Medidas "estão a ter efeitos", mas confinamento manter-se-á até março
Ministra da Saúde apresentou cinco conclusões "essenciais" a reter da reunião de esta terça-feira com os especialistas. As medidas restritivas estão a ter um efeito positivo mas confinamento é para continuar. Paralelamente, é intenção do Governo multiplicar a testagem no país, por forma a "prevenir um descontrolo da infeção".
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País Pandemia
Marta Temido apresentou, no final da reunião com os especialistas no Infarmed sobre a evolução da pandemia da Covid-19 no país, "cinco conclusões essenciais" a reter.
A primeira, indicou, resultante da avaliação do atual nível de confinamento. Um "nível de confinamento que está a produzir efeitos, não só em termos de números de novos de casos, como a incidência está a decrescer desde há alguns dias (...), por outro lado, regista-se também uma tendência decrescente daquilo que é o número de hospitalizações e de utilização de cuidados intensivos e do número de óbitos, embora estes dois últimos indicadores ainda estejam numa fase mais atrasada", resumiu a ministra.
O nível de confinamento está também a ter impacto naquilo que eram as estimativas que o Instituto Ricardo Jorge fazia relativamente à situação das novas variantes, concretamente, a nova variante inglesa que, recordou Marta Temido, "era estimado que atingisse já 60% da circulação do vírus no país neste momento", tendo Portugal conseguido reduzir a sua predominância.
A segunda conclusão, prosseguiu, é que "fica bastante claro, de acordo com aquilo que os peritos transmitem, de que quanto maior é a intensidade do confinamento, mais rápida é a redução do risco efetivo de transmissão. Ou seja, "observámos dois decréscimos do risco de transmissão, um após as primeiras medidas decretadas pelo Governo (no dia 15 de janeiro) e outro mais intenso a seguir ao agravamento (21 de janeiro)".
O que é facto, reforçou, "é que no segundo momento esse decréscimo foi mais acentuado". Neste momento, o R situa-se em 0,82 para o período de 30 de janeiro a 3 de fevereiro, o que é um valor "bastante baixo".
Outra das conclusões é que "apesar destas medidas estarem a produzir resultados, é bastante evidente que o atual confinamento tem de ser prolongado por mais tempo, desde já, durante o mês de fevereiro e, depois sujeito a uma avaliação, mas provavelmente por um período de 60 dias a contar do seu início".
Marta Temido assinalou que foi dito pelos peritos que "será um confinamento desse tipo que nos permitirá, estimativamente, ter uma ocupação das UCI abaixo das 200 camas e uma incidência a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes".
"Apesar de estar a produzir resultados é bastante evidente que o nível de incidência em que ainda nos encontramos aponta neste sentido", alertou.
Os resultados apresentados sobre a perceção da confiança dos portugueses no processo de vacinação e na adesão à vacinação "mostram uma intenção elevada" da parte da população em se vacinar, o que "transmite confiança nas vacinas". Este é um "indicador importante para a recuperação do país" e que deve "ser lido de acordo com aquilo que é a escassez de vacinas que ainda continuamos a enfrentar", sublinhou Marta Temido.
Por fim, a governante referiu-se ainda à necessidade de planear o futuro alargando e multiplicando a testagem massiva.
"A testagem é essencial, o rastreio é essencial, para conhecermos o estado de infeção na população. Sabemos que quando há um decréscimo de incidência, tende a haver uma menor procura de casos pela parte dos cidadãos e temos que contrariar essa natureza", disse, referindo-se concretamente ao alargamento dos testes rápidos de antigénio para "que em cada momento consigamos perceber o estado da circulação do vírus na população".
Concluindo, Marta Temido deixou "a nota da preocupação em manter uma incidência baixa; a nota de monitorizar a circulação de novas variantes (através do alargamento da testagem mas também do rastreio de contactos e sequenciação genómica) e a nota da desejável aceleração do processo de vacinação que está dependente do abastecimento ao país".
Questionada sobre se o país tem capacidade para alargar a testagem, Marta Temido respondeu afirmando que alguém que foi contacto de um caso positivo, independentemente de ser contacto de risco elevado ou baixo, deve beneficiar sempre de um teste.
"Não é uma limitação logística ou de número de testes que nos impedirá de alargar essa testagem", assegurou, acrescentando que a testagem "não será uma alternativa ao confinamento". "É uma medida que ajuda a prevenir um descontrolo da infeção", disse.
Por fim, a ministra confirmou a saída do epidemiologista Manuel Carmo Gomes das sessões do Infarmed "por razões da sua vida profissional", continuando, contudo, a "apoiar o grupo". Sendo também membro da comissão técnica da vacinação contra a Covid-19, o facto de deixar de realizar exposições públicas será "uma questão de gestão de agenda", explicou, recusando a ideia de se tratar de colocar um dos peritos mais críticos "nos bastidores".
Recorde a declaração da ministra:
O Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente do Parlamento e partidos estiveram hoje reunidos com epidemiologistas, desta vez por videoconferência. Marta Temido participou na reunião de forma presencial.
Portugal continental entrou num novo confinamento geral no dia 15 de janeiro, com os portugueses sujeitos ao dever de recolhimento domiciliário, em que apenas se prevê deslocações autorizadas num quadro muito limitado, para comprar bens e serviços essenciais ou desempenho de atividades profissionais.
Inicialmente, o Governo manteve as escolas com o ensino presencial, mas corrigiu essa decisão na semana seguinte e suspendeu as aulas de todos os graus de ensino face ao continuado agravamento da situação epidemiológica do país.
O Governo determinou a obrigatoriedade do teletrabalho, sempre que as funções em causa o permitam, sem necessidade de acordo das partes, prevendo que o seu incumprimento seja considerado uma contraordenação muito grave.
Ao fim de três semanas de vigência de normas apertadas de confinamento, o país tem registado nos últimos dias sucessivas reduções do número de infetados com o novo coronavírus, embora os hospitais permaneçam sob grande pressão e continuem a aumentar ligeiramente o número de internamentos e de doentes em cuidados intensivos.
Entre os epidemiologistas, prevalece a tese de que o país não poderá começar a desconfinar enquanto não baixar de forma sustentada para os dois mil casos novos de infeção por dia.
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