Kathy não chegou a presidente, Cee sonha que filha possa suceder a Kamala
Kamala Harris representa para muitas mulheres afroamericanas a possibilidade futura de a Presidente dos Estados Unidos poder ser uma das jovens que corriam na terça-feira em direção a um evento de mobilização cívica em Atlanta.
© Sarah Rice/Bloomberg via Getty Images
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Ao evento da organização cívica When We All Vote ("Quando Todos Votamos"), encabeçada pela antiga primeira-dama Michelle Obama, acorreram centenas de alunos de liceus e universidades de toda a Georgia - como a Morehouse, Spelman, Savannah State - parte da rede de instituições de ensino superior historicamente afroamericanas. O foco era a mobilização para as eleições, exatamente uma semana antes da ida às urnas.
Com as eleições a aproximarem-se, e múltiplas sondagens a darem um empate técnico entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump, foram sobretudo apoiantes da atual vice-presidente a marcarem presença no evento não partidário, caso de Cee, de 55 anos, para quem é o futuro das mulheres afroamericanas que vai a votos a 05 de novembro.
"Seria fantástico [Kamala] quebrar essa barreira", responde Cee quando questionada sobre a importância de os Estados Unidos elegerem pela primeira vez uma mulher Presidente.
Confessando ter tido "excesso de confiança" na vitória de Hillary Clinton nas eleições de 2016, ganhas por Donald Trump, prefere o comedimento a expectativas exageradas para a eleição de 05 de novembro. Mais do que estar em causa quem estará na Casa Branca nos próximos 4 anos, decide-se quantas mulheres afroamericanas poderão lá chegar nas décadas que virão.
"Vejo isto como uma oportunidade para a minha filha poder sonhar ser Presidente. E é uma realidade e possibilidade", disse à Lusa, envergando uma t-shirt com a palavra "Vote" em letras garrafais.
"Espero que ela [Kamala] ganhe esta eleição e leve este país a voltar um lugar de moralidade e civilidade", afirmou Cee.
Centenas das jovens universitárias usavam t-shirts dizendo "Black Voters Matter" ("Os Eleitores Negros Contam"), numa referência ao movimento dedicado ao combate da violência policial contra afroamericanos.
Entre muitas t-shirts de Kamala Harris, uma dizia "Votar é o meu trabalho de negro", em referência à polémica afirmação de Donald Trump na campanha eleitoral de que os imigrantes estão a ficar "com os trabalhos dos negros".
As mesmas sondagens que dão um apoio muito elevado entre mulheres afroamericanas a Kamala Harris mostram que os homens deste grupo eleitoral têm vindo a recuar no seu apoio ao Partido Democrata e em particular à atual candidata presidencial. Questionada sobre este óbice, Cee zanga-se: "eles são estúpidos, ok?".
"Neste país, o racismo é real e o sexismo também, infelizmente. E, além do sexismo, não há razão justificável para os homens não voltarem nela. Espero que eles ponham isso de lado, vejam o que está em causa e votem na candidata que mais pode ajudar este país", reitera.
Sensivelmente à mesma hora a que Kamala Harris fazia, em Washington DC, um discurso emblemático, no mesmo local onde o seu adversário incitou em 2021 o assalto ao Capitólio, em Atlanta formavam-se longas filas para ver estrelas musicais e Michelle Obama. Entre os participantes que entravam no evento iam passando de mão em mão autocolantes da campanha Harris, para quem quisesse.
No interior do centro de convenções de College Park, uma sucessão de estrelas musicais afroamericanas, como Victoria Monet e Shonda Rhimes, foram marcando ritmos sincopados de dança, alternados com apelos à mobilização ao voto e registo eleitoral, até à subida ao palco da estrela da noite, Michelle Obama, recebida com histeria.
Depois de na véspera Trump a ter chamado "assanhada" por o ter criticado, Obama deixou de lado questões e campanha - prometendo até "jamais, jamais ser uma política", para protestos de alguns entre a multidão. Insistiu acaloradamente no apelo ao voto, a par da necessidade de "parar a espiral de desilusão e apatia" entre eleitores.
"É altura de mostrar às pessoas que duas coisas podem ser simultaneamente verdade: que é possível sentir indignação com a lentidão do progresso e estar comprometido pessoalmente com esse progresso", frisou a antiga primeira-dama.
"Já que vocês têm a honra de viver no grande estado da Georgia, um 'swing state', podem decidir quem se senta na Sala Oval", da Casa Branca, salientou Michelle Obama, cujo marido Barack tem feito campanha por Kamala Harris nas últimas semanas.
Kim Gartrell, 57 anos, tem mobilizado a sua família e amigos a votar. Veio, disse à Lusa, sobretudo para ouvir Michelle Obama e "continuar a estar de volta de outras pessoas que queiram a mudança".
"Estou a sentir-me confiante, cada vez mais pessoas estão a votar. Encorajo-as constantemente e a resposta é muito boa para ela [Kamala]", afirma. Se Trump ganhar, admite mudar de país.
Ao lado, a amiga Kathy complementa, perante o cenário de vitória do ex-presidente: "Deus nos ajude a todos. É tudo o que me ocorre dizer, Deus nos ajude a todos". Lembra-se de citar Maya Angelou, escritora norte-americana, e a amiga Kim junta a sua voz: "quando as pessoas mostram quem são, acredita nelas".
"Se não acreditam nele [Trump] até agora, não sei o que será preciso", afirma Kathy.
Emociona-se perante o cenário oposto, de uma mulher presidente, o que "abriria a porta a tantas mulheres, às pequenas miúdas verem que também o podem fazer". E recorda que há mais de 40 anos, ela própria disse na escola disse que seria a primeira mulher Presidente.
"Deixarei a Kamala fazê-lo. Não será a Kathy, mas será a Kamala", afiança, entre risos.
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