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Em Maputo tenta-se trabalhar entre a destruição dos confrontos

Cedo pela manhã, Ana da Conceição, 40 anos, vende fruta numa banca improvisada no centro de Maputo, ainda envolto em fumo, para onde voltou depois ter fugido quinta-feira, à pressa, dos confrontos entre manifestantes pró-Venâncio Mondlane e a polícia.

Em Maputo tenta-se trabalhar entre a destruição dos confrontos
Notícias ao Minuto

25/10/24 10:21 ‧ Há 4 Horas por Lusa

Mundo Maputo

"Tenho três filhos, estou aqui para conseguir comprar pão para os meus filhos", contava, por trás da banca colocada junto à avenida Acordos de Lusaka, repleta de bananas, mas com poucos clientes, quando Maputo inicia, praticamente deserta o segundo dia de greve e manifestações convocadas por Venâncio Mondlane.

 

"Quando começar a guerra vamos evacuar. Estamos a tentar ganhar o pão (...) Ontem foi mal, foi mal. A partir das 16:00 começaram a evacuar, a lançar gás", relatou, sobre o momento em que teve de fechar a banca, na quinta-feira, quando os manifestantes começaram, ali, a queimar pneus, equipamento urbano e a atirar pedras à polícia, que carregou, lançando gás lacrimogéneo numa tentativa de dispersar.

Pela manhã, o pouco trânsito na capital já circulava naquela avenida, mas com os automobilistas a terem de contornar pedras, paus, restos de pneus queimados e tudo o que sobrou dos confrontos da noite anterior.

"Tenho muito medo", confessa Ana da Conceição, que voltou esta manhã ao local de venda com um dos filhos, mas com pouca fruta, praticamente só bananas, para poder fugir rapidamente, caso os confrontos ali regressem.

Também por isso, diz só ter um pensamento: "Precisamos desse acordo, que eles [os partidos] se entendam. O Venâncio que fique no canto dele, esperar a resposta [dos recursos aos resultados eleitorais]. Porque assim está a matar muita gente. Fome, guerra, muita gente que está a morrer. Queremos que o problema se resolva para nós termos paz".

Algo receoso, em dia de greve e manifestações, o terceiro desta semana que paralisa Maputo, Gerson Antanale, produtor musical de 20 anos, saiu do bairro, na Mafalala, para tentar trabalhar, entre os destroços nas ruas e o cheiro ainda a queimado e algum fumo que saí dos destroços.

Trabalhar porque, diz, "não tem como", apesar do "medo".

"Era melhor eles entrarem em acordo para acabar esta confusão que estamos a ver. Porque estamos bem mal", desabafa, nervoso.

Durante a noite, além das fogueiras, pneus a arder e pedras arremessadas por todo o lado, Gerson ouviu os tiros e viu manifestantes a "estragar postes de energia".

"Foi uma noite muito difícil", assumia Gerson, acrescentando: "Vou tentar trabalhar, mas tenho medo, na verdade".

Enquanto durante quatro horas, na tarde de quinta-feira, a Comissão Nacional de Eleições anunciava os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, com a Frelimo a eleger Daniel Chapo Presidente da República e a reforçar a maioria absoluta parlamentar, manifestantes pró-Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados, saíam às ruas de Maputo, queimando pneus e cortando avenidas, o que se prolongou por toda a noite, com a forte resposta da polícia, com blindados, equipas cinotécnicas, lançamento de gás lacrimogéneo e tiros para o ar.

A Avenida Joaquim Chissano, local do duplo homicídio da passada sexta-feira de dois apoiantes de Venâncio Mondlane, tornou-se esta semana palco principal de confrontos de manifestantes e carga policial, o que se repetiu na última noite.

Ao início da manhã era ali visível o rastro de destruição das últimas horas, e o que sobrou dos pneus incendiados, que Helton Tiago, técnico de refrigeração de 27 anos, tentava contornar para ir trabalhar, a pé, já que quase não circulam transportes.

"Fico muito triste, mas também fico à espera que as coisas mudem", assumia.

De preocupação estampada no rosto, vai trabalhar sem saber como será o regresso, mais logo, a casa: "Esta greve está a fazer coisas que são negativas. Só espero que os partidos se entendam porque estamos a fazer mal. Esta greve não está a beneficiar nada".

Ainda assim, fez-se à estrada.

"Sim, vou trabalhar. Sem trabalhar não há nada para se alimentar", assumia, para logo depois insistir, recordando as últimas horas: "Uma noite muito difícil. Só espero que haja um diálogo entre eles".

Comércio e instituições encerrados no centro da cidade contrastam com algum movimento, sobretudo no mercado informal, nos subúrbios, num dia em que muitos ainda veem com apreensão nas ruas.

Leia Também: CSCS de Moçambique condena "violência policial" contra jornalistas

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