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"Infertilidade continua a ser um tema tabu, ainda há vergonha e estigma"

O reputado ginecologista e obstetra Dr. Francisco Carmona, especialista em endometriose, acaba de lançar "um guia para conhecer e cuidar da saúde reprodutiva", chamado 'Fertilidade'. Nele, além de explicar as causas e os efeitos dos problemas de fertilidade, o médico também partilha testemunhos e ferramentas para ajudar quem sofre destas 'dores'.

"Infertilidade continua a ser um tema tabu, ainda há vergonha e estigma"
Notícias ao Minuto

08:21 - 02/08/24 por Natacha Nunes Costa

Lifestyle Fertilidade

Em Portugal, os problemas de fertilidade afetam mais de 300 mil pessoas. Apesar disso, ainda é um tema muito silenciado e estigmatizado, o que leva a que se propague muita desinformação sobre o assunto e que o sofrimento de quem atravessa estes problemas se multiplique.

 

Para ajudar a combater a desinformação sobre o assunto, o reputado ginecologista e obstetra Dr. Francisco Carmona, especialista em endometriose, decidiu lançar "um guia para conhecer e cuidar da saúde reprodutiva", chamado 'Fertilidade'.

Além de ter várias ilustrações que ajudam a compreender as explicações do médico, que é também diretor do serviço de Ginecologia do Hospital Clínic de Barcelona, Espanha, o livro, lançado no passado mês de julho, traz "testemunhos e ferramentas para ajudar quem se debate com problemas de fertilidade a lidar, no dia a dia, com esta situação tão complexa e delicada".

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o especialista confirma que "a infertilidade continua a ser um tema tabu em muitas sociedades, incluindo as da Península Ibérica" e que, "apesar da crescente consciencialização e dos avanços médicos, discutir problemas de fertilidade ainda pode estar associado à vergonha e ao estigma".

Algo que pode agravar ainda mais devido às "expetativas culturais e sociais sobre a família e a paternidade, fazendo com que os doentes e casais hesitem em partilhar abertamente as suas lutas".

Esse tabu, explica o profissional, "pode levar a sentimentos de isolamento e apoio inadequado", enfatizando a importância de recursos como o livro 'Fertilidade' para "fornecer orientação, partilhar experiências e oferecer apoio emocional e prático".

Factores de risco e possíveis causas

Em Portugal, tal como em Espanha, lembra Francisco Carmona, os problemas de fertilidade mais comuns são os "distúrbios ovulatórios", como é o caso da síndrome do ovário poliquístico (SOP), a infertilidade masculina (baixa contagem ou pouca mobilidade), a obstrução ou danos nas trompas, a endometriose e a infertilidade "inexplicável, onde nenhuma causa clara é identificada".

Já as causas que podem levar a estes problemas são "diversas" como esclarece o especialista. A infertilidade pode estar relacionada com "desequilíbrios hormonais que afetam a ovulação nas mulheres ou a produção de esperma nos homens" ou com "problemas estruturais", como as trompas de falópio bloqueadas ou anomalias uterinas.

Pode ainda ser motivada por "fatores de estilo de vida, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, alimentação inadequada e obesidade", com condições médicas como a endometriose, SOP e infeções sexualmente transmissíveis (IST) e com fatores "ambientais como a exposição a certos produtos químicos e poluentes".

Declínio da fertilidade a partir dos 35 anos

Hoje em dia, há ainda um fator que faz com que o número de pessoas que não conseguem ter filhos seja ainda maior: a idade. As pessoas optam por ter filhos cada vez mais tarde, por diferentes razões, entre as quais monetárias, mas o corpo acompanha esta compasso de espera. A partir dos 35 anos, principalmente as mulheres, sofrem de um "declínio da fertilidade".

Não é por acaso que um dos fatores de risco de quem quer engravidar seja, precisamente, a idade, especialmente nas mulheres com mais de 35 anos e nos homens com mais de 40.

"Altos níveis de stress" também afetam fertilidade

Notícias ao Minuto Livro 'Fertilidade'© Bertrand  

O que também pode contribuir para a infertilidade, além dos aspetos que já falamos anteriormente, explica Francisco Carmona, é estar "significativamente abaixo do peso", condições médicas como a diabetes, doenças autoimunes e problemas de tiróide, "história familiar de problemas de fertilidade", problemas de saúde mental e, algo também muito comum hoje em dia, "altos níveis de stress".

No livro 'Fertilidade', o médico fala ainda do impacto emocional que estes problemas têm nos pacientes, que pode ser "profundo e multifacetado", afetando os "casais e as famílias de diversas formas".

Culpa, raiva e depressão

Entre os pacientes, o obstetra relata que o que mais regista são "sentimentos de inadequação, culpa, raiva e depressão". "O stress dos tratamentos e a incerteza sobre o futuro também podem causar ansiedade", afirma ao Notícias ao Minuto Francisco Carmona.

Já entre os casais, os problema de infertilidade "podem prejudicar os relacionamentos, causando falhas na comunicação, disfunção sexual e distanciamento emocional. A pressão para conceber pode causar stress e tensão significativos entre os parceiros".

Por sua vez, as famílias também são afetadas. "Podem sentir tristeza, frustração e desamparo nas suas funções de apoio" e, devido ao estigma social ou pressão da família alargada o que aumenta ainda mais "a carga emocional" já por si bastante grande de quem sofre estes problemas.

Por isso, no livro 'Fertilidade', Francisco Carmona dá diversas ferramentas para ajudar a combater, também, estas 'dores'.

Leia Também: Estudo. Medicamento pode prolongar fertilidade das mulheres em cinco anos

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