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Helena Roseta considera que "polícia é para defender, não é para matar"

A arquiteta Helena Roseta considera que a "morte mal contada" de um homem pela polícia na Amadora constitui um "rastilho de revolta e violência" para a população suburbana de Lisboa que se sente excluída e discriminada.

Helena Roseta considera que "polícia é para defender, não é para matar"
Notícias ao Minuto

23/10/24 15:24 ‧ Há 4 Horas por Lusa

País Helena Roseta

"A polícia é para nos defender, não é para nos matar" e "histórias mal contadas são sempre um rastilho de revolta e violência", afirmou à Lusa Helena Roseta, que dedicou parte da sua carreira às questões do ordenamento e dos bairros sociais.

 

Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi morto por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira. Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".

Para Helena Roseta, "o que se passou no Zambujal é da maior gravidade, a morte daquele cidadão não está bem explicada. Sabemos, naturalmente, que o Ministério da Administração Interna mandou fazer um inquérito e o polícia que foi autor dos disparos já está constituído arguido", mas o primeiro "comunicado da PSP é inaceitável porque não corresponde aos filmes de vídeo feitos na hora", numa referência às várias publicações nas redes sociais que não mostram a arma branca, com o corpo já estendido.

E a fuga, um dos argumentos da PSP, é uma "coisa que está muito mal contada, não há provas", afirmou.

Depois do homicídio, têm surgido vários desacatos e protestos violentos noutros bairros periféricos da Grande Lisboa, com incêndios de automóveis e autocarros, algo que a antiga vereadora da capital considera natural.

"Claro que [a morte de Odair Moniz] é um rastilho, toda a periferia se revê na humilhação de ser discriminada", afirmou.

Na região de Lisboa, existem um milhar de bairros e comunidades de génese ilegal ou sociais, zonas ocupadas por "pessoas que acabaram por se instalar, porque não conseguiam habitação em lado nenhum e são depois marginalizadas", disse.

Porque, sustentou, "quem vai para estes locais são os últimos a chegar, portanto, são bairros com uma grande concentração de imigrantes" e esta "discriminação permanente" é "inaceitável", pelo que "o destino a dar a estes bairros não é erradicá-los como já foi feito", mas sim promover melhorias concretas.

"Fico muito revoltada, compreendo perfeitamente [os protestos], mas eu sou de fora, vivo no centro de Lisboa e sou uma privilegiada, não posso compreender o que é que aquela gente no Zambujal está neste momento a viver", acrescentou a arquiteta, recordando que esse sentimento de revolta já aconteceu noutros locais.

Depois surgem as "pessoas do politicamente correto a dizer que não se pode praticar excessos, mas o primeiro excesso foram as balas da polícia. Isso é que foi um excesso. E agora é muito difícil segurar o mar com as mãos", frisou.

Isto porque "sabemos que a concentração de dificuldades, de pobreza e sobretudo, de discriminação, provoca uma revolta a uma certa altura" e "é toda a comunidade que está em revolta", explicou.

A solução deve ser um "olhar sério para todas estas situações", precisou.

"Estão à espera de quê? Têm que olhar é para a razão do problema, primeiro para este caso, tratá-lo com justiça e rapidamente, e, em segundo lugar, não continuar de olhos fechados perante a urgência de haver investimento, capacidade e vontade de regularizar situações urbanísticas e melhorar a vida das pessoas nestes bairros", porque "essa é a questão de fundo. Nós não podemos continuar a pensar que vamos construir Portugal de lés a lés para casas que vão estar cada vez mais caras que ninguém pode pagar", afirmou Helena Roseta.

A lei de bases da habitação prevê "prioridade para estas urbanizações", mas "nenhum governo atuou", acusou a arquiteta, considerando que os bairros que existem, nalguns casos há meio século, "continuam a ser olhados de lado e continuam-se a achar normal que a solução seja demolir, despejar as pessoas para outro sítio qualquer, muitas vezes sem qualquer indemnização".

Isso será "matar pequenas cidades, pequenas comunidades" que construíram "bairros cheios de inovação, bairros cheios de gente nova, que é o que a gente precisa, bairros cheios de ideias fora da caixa, que é o que a gente precisa", afirmou a arquiteta, que deu o exemplo pessoal da falta de preocupações dos políticos.

"Fiz um programa durante três anos, chamado Bairros Saudáveis, para melhorar a vida das pessoas em vários bairros, incluindo muitos destes e este Governo achou que o programa já não fazia falta. Cancelou", concluiu.

Leia Também: Presença policial no Zambujal pode "levar a maior descontrolo"

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