Commonwealth: "Chegou o momento" de discutir reparação da escravatura
Os membros da Commonwealth acordaram hoje, em Samoa, que "chegou o momento" de discutir uma "justiça reparadora" para o passado colonial britânico, numa cimeira sobre o legado da escravatura e do império, com a presença do rei Carlos III.
© Stefan Rousseau/Pool via REUTERS
Mundo Commonwealth
Os 56 países da Commonwealth realizaram um debate longo e tenso antes de chegarem a um compromisso sobre um dos aspetos mais sensíveis do seu passado comum.
Numa declaração final, citada pela AFP, os países membros afirmam que tomaram nota dos apelos a uma "justiça reparadora" para o "odioso" comércio transatlântico de escravos e concordaram que "chegou o momento de uma conversa significativa, sincera e respeitosa" sobre o assunto.
A Commonwealth era inicialmente constituída pelo Reino Unido e antigas colónias, mas mais tarde alargou-se para incluir países como o Togo e o Gabão, antigas colónias francesas.
Muitas nações africanas, das Caraíbas e do Pacífico querem que o Reino Unido e outras potências europeias paguem uma compensação financeira pela escravatura ou, pelo menos, façam reparações políticas.
Segundo os historiadores, estima-se que, ao longo de quatro séculos, cerca de 10 a 15 milhões de escravos foram transportados à força de África para as Américas, embora o número exato de pessoas que foram escravizadas permaneça desconhecido.
Durante a cimeira, Londres evitou aprovar explicitamente as negociações, ao mesmo tempo que tentava apresentar a sua própria posição sobre a questão.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, rejeitou publicamente os pedidos de reparação e os seus assessores excluíram a possibilidade de um pedido de desculpas durante a cimeira.
"Tenho de ser muito claro: nos dois dias que estivemos aqui, nenhuma das discussões foi sobre dinheiro", disse o primeiro-ministro britânico após a reunião.
"A nossa posição é muito, muito clara sobre este assunto", disse, sublinhando que as negociações tinham sido "muito positivas".
A família real britânica, que beneficiou do comércio de escravos durante séculos, foi convidada a pedir desculpa, mas o monarca absteve-se de o fazer na sexta-feira, apelando aos participantes na cimeira para que "rejeitem a linguagem da divisão".
"Nenhum de nós pode mudar o passado. Mas podemos comprometer-nos, de todo o coração, a aprender com ele e a encontrar formas criativas de corrigir as desigualdades que persistem", afirmou o Rei, que regressou a Londres antes da adoção da declaração final da cimeira.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro das Bahamas, Philip Davis, disse à AFP que era altura de a Commonwealth exigir "justiça" pelo período brutal de escravatura sofrido por muitos países do grupo.
"Os horrores da escravatura deixaram uma ferida profunda e geracional nas nossas comunidades" e "a nossa história está profundamente entrelaçada, o que implica a responsabilidade de encarar o passado com honestidade', afirmou.
Philip Davis insistiu que "os pedidos de reparação não se limitam a uma indemnização financeira", mas têm de "reconhecer o impacto duradouro de séculos de exploração e de garantir que o legado da escravatura é tratado com honestidade e integridade".
Joshua Setipa, do Lesoto, que foi um dos três candidatos ao cargo de secretário-geral da Commonwealth, disse à AFP que as reparações podem incluir formas alternativas de pagamento, como o financiamento da luta contra as alterações climáticas.
Após a cimeira, a Commonwealth anunciou a nomeação da ministra dos Negócios Estrangeiros do Gana, Shirley Ayorkor Botchwey, como secretária-geral.
Os líderes da Commonwealth também chegaram a acordo sobre a questão das alterações climáticas, adoptando uma "Declaração dos Oceanos" que reconhece as fronteiras marítimas nacionais, mesmo quando o nível do mar continua a subir.
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