"Ameaçava toda a gente". Quem é o homem morto pela GNR em Bragança?
Um homem morreu numa troca de tiros com a GNR, que afirmou que os militares ripostaram em defesa própria. A vítima estava em liberdade condicional, mas era temida na aldeia de Calvelhe, onde "ameaçava toda a gente". Terá estado preso por esfaquear outro cidadão.
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País Bragança
A aldeia de Calvelhe, freguesia de Izeda, no concelho de Bragança, ficou em sobressalto, na terça-feira, depois de uma troca de tiros que envolveu a Guarda Nacional Republicana (GNR) e que resultou na morte de um homem. O caso, que deixou também dois militares feridos, está a ser investigado, mas o que já se sabe?
Foi já ao início da noite de ontem que foi conhecida a morte de um homem, com cerca de 60 anos, depois de ser baleado pela GNR. A força de segurança viria a fazer um esclarecimento, no qual indicava que, pelas 16h20, tinha sido "recebida uma denúncia no Posto Territorial de Izeda, referindo que um indivíduo estava a efetuar disparos contra trabalhadores que se encontravam num estaleiro de obra, na localidade de Calvelhe".
"Atenta a situação de perigosidade, foram acionados seis militares para o local", onde o suspeito já não se encontrava quando os guardas chegaram. Os militares dirigiram-se à residência do homem para procederem à sua identificação e, ao chegarem junto da habitação e anunciarem a sua presença, "foram recebidos com disparos de arma de fogo, efetuados a partir de um casebre anexo, aos quais ripostaram em defesa própria".
Em resultado da troca de tiros, o suspeito perdeu a vida, tendo o óbito sido declarado no local, e dois militares ficaram feridos, um deles em estado grave, mas sem correr risco de vida. Este guarda, atingido numa perna, já teve alta hospitalar, segundo disse hoje à Lusa fonte da GNR.
MP e PJ investigam
Ainda ontem, a GNR confirmou que a Polícia Judiciária (PJ) estava a investigar o caso e que os factos tinham sido comunicados ao Ministério Público (MP), que já hoje confirmou, em resposta à Lusa, a instauração de um inquérito ao caso.
Numa curta resposta, o MP indicou: "confirma-se a instauração de inquérito relacionado com a matéria em referência".
Em liberdade condicional e matinha perigosidade. O que se sabe do suspeito?
Contactada pela agência Lusa, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) revelou ter comunicado ao tribunal que se mantinha a perigosidade do homem, que estava em liberdade condicional, desde 2 de abril.
O suspeito tinha sido libertado aos 5/6 da pena, segundo confirmou a DGRSP, que não especificou o crime e a pena aplicada por estar legalmente obrigada ao dever de reserva em relação à situação jurídico-penal e prisional dos cidadãos que teve ou tem à guarda.
Numa nota escrita, a DGRSP especificou que no Relatório de Execução de Liberdade Condicional, enviado a 12 de setembro ao Tribunal de Execução das Penas do Porto pela equipa de resinserção que acompanhava o caso, tinha sido comunicado "que se mantinha a perigosidade do libertado e o temor da comunidade relativamente aos seus comportamentos e presença na aldeia".
Foi também comunicado ao tribunal, a 4 de outubro, pela equipa, o que foi descrito como "o reiterado comportamento desadequado e desrespeitoso do cidadão em causa".
O Plano de Execução de Liberdade Condicional foi enviado a 4 de abril ao tribunal e ofícios ao longo dos meses de acompanhamento, em abril, julho, setembro e outubro.
A DGRSP explicou na nota escrita enviada à Lusa que, logo no dia em que foi libertado, o homem compareceu junto desta equipa da instituição designada para o acompanhar.
"Esta equipa estabeleceu articulação com o Departamento de Psiquiatria e de Saúde Mental de Bragança para encaminhamento/consulta de avaliação clínica no âmbito da saúde mental e sensibilizou o libertado para que comparecesse às consultas, sem que o mesmo o tivesse feito", descreveu a DGRSP.
A DGRSP informou ainda que, durante as entrevistas e contactos regulares com o homem (...), o mesmo "foi sensibilizado para a importância de adotar comportamento social adequado/ respeitoso para com os residentes da aldeia, renovação de cartão de cidadão para, além do mais, viabilizar alguns apoios sociais de que poderia beneficiar para melhoria da sua condição de vida e cumprimento das regras de conduta impostas para o regime de liberdade condicional, conselhos a que sempre resistiu".
"Oprimia e ameaçava toda a gente" na aldeia
O presidente da união de freguesias de Izeda, Calvelhe e Paradinha Nova, partilhou que fez várias diligências sobre este homem, que disse que "oprimia e ameaçava toda a gente" na aldeia, e que terá sido preso por esfaquear outro cidadão.
"Como presidente da junta, reportei esta situação às autoridades, começando pela GNR. O gabinete de acompanhamento de liberdade condicional, (...) ligou-me duas vezes (...). Os delegados do Ministério Público tinham conhecimento. Várias vezes pedi que este indivíduo fosse colocado numa instituição com condições de o recolher e dar-lhe acompanhamento psicológico (...)", afirmou Rui Simão.
A Lusa pediu mais esclarecimentos sobre o caso ao Ministério da Administração Interna, aguardando resposta.
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