ONU critica Portugal por defender dois Estados sem reconhecer Palestina
A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados apontou hoje o que diz ser a "incoerência" de Portugal e outros países europeus de defender a solução de dois Estados sem reconhecer o Estado da Palestina.
© Thierry Monasse/Getty Images
País Médio Oriente
"Continuamos a falar de uma solução de dois Estados sem reconhecer o Estado da Palestina. Só mostra a incoerência, a inconsistência, a incapacidade de fazer o que se diz", disse Francesca Albanese, numa audição pública na Assembleia da República.
Para Albanese, a questão prioritária neste conflito já nem é o reconhecimento da Palestina, mas sim contribuir para "acabar com o massacre de pessoas em Gaza, e que se está a estender à Cisjordânia".
Numa sessão onde apenas marcou presença a esquerda parlamentar (PS, BE, PCP, Livre e PAN), a relatora da ONU lamentou ser recebida em Portugal, tal como nos restantes países ocidentais, apenas por partidos de esquerda, apelando a que seja incutida a ideia de que esta matéria não pode estar dependente de "partidarismo".
"Pergunto-me o que se passa com as pessoas. Porque é que quando vou a países ocidentais, os únicos deputados que se encontram comigo são de esquerda, onde estão os outros? Peço-vos, realmente, que tentem incutir este sentimento de que não se trata de partidarismo. A vida humana não pode ser considerada sob a bandeira de um ou outro partido. Não há diferença entre a vida israelita e a vida palestiniana", declarou.
Francesca Albanese lembrou ainda as palavras de António Guterres, em outubro do ano passado, quando referiu que os ataques do Hamas "não aconteceram no vácuo", concordando com o secretário-geral da ONU e sublinhando que "há décadas que os palestinianos são vítimas de humilhação, perseguição, 'apartheid', confisco de terras, demolição de casas, medidas punitivas e prisões e decisões arbitrárias".
A relatora da ONU pediu ainda que fosse reconhecido o genocídio do povo palestiniano perpetrado por Israel, defendendo que "há uma vasta jurisprudência que permite determinar que Israel comete genocídio".
Apelou ainda a que fosse lembrado o "passado negro" europeu, no qual "o Holocausto não foi o primeiro, nem o único genocídio" da Europa e que Portugal também "sabe alguma coisa sobre isso".
"Devido ao nosso passado negro, devemos ser capazes de ser diferentes hoje. E também mostrar ao Sul global que não nos podemos prender ao passado. E a Palestina é o teste de hoje", concluiu.
Na sua intervenção no debate geral da 79.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 26 de setembro, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, defendeu ser "imperativo retomar negociações com vista à implementação da solução dos dois Estados -- a única que poderá trazer estabilidade à região".
[Notícia atualizada às 12h30]
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