"Longe de mim ser a Amália. Não sou, não quero. Sou a Raquel Maria"
Estivemos à conversa com Raquel Maria, uma das semifinalistas do 'All Together Now'.
© TVI
Fama All Together Now
Na noite deste domingo, dia 13, Raquel Maria foi apurada como uma das semifinalistas do 'All Together Now'. A concorrente, natural de Castelo Branco, continua determinada em vingar no mundo da música e em orgulhar a família, que desde cedo a apoiou na paixão pelo fado.
Tem 33 anos, não sobe ao palco sem xaile e concilia o amor pela música com o trabalho num call center. Estivemos à conversa com Raquel Maria sobre o passado conturbado que a levou a encontrar no fado uma forma de sarar as feridas e as perspetivas para o futuro após a participação no programa da TVI.
Como está a ser o feedback da atuação de ontem?
Está a ser uma loucura. Já são centenas de gostos a mais nas minhas redes sociais, muitas partilhas, muita gente a apoiar. São cada vez mais pessoas a conhecer-me e é também esse o objetivo que me faz estar aqui: dar-me a conhecer.
Ainda está em competição, mas como olha para o futuro depois de participar num programa com tanta exposição e depois de uma atuação tão elogiada?
Gostava de fazer carreira do fado e que alguém me ajudasse a gravar um CD porque tem um custo muito elevado. Gravei agora um single, o 'Fado Liberdade', e só esse fado ficou-me caro com videoclipe e estúdio. O que queria mesmo era que alguém aparecesse e quisesse produzir um álbum para que eu pudesse ter outro tipo de trabalho que não cantar fados que já existem. É esse o meu intuito.
O fado está presente desde cedo na sua vida?
Não, era uma cantora de soul e blues e no dia 1 de julho de 2018 concorri no concurso 'Amália Rodrigues', realizado no Fundão, que é a terra da Amália, e nesse concurso estava o Joel Pina e foi ele que me ofereceu o primeiro prémio. Desde aí nunca mais deixei o fado. Não me posso queixar, tenho tido trabalho. Mesmo durante a pandemia, todos os meses tenho estado em atividade. Faço atuações um pouco por todo o país e também em Espanha.
Já tem a experiência de palco, agora o objetivo é mesmo a aposta na produção.
Exatamente, seria mesmo nesse sentido. Ter alguém que me ajudasse porque não tenho possibilidades monetárias.
O que tem da alma de fadista?
Em primeiro lugar, não canto sem xaile. Mas não sei descrever se tenho ou não alma de fadista, isso são as outras pessoas que o verão em mim. Dou muita importância aos poemas do fado que canto.
O que transporta dos seus ídolos do fado para si?
Cada ser é um ser individual. Efetivamente a pessoa que mais ouço é Amália Rodrigues, mas longe de mim ser a Amália Rodrigues. Não sou, não quero. Sou a Raquel Maria. A minha inspiração está nela, mas a minha alma não.
Raquel Maria no palco do 'All Together Now'© TVI
Outra das inspirações é a sua mãe. É a sua fã número 1?
O fã número 1 era o meu avô, indiscutivelmente. Quando ele estava bastante doente, jantava com ele todos os dias no hospital e cada vez que eu chegava ele dizia 'já lá vem a minha Raquel' e pedia-me para lhe cantar fado porque era a forma que ele tinha de estar mais próximo de mim. Ele também é a minha grande inspiração. Nós os três - eu, a minha mãe e o meu avô - somos muito conectados.
A família é um tema que a deixa particularmente emocionada.
Sim, não sei bem como ultrapassei a morte do meu avô. Para mim, ouvir a palavra mãe... A minha mãe e eu somos a continuação uma da outra, não há nada que nos separe. Ela é a mãe, a amiga e a confidente.
Referiu que a infância ficou marcada por alguns episódios conturbados que ainda hoje a marcam. O fado é uma forma de sarar essas feridas?
É mesmo isso. O Cláudio [Ramos] perguntou-me se aquilo que vivenciei me fez experienciar o fado desta forma e, sim, inevitavelmente foi. A forma de cantar, vem tudo daí, dessa opressão de que fui alvo em criança e que deixou marcas irreversíveis. Está tudo interligado, a minha forma de interpretar o fado é uma forma de fugir a essa solidão. O divórcio dos meus pais foi entre os meus oito e 13 anos, estava a construir-me como ser humano. Tudo o que vivenciei naqueles anos foi muito importante.
Quando fala em opressão refere-se ao que sentia consigo mesma ou o que a família a fez sentir?
Fui psicologicamente mal tratada e não se pode fazer isso a uma criança daquela idade. O divórcio foi mesmo muito complicado. Eu, a minha mãe e a minha irmã tivemos de recomeçar. Ter uma casa, um carro, porque perdemos mesmo tudo.
Sente que ao investir na sua carreira como artista é uma forma de superar esse passado?
Felizmente já superei. Fui para a faculdade, trabalhei três meses nas limpezas, sempre trabalhei. Neste momento, não vivo só da música, trabalho há 12 anos num call center - é um trabalho muito desgastante -, para poder ter tudo o que tenho. Faço o que for preciso e luto para que um dia possa viver da música, e ajudar a minha mãe.
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