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"Bizarro" e "caça às bruxas". As reações dos visados pelo Habeas Corpus

Grupo extremista criou uma lista de figuras que acusou de serem 'terroristas', nas quais se inclui o humorista Diogo Faro e a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.

"Bizarro" e "caça às bruxas". As reações dos visados pelo Habeas Corpus

O grupo extremista Habeas Corpus, liderado pelo ex-juiz Rui da Fonseca e Castro, criou, esta semana, aquilo a que chamou uma lista de 'terroristas' LGBTQIA+, incluindo vários nomes do panorama nacional, acusando-os de serem "altamente financiados com o dinheiro dos impostos dos portugueses, com a máquina de propaganda socialista a seu serviço".

 

Entre os visados estão o humorista Diogo Faro, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, as psicólogas Ana Silva e Tânia Graça, as escritoras Mariana Jones e Lúcia Vicente e o presidente da Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo, Cláudio Lotra, que descreveu o Habeas Corpus como uma "seita" e admitiu apresentar queixa-crime, numa publicação no Facebook.

"Bizarro" e "preocupante", na visão de Diogo Faro

Ao Notícias ao Minuto, Diogo Faro disse tratar-se de algo "bizarro" e "preocupante".

"Estou habituado a níveis de ódio contra mim, mas isto não é só sobre mim, é todo um conjunto de pessoas e sobre toda a comunidade LGBT. É preocupante esta escalada da violência, porque isto é claramente um incitamento a que as pessoas desta lista sejam um alvo, dizendo que somos 'terroristas' e as coisas horríveis que têm dito", afirmou.

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'Habeas Corpus' cria lista de "terroristas LGBT". "Incentivo à violência"

Mariana Mortágua, Diogo Faro, Mariana Jones, Tânia Graça e Cláudio Lotra são alguns dos visados.

Notícias ao Minuto | 12:21 - 07/08/2024

Faro admitiu que tal "gera um sentimento grande de insegurança, de estranheza sobre se isto é uma democracia normal onde pessoas de extrema-direita podem andar assim a boicotar lançamentos de livros".

Tem de ser parado antes que aconteça algo ainda mais grave

Referia-se o humorista à invasão da apresentação do livro 'Mamã, quero ser um menino', da escritora Ana Rita Almeida, no sábado à tarde, protagonizada por este grupo.

"Tem de ser parado antes que aconteça algo ainda mais grave", disse Diogo Faro, admitindo que já está "em contacto" com a sua equipa legal para analisar possíveis repercussões. "Há pessoas na lista que são bastante mais desprotegidas, que são desconhecidas, que não têm muita visibilidade e que agora estão a começar a ter pelas piores razões, porque estão a ser insultadas de todas as maneiras", concluiu.

Mariana Jones fala em "caça às bruxas"

Já a escritora Mariana Jones disse ao Notícias ao Minuto que, quando soube que tinha sido visada, novamente, pelo grupo, sentiu que "recuava a tempos da caça às bruxas".

"Mas não. Isto está a acontecer agora, em Portugal, no nosso Portugal de brandos costumes e à beira-mar plantado", reiterou, admitindo que continua a "receber várias ameaças e intimidações".

Entre elas, dá dois exemplos: “Enquanto o teu livro 'O Pedro gosta do Afonso' não sair do mercado, não apresentas mais livros” e "Mariana, deixa as crianças em paz ou nunca mais vais ter paz".

[Espero] que não tenham de acontecer mais boicotes a livros ou eventos, ou alguma situação limite, para que a Justiça atue

"Continuo a ver a minha imagem partilhada como terrorista, pedófila e promotora da homossexualidade", prosseguiu, esperando "que não tenham de acontecer mais boicotes a livros ou eventos, ou alguma situação limite, para que a Justiça atue", bem como que "os muitos, o exército que dizem estar mesmo atrás de nós, não façam silêncio". "Esta liberdade não é só a minha, é a nossa", concluiu.

Ana Rita Almeida admite que invasão de apresentação de livro foi "traumática"

O Habeas Corpus protagonizou um momento polémico no sábado à tarde, quando invadiu a apresentação do livro 'Mamã, quero ser um menino', da escritora Ana Rita Almeida, em Idanha-a-Nova. Dias depois, o nome da autora aparecia na referida lista de 'terroristas' apontados pelo grupo extremista.

Ao Notícias ao Minuto, Ana Rita Almeida expressou "revolta e repúdio" sobre o caso, considerando que "não é aceitável que, na era da informação e do desenvolvimento em que vivemos, os nossos direitos essenciais, como a liberdade de expressão e a segurança individual, estejam em causa e sejam boicotados por estes grupos extremistas".

A situação que vivi no sábado foi traumática para mim e para quem estava presente

"Estes atos violentos só provam que há muito trabalho a fazer e que estes livros fazem falta na nossa sociedade. Se incomodam, é porque o caminho certo está a ser percorrido", acrescentou. Ana Rita Almeida acredita que esta lista "não representa a sociedade", mostrando "solidariedade" com "todos os que nela figuram e expressar o total apoio ao trabalho desenvolvido por eles".

"A situação que vivi no sábado foi traumática para mim e para quem estava presente. Ninguém foi ali para fazer perguntas, foram para perturbar o espaço dos intervenientes, pois qualquer pessoa que tenha o mínimo de educação sabe que há espaço para tudo e momento adequado e também uma forma adequada para isso", lamentou.

Autora de 'Mamã, quero ser um menino!' faz queixa contra Habeas Corpus

Autora de 'Mamã, quero ser um menino!' faz queixa contra Habeas Corpus

A autora do livro 'Mamã, quero ser um menino' avançou hoje que vai apresentar queixa contra elementos da associação Habeas Corpus, após terem invadido uma apresentação no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova, no sábado à tarde.

Lusa | 12:02 - 04/08/2024

Ana Rita Almeida apresentou queixa na Polícia de Segurança Pública (PSP) depois da invasão de sábado e irá avançar com outra "no seguimento" do que aconteceu. "Posso ainda salientar que estas intervenções negativas são altamente superadas pelas posições de apoio. Tenho recebido muito carinho e apoio nos últimos dias", afirmou.

"Em setembro, falei sobre o assunto. [...] Ninguém levou muito a sério", diz Lúcia Vicente

A lista anunciada por este grupo - que se autointitula uma associação de defesa dos direitos humanos - inclui outra escritora, Lúcia Vicente.

Ao Notícias ao Minuto, admitiu não estar surpreendida com a situação, "tendo em conta a perseguição" de que se queixa ter sido alvo, bem como os restantes elementos visados.

"Acima de tudo, estes ataques e críticas dão-me uma maior certeza da importância do meu trabalho e mais força para o continuar a fazer", garantiu citando a antropóloga e educadora norte-americana Johnnetta B. Cole: "Uma educação que te ensina a compreender algumas coisas sobre o mundo apenas faz metade do trabalho. A outra metade deve ensinar-te a fazer algo para tornar o mundo num lugar melhor".

Lúcia Vicente aproveitou para recordar que, em setembro de 2023, quando foi alvo de uma interrupção quando apresentava o seu livro, falou sobre o assunto, "sobre os perigos de censura que aconteceriam" e identificou "quem eram as pessoas que o fizeram e de que movimentos faziam parte".

"Ninguém levou muito a sério o acontecimento, foi desvalorizado, em alguns momentos até foi tratado como algo caricato", acrescentou, afirmando-se feminista "desde muito cedo".

"Esta forma de tentar impor o medo por parte da extrema-direita a quem, ativamente, luta quotidianamente pela liberdade e igualdade de todas as pessoas, não é uma novidade", continuou, considerando que esta "é uma escalada de violência contra quem luta por um mundo mais livre", mas não só "contra a comunidade LGBTQIA+".

"Amanhã serão as pessoas emigrantes, depois as pessoas não católicas, depois as pessoas dos movimentos feministas. Os movimentos de extrema-direita ultraconservadora são contra as liberdades individuais, sejam elas quais forem, e agarram no que pode tocar mais facilmente as pessoas menos
informadas", lamentou.

Para fazer frente às acusações e críticas de que é alvo, Lúcia Vicente deixou uma garantia: "Continuarei a fazer o que sempre fiz. Continuarei a produzir conteúdos que procuram educar as pessoas para uma sociedade diversa, inclusiva e igualitária e a promover as discussões respeitosas e construtivas".

"Continuarei com as minhas oficinas e tertúlias, sempre que me chamarem" e "a questionar as normativas, as imposições, as desigualdades", prometeu, admitindo que, quando faz palestras em escolas, tenta "sempre" chamar a atenção para o dever de "questionar a informação que nos chega, o que lemos na internet, questionar o vídeo que acabamos de ver no Tik Tok".

"Tento sempre passar a mensagem de como é importante informarmo-nos sobre os temas que se cruzam connosco, lermos as várias perspetivas e depois refletirmos sobre o que sentimos quando pensamos nesse assunto, como gostaríamos que o mundo fosse nesse aspeto", concluiu, vincando que vai continuar a "escrever os livros" que acredita "necessários para a educação das crianças e das pessoas adultas e que "promovam uma sociedade melhor e mais igualitária".

Leia Também: Idanha-a-Nova reserva-se direito de fazer queixa contra Habeas Corpus

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