Joel Plácido é o verdadeiro nome de Jimmy P, o alter-ego que nasceu de uma piada entre amigos e é hoje a designação de um dos nomes mais sonantes do rap português.
Filho de um antigo jogador de futebol, apaixonou-se pelo desporto-rei... Mas como não há paixões mais fortes que o amor, foi nos palcos, ao invés de nos relvados, que escolheu ser 'abensonhado'.
A evolução na carreira, o estado atual do rap em Portugal e os desafios enquanto pai num mundo onde a representatividade "tem ainda um longo caminho a percorrer", são os pontos 'chave' sobre os quais nos fala em entrevista ao Fama ao Minuto.
Jimmy, enquanto embaixador da série Marvel Spidey, começo por perguntar-te: és fã de super-heróis?
Sim, claro que sim. Cada um de nós tem as suas referências mediante cada época e, claro, eu não fujo à regra. Acho que é algo essencial até.
És pais de duas meninas, elas preferem os super-heróis ou as princesas?
Vão variando, mas, por acaso, são mais fãs de super-heróis.
Preferi o quente da lareira e ficar em casa a escrever canções do que ir treinar futebol à noite, em pleno inverno, com chuva e frioSe tivesses de ser um super-herói, qual escolherias ser e porquê?
Sempre tive um fascínio especial pelo Super-Homem. Não só porque foi uma figura muito presente no imaginário das crianças da minha época, mas também porque voava… Acho que o escolhia por isso.
O talento para a música é o teu superpoder?
Bom, sou suspeito, obviamente, mas vou dizer que sim. É a minha carreira que me tem permitido dar uma vida estável à minha família e, por isso, tenho que dizer que sim.
A música sempre fez parte da tua vida e o sonho sempre foi seres artista?
Sempre fez parte. Desde que tenho memória a música sempre foi algo muito constante e presente no seio da minha família. E quando comecei a tentar fazer as primeiras canções, sim, passou a ser um sonho que, felizmente, fruto de muito trabalho e perseverança, consegui tornar realidade.
Sendo o teu pai [Jorge Plácido] uma grande figura do futebol português, nunca ponderaste seguir-lhe os passos?
Sim, isso foi algo muito natural. Sempre adorei e continuo a ser um apaixonado por futebol. Modéstia à parte, até tinha (e continuo a ter) jeito [risos]. Sempre joguei em alguns clubes (uns até relevantes), enquanto federado mesmo. Depois, já numa iniciação da vida adulta, preferi o quente da lareira e ficar em casa a escrever canções no papel do que ir treinar futebol à noite, em pleno inverno, com chuva e frio. E acho que foi a melhor opção, sem dúvida.
O curso de Marketing foi na altura um plano B?
Não. Foi o curso que eu escolhi aquando da minha transição para o ensino superior e no qual me formei.
De Joel, a Supremo G até chegar a Jimmy P. Queres explicar a origem destes dois nomes artísticos e a transição que houve de um para outro?
Supremo G foi o meu primeiro alter-ego. Era o meu nome artístico junto do meu primeiro núcleo e coletivo na música. Ainda enquanto Supremo G, sempre referi nas minhas músicas 'o vosso boy Jimmy'. Por isso, o nome Jimmy sempre esteve presente. Não lhe chamo uma transição pura e dura ou uma mudança, foi algo natural que acompanhou a minha maturação na música. O Jimmy vem do meu grupo de amigos que vivem em França, surgiu numa 'private joke' em que me começaram a chamar-me Jimmy e eu depois, enquanto nome artístico que adotei, apenas lhe acrescentei o P de Plácido.
Desistir [da música] não, mas quem disser que nunca teve o seu devaneio, menteA verdade é que estás hoje entre os grandes nomes da música portuguesa atual, como foi o caminho até chegares a este patamar?
Foi, e continua a ser, essencialmente, um caminho de trabalho constante, perseverança e nunca achar que já fizemos tudo.
Se tivesses que apontar o tema que representou um ponto de viragem na tua carreira, qual seria?
'Warrior' [um tema feito em parceria com Dengaz].
Alguma vez pensaste desistir da música?
Desistir não, mas quem disser que nunca teve o seu devaneio, fase menos boa (em vários aspetos) e/ou passar por momentos mais desequilibrados nesse sentido, mente! Como é lógico, isso já me aconteceu. E ainda bem, porque é também com esses momentos que adquirimos e absorvemos muita coisa que depois transformamos em força para fazer acontecer.
Preconceito em relação ao rap? Já não, mas há falta de visão, elevação, esclarecimentoNa tua opinião, o que mudou no rap em Portugal nos últimos anos?
Tem acontecido um natural surgimento de novas variantes dentro deste estilo que é o rap. Natural porque vem com o que se faz lá fora, nos Estados Unidos principalmente. Acho que, de forma mais numerosa, aparece gente a querer fazer algo e a querer mostrar-se. E creio que, se for pelas razões certas, é bom.
Sentes que ainda existe preconceito, no panorama artístico, em relação a este estilo de música?
Preconceito como havia já não, mas há falta de visão, elevação, esclarecimento… Isso sim.
A verdade é que de há uns anos para cá este e outros estilos de música têm estado cada vez mais presentes, por exemplo, nas rádios portuguesas. Há um maior interesse do público, mais abertura em relação ao estilo de música em si ou também uma tentativa dos artistas em tornarem o rap mais comercial?
Acho que a massificação do estilo pode levar a ser feito um rap mais 'comercial', como dizes, mas eu não coloco esses rótulos assim. Aliás, simplesmente não coloco rótulos.
A necessidade de uma das minhas filhas ter uma boneca minimamente parecida com ela, levantou muitas questões no nosso seio familiarSentes que isso pode ter acontecido com as tuas músicas e que o que produzes agora é mais comercial do que no início da tua carreira?
Sinto que houve uma maturação musical. O que eu apresento agora ao meu público é realmente música.
As tuas filhas, Luana e Lara, gostam de te ouvir cantar?
Vá-se lá entender porquê, mas sim [risos].
A Luana e a Lara serviram de inspiração a um projeto familiar com uma mensagem muito importante, as bonecas Loretas da Mrs. Ertha, criado pela tua mulher - Sílvia Plácido. Acreditas que hoje, com muitas Loretas espalhadas por aí, tu e a tua família conseguiram concretizar o sonho de muitas meninas e apelar à representatividade?
Mais do que inspiração, foram o mote. A necessidade de uma delas ter uma boneca minimamente parecida com ela levantou muitas questões no nosso seio familiar. Foi um 'reality call'.
A diversidade e a representatividade tornaram-se assuntos ainda mais importantes para ti desde que foste pai?
Em certa medida, sim. O facto de quereres o melhor para os teus filhos, quereres fazer valer os valores que defendes e lutares para que eles (neste caso elas) vivam num mundo melhor, torna-te um defensor mais acérrimo dos teus princípios.
Jimmy P ao lado da mulher e das filhas na apresentação da série 'Marvel Spidey'© DR
No que diz respeito ao racismo, diversidade e representatividade, consideras que estão a ser feitos progressos ou há ainda um longo caminho a percorrer?
Acho que ainda há um longo caminho a percorrer. A partir do momento que o problema é estrutural e é muito fundo, ou seja, vem de base, isso faz com que, infelizmente, ainda exista um longo caminho a percorrer.
Alguma vez sentiste na pele falta de representatividade ou preconceito em relação ao teu tom de pele?
Sim. Várias vezes.
Falemos do futuro, há novidades para breve que nos possas contar?
Vão surgir aí umas coisas interessantes. Para já não posso revelar, têm de estar atentos.
O que dirias ao menino Jimmy que sempre sonhou com a música? Que já estás no teu 'Lugar ao Sol'?
Diria que vejo uns raios de luz, mas ainda tenho coisas a fazer antes de ficar a apreciar a vista.
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