moçambicano, que se dedica a este negócio há cinco anos e que chega a percorrer seis quilómetros por dia a transportar carga para os arredores da sede.

Como Bernardo António, em Vanduzi ou qualquer outro ponto de Moçambique, este é um desafio de milhares de jovens, com os dados oficiais a revelarem que um terço dos cerca de 9,4 milhões de jovens moçambicanos (num universo de 32 milhões de habitantes) não têm emprego, escolaridade ou formação profissional.

"Ganhar a vida na rua custa", admite à Lusa Rosário Manuel, 27 anos, um cobrador de transporte de passageiros que, aos berros, tenta convencer as pessoas a entrarem no seu veículo, no meio de uma multidão visivelmente desinteressada.

Às portas de um novo ciclo de governação, com eleições gerais esta quarta-feira, que vão definir um novo Presidente da República (que lidera o executivo), os desafios entre a juventude de Vanduzi continuam os mesmos: oportunidades e emprego, até para quem vai votar pela primeira vez no escrutínio presidencial, como é o caso de Augusto Jorge, mototaxista de 20 anos.

"O trabalho que eu faço é um risco. Não é só um risco por causa dos camiões nesta estrada, mas também por causa dos ladrões que nos roubam as motorizadas e nos matam. Precisamos de emprego (...) Uns até estão a roubar e outros pedem uma mota [a um patrão] e entram na praça e outros pegam no 'tchova'. Isso tudo porque não temos emprego", explica o jovem.

O negócio de Augusto Jorge é comum ao de tantos outros jovens do centro e norte de Moçambique, ao serviço de pequenos empresários, que transportam pessoas nas motocicletas, carregando passageiros em vias agitadas e esquivando-se das autoridades, tendo em conta que a maioria tem quase sempre um documento em falta, além de deixarem sempre os capacetes em casa.

Entre os mototaxistas de Vanduzi, Augusto Jorge não é o único que sonha com políticas que reforcem a empregabilidade por parte do próximo homem que vai ocupar a Ponta Vermelha (residência oficial do Presidente da República, em Maputo).

"Também estudei. Quando terminei, fiquei por três anos à procura de emprego e não consegui nada. Caía sempre na fase das entrevistas de emprego. Hoje estou aqui, como mototaxista para sobreviver (...) Para quem ganhar as eleições, nós queremos empresas para trabalhar", frisa Ismael Mussa, 23 anos.

Moçambique realiza em 09 de outubro as sétimas eleições presidenciais, às quais já não concorre o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos, em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

Mais de 17 milhões de eleitores estão inscritos para votar, incluindo 333.839 recenseados no estrangeiro, segundo dados da Comissão Nacional de Eleições.

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