MP russo pede pena de seis anos para pediatra acusada de criticar o exército
O Ministério Público russo exigiu hoje uma pena de seis anos de prisão para uma pediatra de Moscovo, acusada pela mãe de um dos seus pacientes de criticar a ofensiva russa na Ucrânia, num contexto de repressão no país.
© REUTERS/Maksim Levin TPX IMAGES OF THE DAY
Mundo Ministério Público
O procurador pediu à juíza Olga Fedina para considerar Nadejda Bouïanova "culpada" e para lhe impor "uma pena de seis anos de prisão numa colónia penal".
O veredicto de Bouïanova será proferido na terça-feira.
"Não reconheço a minha culpa, estou inocente", declarou a médica de 68 anos, em lágrimas, antes do início da audiência, depois de lhe terem sido retiradas as algemas.
"Nada disto é verdade", afirmou, a partir do seu camarote envidraçado na sala de audiências, apoiada por uma dezena de pessoas presentes na sala, segundo a agência francesa AFP.
O caso ilustra a repressão contra os críticos do ataque em grande escala do exército russo à Ucrânia, decretado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, em fevereiro de 2022.
As detenções por espionagem, traição, sabotagem, extremismo ou simples críticas ao exército têm vindo a multiplicar-se, fazendo com que os acusados, muitas vezes vítimas de denúncias, enfrentem penas de prisão muito altas.
Para Nadejda Bouïanova, o processo começou a 31 de janeiro, quando a companheira de um soldado desaparecido na frente de batalha, Anastassia Akinchina, de 34 anos, a denunciou.
A mãe de um menino de 07 anos tratado por Bouïanova acusou a pediatra de lhe ter dito, numa conversa privada, que o seu marido, desaparecido na Ucrânia, "era um alvo legítimo" das forças armadas ucranianas e que "a Rússia era um agressor e atacava os civis ucranianos".
Nadejda Bouïanova refutou a acusação, descrevendo Akinchina como "uma pessoa de carácter instável".
O advogado de Bouïanova, Leonid Soloviev, defendeu que "as mentiras não devem ser encorajadas" e apelou à absolvição da sua cliente.
Em fevereiro, a pediatra foi acusada e detida posteriormente em abril por "divulgar informações falsas" sobre o exército russo, alegadamente motivadas por "ódio étnico".
Nadejda Bouïanova vive na Rússia há 30 anos, mas nasceu em Lviv, uma cidade do oeste da Ucrânia considerada por muitos russos como particularmente hostil.
"Faz tudo sentido. É por isso que ela odeia a Rússia e os combatentes russos. Ela é de Lviv", exclamou Anastassia Akinchina numa audição no final de maio.
"É doloroso ler o que está escrito na acusação. Que ódio é que eu posso sentir? Tenho laços com três povos eslavos: a Rússia, a Bielorrússia e a Ucrânia", defendeu-se novamente hoje, antes de irromper em lágrimas.
A pediatra enfrentou ainda o testemunho da criança de 07 anos, que, segundo a defesa, não estava presente durante a discussão entre as duas mulheres.
"A médica disse à mãe que o pai era um alvo legítimo da Ucrânia, que a Rússia era um país agressor e que a Rússia estava a matar civis na Ucrânia", disse a criança, no seu depoimento lido numa audiência em junho e citado pelo meio de comunicação russo Mediazona, que cobre as repressões.
"Estas são frases de adultos e são muito assustadoras. Duvido que tenham sido as palavras dele", respondeu Bouïanova.
Os colegas da pediatra lançaram uma petição de apoio 'online', que já recolheu mais de 6.000 assinaturas.
Apesar de ter sido despedida logo após as acusações, um tribunal de Moscovo anulou o despedimento, mas tal não teve qualquer impacto no processo penal.
"Não sou uma política. Sou médica", declarou Bouïanova, pedindo ao tribunal que tenha em conta o seu estado de saúde e o seu historial profissional impecável.
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