"Senti que estava a realizar o sonho de ser pai e desliguei-me de tudo"
Estivemos à conversa com Graciano Dias, ator que irá ser o protagonista da próxima novela da TVI - 'Amar Demais'.
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Fama Graciano Dias
Descontraído e de bem com a vida: foi desta forma que Graciano Dias nos recebeu numa conversa onde abordou os mais diversos assuntos. Apesar de a crise da pandemia lhe ter batido à porta, como aconteceu um pouco por todo o mundo, este tem sido um ano sorridente para o ator. Em breve irá estrear-se como protagonista na nova novela da TVI 'Amar Demais' e na paternidade, já este verão, uma vez que a companheira está grávida de um menino, que irá chamar-se Gabriel.
Vai fazer parte da próxima novela da TVI - 'Amar Demais' - o seu primeiro trabalho como protagonista. Como recebeu o convite?
Surgiu com um casting, inicialmente. Nem estava muito seguro que pudesse ficar com o papel, porque o primeiro casting nem correu muito bem. Na vez que o repeti com a Ana Varela [outra protagonista], com quem vou fazer o par amoroso, as coisas correram bem e fiquei com o papel.
O facto de ser protagonista traz um peso diferente?
Não. Sempre considerei que fazer um pequeno papel ou um papel maior deve ser levado com a maior seriedade e dedicação, porque afinal de contas é uma peça de um puzzle, independentemente do trabalho ser maior, só assim é que uma equipa consegue fazer bons projetos. Considero que tem a mesma importância que todos os outros que fiz e se calhar foi por isso que cheguei até aqui.
Fale-nos um pouco acerca da personagem...
A minha personagem é um herói dos tempos modernos, porque não tem efeitos especiais, nem truques. É um homem muito humano, o Carlos. Pensa nos outros, só está bem se os outros estiverem bem e é um homem que sofre uma grande injustiça. É uma história que começa precisamente com ele a sair da prisão ao fim de 15 anos. Como em tudo, esperamos sempre que as coisas corram de uma maneira, mas a vida troca-nos as voltas e acabam por nos acontecer coisas que não esperávamos. Esse efeito surpresa existe na novela. Um bocadinho como nos aconteceu em março por causa da Covid-19. As coisas de repente acontecerem.
Senti-me um bocado frustrado. Percebi que colegas meus iam passar dificuldades Precisamente sobre esse assunto. A classe dos artistas foi bastante prejudicada com a pandemia. Como é que lidou com a situação? Sentiu-se prejudicado de forma pessoal?
Estávamos a gravar [a novela] e interrompemos. Fui fazer o teste à Covid-19 para dar início às gravações em princípio no dia 25 [de maio]. Mas, de facto, senti-me um bocado frustrado com tudo o que estava a acontecer, porque estava a receber muitas notícias e percebi que colegas meus iam passar dificuldades.
Eu, felizmente, tive a sorte de estar a fazer televisão a meio de um projeto, portanto, sou um felizardo nesse sentido. Mas não sou indiferente àquilo que está a acontecer, porque também já passei algumas dificuldades no passado com os espetáculos. Às vezes é muito complicado conseguirmos viver apenas com o teatro ou com o cinema, porque há pouco. Sei que as pessoas estão a passar por dificuldades e a endividarem-se. Muitos, provavelmente, vão ter de mudar de profissão.
E no seu círculo próximo de pessoas? Também sentiu essas dificuldades?
Sim. A minha irmã tem uma escola de surf na Nazaré que depende das pessoas que vêm de fora, porque dava aulas a estrangeiros principalmente. A minha avó tem um restaurante, também na Nazaré, que trabalha com grupos e que depende igualmente de turistas. Os efeitos colaterais disto são gigantes a todos os níveis e principalmente na arte, porque o teatro precisa de público.
O Governo está a usar a consciencialização das pessoas para mostrar alguma vaidade própriaConsidera que as medidas que têm vindo a ser tomadas pelo governo de apoio à classe são insuficientes?
Acho que nós, as pessoas, estamos a tomar medidas antes do governo. Parece-me que é um bocado o eco daquilo que as pessoas vão fazendo. Voluntariaram-se para ficar em casa antes de o Estado ter tomado medidas, por exemplo. É muito difícil para mim compreender como é que havendo pessoas, como os mais velhos que estão uma vida inteira a descontar e a pagar impostos, de repente numa situação destas, a economia não se aguenta mais do que um mês. O Governo está a usar a consciencialização das pessoas para mostrar alguma vaidade própria, como se fossem eles que estivessem a resolver as situações. É o meu pensamento de leigo, acredito que as coisas sejam mais profundas, mas é a sensação que tenho.
O que é que aprendeu durante a quarentena?
No início fui um bocado ingénuo, achei que o ser humano iria mudar, ser diferente, mas as pessoas vão voltar à ganância, sinto que não vão mudar. Aprendi que há coisas muito mais importantes do que apitar no trânsito, por exemplo. Aprendi igualmente que a nossa casa tem muito para descobrir.
Percebi que podemos amadurecer muito em casa, dentro de quatro paredes Passei todo o confinamento com a minha namorada e acabámos por encontrar coisas para nos divertirmos. As duas primeiras semanas foram difíceis porque estivemos sempre a ver o noticiário de manhã à noite e isso começou a fazer-me mal e desliguei-me um bocadinho. Foi aí que percebi que podemos amadurecer muito em casa, dentro de quatro paredes.
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Ainda assim, apesar da pandemia, este momento teve um sabor agridoce porque ao mesmo tempo seguiu de perto a evolução da gravidez da sua companheira...
Exatamente. Pensei que ia ser pai e que não podia deixar que tudo isto estragasse este momento maravilhoso. Senti que estava a realizar um sonho e desliguei-me de tudo à volta. O facto de ser pai foi uma das coisas que me ajudou muito e que me manteve feliz.
Desde o início do confinamento começámos a sentir os pontapés Como é que tem sido esse processo de acompanhamento?
Tem sido maravilhoso! Tivemos algum receio de início porque as consultas começaram a ser canceladas, mas acabámos por ser ajudados. Desde o início do confinamento começámos a sentir os pontapés, ele a mexer-se, já não sentimos que somos só dois, somos três. Falamos com ele, que é o Gabriel, pomos músicas… está a ser maravilhoso.
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E para quando está previsto o nascimento do Gabriel?
Para o final de junho, início de julho.
Durante esta fase, chegou também a pensar sobre o tipo de valores que pretende passar ao seu filho no futuro?
Pensei, principalmente na questão do tempo que vou querer ter com ele em casa. A partir de casa podemos transmitir muitas coisas, tudo aquilo que fazemos de bom, descobrirmos o que ele gosta e orientá-lo. Em vez de chegar a casa cansado do trabalho e ver seja o que for, não, vou dedicar-me 100% a ele sempre que possa. Vou-lhe ensinar muita coisa, mas até ele nascer fico um bocadinho a tremer só de pensar [diz, enquanto se ri, nervoso].
Quais são as suas origens?
Eu nasci nas Caldas da Rainha, mas costumo dizer que quero morrer na Nazaré, é onde eu tenho o meu coração. A minha mãe é nazarena e o meu pai é caldense.
Então onde passou a sua infância?
O meu pai jogava à bola, então para onde ele fosse jogar eu ia viver. Vivi em Olhão, Oeiras, Caldas, Nazaré, andei a saltitar. Não queria transmitir isso ao meu filho no sentido em que não criei muitas raízes com os amigos que fui tendo. Nunca estive na mesma escola, fui sempre mudando de colegas, sinto de alguma forma que me faltou essa origem.
Acreditei que ia ser jogador de futebol, mas lesionei-me cedo e percebi que tinha de mudar de profissão E no meio das constantes mudanças como é que surgiu o gosto pela representação?
Uma das minhas paixões, além do futebol, era o cinema. Acreditei que ia ser jogador de futebol, mas lesionei-me cedo e percebi que tinha de mudar de profissão. Quando comecei a ter as primeiras experiências com professores relativamente à área da representação, apaixonei-me e agarrei-me com unhas e dentes, pois não podia deixar passar uma segunda oportunidade. Isso fez-me dar valor às coisas.
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Como é que a sua família reagiu a essa escolha?
Acima de tudo eles queriam ver-me feliz. Mostrei paixão por outra coisa e acho que tirei-lhes até um peso, porque era preferível verem-me a querer algo.
Então nunca houve um plano B?
Houve ali uma altura, quando já estava há seis meses sem trabalhar, que pensei duas vezes, mas sempre que isso aconteceu de repente surgiam coisas maiores. Procurei a sorte com a dedicação a cada trabalho, percebendo que poderia ser o último. Dedico-me de tal maneira que acabo por 'contaminar' as outras pessoas.
Sabia que isso seria para mim uma tormenta, o facto de me expor A chegada à televisão traz, inevitavelmente, o reconhecimento do público e uma atenção que não tinha anteriormente. Lidou bem com isso ou estranhou no início?
Sempre fui muito envergonhado, embora não pareça, por ter escolhido a profissão de ator. Sabia que isso seria para mim uma tormenta, o facto de me expor, mas a vontade de ser ator é maior do que esse medo. Para conseguir aquilo que quero também tenho de sofrer com coisas que não quero. Tenho-me divertido com isso.
Quando entrou na televisão sentiu certas aproximações por interesse?
Isso é inevitável, creio eu, mas como não me exponho tanto, ou seja, estou com as pessoas com quem trabalho, vou para casa e lá estou com os amigos com quem sempre estive... Há pessoas que têm interesse, sobretudo por aquelas que têm muitos seguidores, o que eu não tenho, portanto talvez me safe um pouco por causa disso [ri-se uma vez mais].
Nessa questão, acha que o facto de um ator ter muitos seguidores nas redes sociais influencia a escolha desse mesmo ator para certos projetos?
Isso já aconteceu e continua a acontecer, mas também já se provou que não traz o resultado que as pessoas esperam. As pessoas seguem as redes sociais e não o trabalho. Querem é saber o que é que nós fazemos, comemos, etc.
Está ansioso para regressar?
Muito, muito, mas lá está, também tenho um filho à espera, estou com a cabeça no trabalho e o coração em casa.
Porque é que as pessoas devem assistir à novela 'Amar Demais'?
Acho que devem ver se quiserem desligar-se um bocadinho da vida pessoal, da vida que têm, a televisão é um bom catalisador para nos distrairmos. A história da novela vai cativar as pessoas pelo coração. Acredito até que as pessoas que não veem novelas vão ficar ‘agarradas’ pela nossa dedicação. Há pessoas que mesmo com o preconceito dão sempre uma vista de olhos.
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