Há três meses que José Condessa arrancou com as gravações do novo projeto, 'Bem Me Quer', a primeira novela depois de ter estado a trabalhar no Brasil, em 'Salve-se Quem Puder', da Globo, onde interpretou Juan. Agora, o ator vai dar vida a David.
"O tempo está a passar muito rapidamente, dizemos sempre isto quando começamos a trabalhar, mas começou com uma adrenalina muito especial", disse inicialmente o jovem artista, de 23 anos, em conversa com os jornalistas, acrescentando de seguida que "as expectativas que puseram no trabalho estão a ser cumpridas". "Isso é das coisas mais maravilhosas que nós podemos sentir em qualquer trabalho".
"É um projeto muito especial, é o voltar a Portugal, e é um projeto que já há muito tempo que tinha sido apalavrado", realçou, mostrando-se feliz por dar vida a um protagonista. "É uma responsabilidade acrescida. Estaria a mentir se dissesse que não há um peso", admitiu.
"Há um sentido de responsabilidade muito grande - estamos a liderar um barco, mas que tem de ser remado por todos. E sentimo-nos muito acarinhados por todos", acrescentou.
Além de José Condessa, também Kelly Bailey e Bárbara Branco (a sua namorada na vida real) fazem parte do leque de protagonistas desta nova novela, entre muitos outros atores portugueses.
Um projeto que esteve recentemente em destaque por causa do caso suspeito de Covid-19, no elenco, na semana passada. Após um caso inconclusivo, foram feitos novos testes a toda a equipa e atores para segurança de todos.
Estamos todos tão abanados de todos os lados que precisamos de um porto de abrigo
Sobre o facto de estar a trabalhar durante a pandemia do novo coronavírus, José Condessa destacou que quando começou este projeto sempre foi garantido que "estariam acompanhados".
"E a verdade é essa, estamos sempre muito acompanhados, regularmente, e esses testes é que nos permitem, se calhar, perceber se está a correr tudo bem ou não. E dão-nos uma segurança especial. A nós, enquanto elenco, ao contrário do que se pode pensar - porque naturalmente cada um se fecharia na sua bolha com o medo e o receio de prejudicar alguém com quem contracenas e que é mais velho ou que tem algumas doença - acho que existe uma união ainda maior. Encontrei poucas vezes, não a união de trabalho, mas a união quase pessoal, de saber se estás bem, se precisas de alguma coisa... Vamos dizendo o resultado dos testes [uns aos outros num grupo onde estamos todos]", explicou. "Esse medo é combatido com a união e isso é muito bom", destacou.
Ainda sobre esta nova trama, disse: "A mensagem que nos foi passada desde início, e daí também ter sido tão fácil apaixonarmo-nos pelo projeto, é que o que nós devíamos fazer era voltar às raízes do que é a novela portuguesa, principalmente. Quais é que são as raízes e qual é a tradição que nós temos de novela? É a simplicidade, no sentido de que tens uma família rica, uma família pobre e tens o amor impossível. Isto é a base. Claro que tem o núcleo cómico e tudo o resto que completa a trama. Outras novelas foram explorando outras coisas, que também é interessante, mas neste momento o que nós precisamos é de algo onde estamos seguros".
"Estamos todos tão abanados de todos os lados que precisamos de um porto de abrigo, e acho que esta novela vai ser aquilo que é muito nosso - nosso português. É tudo passado em Portugal, e é tudo passado fora das capitais, onde não há aquele movimento todo... Nós não gravamos com muitos carros, não tens cenas de confusão, não tens centros comerciais. Tens a paisagem linda da Serra da Estrela, tens Aveiro, que apesar de ser uma cidade grande, tem a sua tranquilidade... Acho que a novela vai transmitir isso aos telespectadores. Ao início acredito que vai ser aquele choque de parecer que faltam coisas, mas ao mesmo tempo está tudo lá. E esta simplicidade não tira o interesse da história, o suspense, o nervo, o amor impossível, vais ter sempre o bom e o mau da fita... E está muito bem escrita. Esta trama está muito engraçada porque parece que em todos os episódios há alguma coisa que acontece. E como a novela é tão simples, essas pequenas coisas que acontecem sãoo suficiente para se ficar agarrado", continuou.
José Condessa vai dar vida ao novo galã português, depois de ter estado neste papel no Brasil, em 'Salve-se Quem Puder', onde foi muito acarinhado. No entanto, o mais importante para si é que "um dia seja reconhecido como um ator que é capaz de ser versátil". "Um ator que é capaz de ser um vilão, um galã, é capaz de, se for preciso, engordar 20 quilos para fazer um papel", salientou.
Na preparação para este papel - David, um advogado - o ator contou com a ajuda do padrasto da namorada, Bárbara Branco, que tem a mesma profissão que a sua personagem. "[O padrasto da Bárbara] é das pessoas mais incríveis que conheço, e ele explicou-me logo as coisas mais básicas, vestiu-me uma Toga para perceber o peso que isso tem. Não só pela responsabilidade, mas o peso físico que isso traz ao corpo, dá-te logo uma postura que tu tentas criar. Tentei criar esta personagem enquanto está em advogado e enquanto está no dia-a-dia, em que é um gajo mais relaxado, jovem. Tentei criar as duas diferenças, até para quando chegar ao papel de advogado ter uma outra postura", explicou.
Durante o processo de criação do papel, o ator conseguiu ainda estar presente no tribunal em casos cuja audiência é aberta, "para perceber como é que é o poder de argumentação".
A relação com Bárbara Branco, dentro e fora do estúdio
Na nova novela da TVI, José Condessa e Bárbara Branco são inicialmente um casal que acaba por se separar e seguir caminhos diferentes. O ator explicou que ambos têm métodos diferentes de trabalhar na ficção, e conhecem algumas "manhas" um do outro, não estivessem já muito ligados pelo percurso que fizeram juntos em teatro.
"O nosso jogo, por gozo especial, tirávamos o tapete um ao outro para ver onde é que o outro conseguia chegar na representação, e isso já acontecia antes de sermos namorados. E é isso que nos faz crescer, na minha opinião pessoal como ator. O que nos faz crescer é o momento de desequilíbrio e não aquele em que estamos a fazer sempre igual", partilhou.
O que nós fazemos, e acho que isso é o segredo de qualquer relação, é sermos indivíduos. Antes de sermos um casal, somos uma pessoa que tem a sua rotina, tem a sua forma de trabalhar
E agora ambos voltam a viver um novo desafio, juntos, mas em papéis diferentes daqueles que tinham tido até aqui, já para não falar que esta é também a primeira novela que fazem juntos. "Logo aí é uma descoberta diferente porque nunca nos tínhamos visto em rotina de trabalho em novela".
"São personagens que namoram de início sem ser um amor incrível, é quase um casamento prometido entre as duas famílias e eles como namoram desde pequenos, sempre ficou. Quando construímos essa relação que é uma não relação, foi muito engraçado. É começar a tirar coisas nossas. Tu serves a personagem, serves um amor, mas, de repente, é inevitável estares a contracenar com uma pessoa com quem namoras na realidade, tens sempre ali coisas que são tuas - ou seja, a forma de abraçar, a forma de olhar... E isso não pode ser, não podes correr o risco de os espectadores verem em casa e ficarem a achar que afinal aquelas duas personagens gostam uma da outra e estás a contar a história errada. Então foi puxar o tapete um ao outro", realçou.
Neste momento, os artistas estão juntos 24 sobre 24 horas, pois além de partilharem o mesmo estúdio, também partilham a mesma casa.
"É ótimo. Eu e a Bárbara sempre nos demos bem e acho que o segredo vem dessa ligação. Nós já éramos amigos há cinco, seis anos, antes de começarmos a namorar. Nós conhecemo-nos completamente. Não há nada que tenhas medo de dizer um ao outro. O que nós fazemos, e acho que esse é o segredo de qualquer relação, é sermos indivíduos. Antes de sermos um casal, somos uma pessoa que tem a sua rotina, tem a sua forma de trabalhar. Eu e a Bárbara não trabalhamos da mesma forma - trabalhamos de forma muito parecida, claro, a formação é a mesma, mas a minha rotina de trabalho é totalmente diferente da dela", contou.
"Eu adoro estar em todo o lado ao mesmo tempo, a Bárbara sempre foi muito mais organizada, então nós completamo-nos. O mais difícil é mesmo a questão dos horários. Quando chegamos a casa, estamos sempre juntos e a estudar 20 cenas por dia os dois ao mesmo tempo. É mais a rotina de, quem é que faz o jantar? [risos] Isso é o mais difícil", revelou, referindo que é muitas vezes o chef da casa, mas também são várias as vezes em que mandam vir comida.
"Em estúdio eu gosto de estar a conversar com mil e uma pessoas e a Bárbara, se calhar, gosta de estar sentada a conversar com a malta nos cabelos e na maquilhagem. Já eu ando, se for preciso, entre estúdios, a conversar, a falar ao telefone, a decorar texto na rua. São formas diferentes de trabalhar e isso é giro porque em teatro somos quase iguais", reforçou.
Já em casa, morar com a namorada não é uma realidade completamente desconhecida. Apesar de terem juntado os trapinhos, de forma oficial, depois de ter regressado do Brasil, este ano, a verdade é que "desde que começaram a namorar" já "ficavam muito tempo juntos".
"Os nossos horários sempre foram muito parecidos no teatro. Cada um estava a trabalhar no seu lado, mas a noite era a mesma rotina e nós sempre ficámos muito juntos. Sempre morámos juntos, apesar de não ser aquela coisa oficial", explicou.
O início do trabalho no mundo da representação ainda na adolescência
Aos 23 anos, José Condessa já conta com vários trabalhos no mundo da representação, onde começou a dar os primeiros passos aos 17 anos. Apesar de ter perdido alguns momentos por ter de cumprir horários desde cedo, o ator, confessa, nunca foi muito de "noitadas". No entanto, admite, "adora ficar a dançar e a ouvir música até às tantas e sempre que pode é o que faz", pois é uma oportunidade de se "refrescar".
Os meus pais sempre foram um pilar muito grande
"Viajar" é agora uma "paixão" a que quer dar prioridade. "Temos criado uma coisa tão bonita e temos consegmuido atingir coisas tão especiais sentimo-nos muito gratos em relação a isso - não só em trabalho mas em reconhecimento das pessoas que nos rodeiam e do resto dos profissionais -, que acho que neste momento temos de começar a decidir o que é que vamos fazer do futuro, para onde é que vamos apontar. Há aquela coisa rebelde de não estarmos contentes com o que temos, não descurando que é uma coisa especial - vamos fazer mais e melhor, quebrar fronteiras e estereótipos... Nesses planos, de certeza que vão estar agora mais viagens, precisamos de ver mais coisas", disse.
Com uma vida agitada e cheia de projetos, a família também acabou por se habituar desde cedo às rotinas de José Condessa. Aliás, quando começou a trabalhar, aos 17 anos, vivia com os pais e era muitas vezes a mãe que o levava da novela para o teatro. "Os meus pais sempre foram um pilar muito grande", afirmou. O agradecimento que tenho aos meus pais é esse, da compreensão total", frisou.
"Neste momento sentimos até [que há] demasiado tempo. Não há teatro, estamos só com novela, o que para nós é imenso tempo [que sobra]. Muitas noites que temos conseguido aproveitar. Depois do Brasil, consegui estar com eles [os pais], com a família, fugir um bocadinho para o Alentejo", destacou.
Os novos desafios que faltam conquistar
José Condessa espera conseguir novos e desafiantes trabalhos no futuro, sendo eles fora ou dentro de Portugal. Claro que não descarta a ideia de poder bilhar lá fora, mas também gostava de cumprir grandes objetivos no seu país.
Temos tanta matéria prima de qualidade em Portugal que devíamos apostar em representar em português para fora
"Qualquer coisa que me desafie enquanto ator, que me faça crescer. Isso pode ser encontrado cá. Quando falei em quebrar fronteiras, não são fronteiras físicas, claro que também, mas o objetivo é, acima de tudo, sair da minha zona de conforto, ir para essa zona em que existe o desequilíbrio. Pode ser representar numa outra língua ou num outro país, ou fora do que é normal. Fazer mais cinema, mais séries", disse.
"Têm surgido oportunidades, muitas delas não concretizadas por agenda, mas a questão é: o meu sonho vai um bocadinho mais longe... [Por exemplo], ter a oportunidade de a Netflix perceber que é possível representar em português - daqui para a frente começar-se a perceber que é possível. Temos tanta matéria prima de qualidade em Portugal que devíamos apostar em representar em português para fora, como nós recebemos italianos, franceses, espanhóis, e consumimos muito...", explicou ainda.
A 'polémica despedida' do Brasil
O ator acabou por não conseguir acabar o trabalho em 'Salve-se Quem Puder', no Brasil, uma vez que quando acordou com a Globo já tinha ficado explicito que haviam outros trabalhos já marcados em Portugal para 2020. Com a chegada da pandemia, as gravações da novela brasileira foram adiadas e, por isso, não conseguiu acabar a história da personagem, Juan.
"Claro que gostava de voltar e terminar, é também um agradecimento à forma como fui tratado. Claro que adorava que acontecesse, e se a oportunidade surgir, como já surgiu no passado, e se acharmos que é um passo a seguir, claro que sim, voltar. Mas não tenho aquela paixão do mudar-me completamente. Acima de tudo é tentar crescer", realçou.
José explicou de novo que apesar de não ter feito o trabalho até ao fim, a relação com a Globo não ficou afetada.
Tinha uma palavra a cumprir. Acho que estou correto, o tempo o dirá
De referir que o ator esteve envolvido numa polémica depois de a imprensa local ter alegado que o artista tinha abandonado a novela e quebrado o acordo com a estação. Especulações que levaram o canal a divulgar um comunicado onde confirmavam a saída de Condessa da novela porque o ator "já tinha compromissos assumidos em Portugal para quando terminasse 'Salve-se Quem Puder'".
"Com a pandemia, os cronogramas de gravação foram afetados e o ator não terá como terminar a novela. A Globo já estava ciente do compromisso do ator, mas não foi possível conciliar as agendas, infelizmente", disseram ainda na altura na mesma nota.
Sobre a especulação negativa que houve inicialmente, José realçou de novo: "Isso foi das coisas que me magoou um bocadinho, mesmo. Eu próprio já fiquei triste com o facto de não conseguir acabar, ou não acabar da forma que queria. Gostava, como é óbvio, num primeiro projeto internacional, de terminar de contar a história, mas tinha uma palavra a cumprir e tinha compromissos assumidos aqui em Portugal. Acho que estou correto, o tempo o dirá, mas ficou uma boa relação".
"Durante a pandemia estivemos quase todos os dias a tentar perceber qual é que era o nosso futuro. Houve uma altura em que íamos voltar em maio, cheguei a fazer as malas todas para ir, mas, de repente, o Governo brasileiro disse que não se podia voltar a gravar até junho. Em junho já era [apertado] porque tinha de estar em Portugal em agosto para gravar, e percebemos que não dava para terminar. As notícias saíram de uma forma errada, mas depois houve um comunicado em que diziam que a nossa relação ficou totalmente boa. E eu quero acreditar que assim foi, porque enquanto profissional penso que me tenha portado tão bem como me porto em casa com os meus pais ou aqui em Portugal", acrescentou. Mas será que vai voltar a dar cartas no Brasil? "Esperemos, o tempo o dirá", rematou.