"Toda a gente merece uma morte digna, o meu pai morreu no meio da rua"
Joana Amaral Dias foi convidada de Cristina Ferreira para uma conversa emotiva sobre a morte do pai, Carlos Amaral Dias.
© Facebook/Joana Amaral Dias
Fama Joana Amaral Dias
Esta sexta-feira, dia em que se completam dez dias desde a morte de Carlos Amaral Dias, a filha Joana Amaral Dias foi convidada no programa das manhãs da SIC para um testemunho emotivo. A psicanalista abriu o coração a Cristina Ferreira para recordar com saudade o pai e falar sobre os detalhes da sua morte, que têm estado em destaque na imprensa nacional.
Começou por referir que o AVC que o progenitor sofreu em 2012 o deixou com sequelas, sobretudo físicas, que limitavam a sua agilidade e independência.
"Era uma pessoa ativa, brincalhona, super trabalhadora. Depois viu-se com essas limitações físicas, o lado direito quase paralisado, sem conseguir vestir-se e tomar banho sozinho. Foi uma talhada enorme na sua autonomia, que para uma pessoa com essas características é tremendo", lembrou.
Ainda assim, foi com grande "resiliência" que encarou a falta de capacidades, enalteceu Joana: "Foi notável. Para mim foi uma lição de humildade. Agradeço-lhe por isso. Acho que a última grande aula do professor catedrático foi essa".
Os detalhes do fatídico dia
Joana recordou com angústia a manhã em que o pai morreu. "No dia 3 de dezembro sentiu-se mal, a auxiliar que estava com ele em casa chamou logo o INEM às 09h09 da manhã. Sabes a que horas o meu pai chegou ao hospital? Já passava das 11h00 da manhã num trajeto que se faz em 5/10 minutos".
"O meu pai morreu no meio da rua com uma paragem cardiorespiratória. Podem imaginar o nosso sofrimento. Todas as pessoas têm direito a uma morte digna. Se ele tinha muitas patologias associadas, não se justifica nunca um homem de 73 anos ou uma rapariga de 20 não terem resposta da emergência médica. Isto aflige-me", continuou.
A ex-deputada do Bloco de Esquerda referiu ainda que a situação do pai é um reflexo das lacunas do Serviço Nacional de Saúde, pelo que também acarreta a angústia de esta ser uma causa política que tenta combater.
A notícia da morte
Questionada por Cristina Ferreira sobre o momento em que recebeu a notícia, Joana Amaral Dias revelou que se encontrava a trabalhar quando tudo aconteceu: "Quando me ligaram tinha o telefone em modo voo porque estava a fazer um programa de televisão. Quando cheguei já tinha tudo acontecido. Senti-me ausente, inútil. Tudo isso também custa muito aceitar".
"Os meus irmãos estão igualmente em luto e indignados. Temos lido muito sobre o INEM", sublinhou.
A família não vai abandonar esta batalha
Joana Amaral Dias recordou ainda que a primeira ambulância a socorrer o seu pai foi um carro dos Bombeiros do Beato. "Não são médicos, são bombeiros. Não tinham capacidade de responder à situação clínica daquele momento".
"Para além disto, essa ambulância avariou porque temos equipamentos velhos. O meu pai ficou no meio da rua e quando chamam uma segunda ambulância demora 40 minutos a chegar. Não veio com médico nem sequer com equipamento de reanimação", relatou.
"O INEM disse que ia abrir um inquérito mas nós não vamos deixar as coisas ficar por aqui, a nossa família também se vai mexer em nome do meu pai e da sua morte. Mas também em nome de todas as pessoas que são alvo desta negligência", afirmou, acrescentando que acredita que o INEM decidiu abrir o inquérito "devido a um certo mediatismo" do caso.
"O meu pai deu o seu tempo e talento ao Serviço Nacional de Saúde, as pessoas precisavam dele. Também por isso esta será a sua última batalha. Podes ter a certeza, Cristina, eu e os meus irmãos vamos fazê-la", concluiu.
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