A diretora-geral de saúde foi esta segunda-feira, dia 4 de janeiro, a primeira convidada do novo programa de Manuel Luís Goucha na TVI. A especialista em saúde pública aceitou conversar com o apresentador numa entrevista intimista onde foi apresentada como o principal rosto da pandemia de Covid-19.
Graça Freitas assume-se como uma mulher discreta e habituada a estar na segunda linha. É, por isso, com "grande espanto" que se vê reconhecida como a Figura do Ano 2020.
"Todos os dias vou tentando fazer o meu papel o melhor possível", garante, revelando que nem sempre disse tudo o que sabia publicamente.
Admite que o mais difícil de todo este processo é avaliar que informação corresponde ou não à verdade. E era por não ter certezas que preferia guardar alguma dessa informação.
"Disse aquilo que sabia e em que estava mais segura. Por vezes preferi guardar alguma informação, porque ainda tinha muitas incertezas sobre essa informação", explica, assumindo-se como uma profissional "clara, transparente e que sempre tentou tranquilizar" os portugueses.
O descuido que a fez ficar infetada com a Covid-19
Apesar de todas as precauções que sempre tomou, a responsável máxima pela Direção Geral da Saúde contraiu o novo coronavírus no início do mês de dezembro.
"Este vírus é extremamente traiçoeiro, tomei desde o início muitas precauções. Tenho imenso respeito pela saúde de todos, não queria de maneira alguma nem ficar doente nem infetar ninguém e bastou um pequeno descuido. Tenho ideia de que poderá ter sido uma sala relativamente pequena e mal ventilada, porque nós estávamos todos de máscaras. A ventilação é a única coisa que eu identifico como sendo a falha", recorda.
O teste positivo chegou depois de uma outra colaboradora sua ter revelado estar infetada, e com ele chegou também a sua grande preocupação: a saúde do marido.
"A minha grande preocupação foi o meu marido. A minha grande preocupação era pensar: e se eu o infetei. Foi uma angústia terrível", confessa. "Tive medo de infetar o meu marido e de ele poder ficar gravemente doente", acrescenta, explicando que os dois estiveram completamente separados durante todo o processo de isolamento.
Apesar de ter tido sintomas ligeiros, Graça Freitas confessa que o medo se estendeu também à sua saúde. "Num dia parecia que tudo estava a desaparecer e no dia seguinte eles [os sintomas] reapareciam e eu perguntava: e amanhã, como é que vai ser? A incerteza dá medo, dá bastante medo", conta.
"Não perdi o olfato, nem perdi o paladar", diz, dando conta de que, estranhamente, ficou com muito apetite e o olfato "muito apurado".
A estes sintomas juntaram-se as "dores musculares, fraqueza, dores de cabeça", e a tosse que chegou "por volta do 10.º dia". "E foi essa tosse que não me levou a ter alta precocemente", admitiu.
Graça Freitas "nunca desabou"
Apesar de estar muitas vezes no centro da polémica, Graça Freitas afirma que "nunca desabou". "No dia em que começar a chorar, vou chorar um dia inteiro. Tenho tanto para chorar. Já estive à beira disso e há dias em que estou irritadiça", confessa.
A Covid-19 é um "banho de humildade"
"Se tudo correr como está previsto, o nosso país encomendou vacinas para todos", garantiu Graça Freitas, que com toda a confiança afirma que irá ser vacinada quando chegar a sua vez.
"A vacinação é uma grande janela de esperança, mas não temos certezas. Não sabemos como é que esta imunidade se vai comportar, quanto tempo ela vai durar. Temos de ter esperança, se não for com estas vacinas, outras vão aparecer", defende.
"[A Covid-19] é um banho de humildade para todos, para a humanidade em geral", este é na opinião de Graças Freitas o maior ensinamento que todos podemos tirar deste tempo de pandemia.