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"A música tem uma força incrível, transformadora"

Martinho da Vila esteve à conversa com o Notícias ao Minuto na véspera de subir ao palco do festival solidário 'Connect for Ukraine', no passado fim de semana.

"A música tem uma força incrível, transformadora"

Sempre a sorrir e com muito boa disposição, Martinho da Vila mostrou-se satisfeito por poder contribuir com a sua música numa ação solidária, afirmando que a música "tem uma força transformadora". 

Depois de lançar o álbum 'Mistura Homogênea', o cantor brasileiro prepara agora um novo trabalho - que ainda está a ser gravado e que sairá no próximo ano.

O carinho que tem por Portugal também foi tema de conversa com o Notícias ao Minuto, com o artista a destacar o fado. 

Quando estou no Porto, gosto mais do rio Douro. Quando estou em Lisboa, gosto mais do rio Tejo. O meu coração é vagabundo [risos]. Não é fiel. 

Começo por citar palavras suas: "A música sempre caminha com as lutas". De que forma é que acredita que a música pode ajudar nas lutas?

A música tem uma força incrível. Se a pessoa estiver meio tristonha, se cantar uma música triste vai para o poço. Se cantar uma música mais alegre, começa a recuperar e passado um bocado fica tranquila. Ela [a música] tem essa força, tem uma força transformadora. É incrível.

Por exemplo, se colocamos uma pessoa a pular durante uma hora no mesmo lugar, não aguenta. E numa boate [discoteca] pula a noite inteira [risos]. Porque está movido pela música. Nos quartéis, quando há aquelas marchas, os soldados saem todos animados, mas depois vão perdendo o animo. Aí colocam uma banda de música estratégica, começa a tocar e eles começam a animar-se. Passam pela música animadíssimos. Vão sendo alimentados pela música. 

Qual o lugar que Portugal ocupa no seu coração?

Quando estou no Porto, gosto mais do rio Douro. Quando estou em Lisboa, gosto mais do rio Tejo. O meu coração é vagabundo [risos]. Não é fiel. 

O que mais destaca em Portugal?

Gosto da música portuguesa, gosto de cantar os fados à minha maneira, ritmado… Gosto muito do vosso jeito. Os portugueses são muito carinhosos... São maravilhosos. 

E quando vem a Portugal vai sempre a uma casa de fados…

Sim, gosto. Ainda não fui, mas ainda vou. Eu gosto da casa de fado não só pelo fado. É um ritual. Tu chegares lá, bebes um vinho, ouves a música… É um programa. Maravilhoso! Gosto muito é de fado vadio, com desgarradas. 

Na pandemia acabou o livro que lançou este ano, ‘Contos sensuais e algo mais’. O que representa para si a escrita? É quase como se fosse um refúgio ou um desabafo?

Tenho mania de escrever, mas escrever não é prazeroso, é meio até doloroso. Nem quando colocas um ponto final ficas bem com o livro, fica sempre alguma coisa a moer na cabeça, alguma coisa que achas que não fizeste direito… Agora, quando ele já está editado, pronto, recebes na mão e aí é que dá prazer. 

O meu mais recente livro é de contos. No conto podes fantasiar, é muito melhor de escrever e de ler também. Costumo ter na cabeceira um livro de contos, de poesia, porque o conto não precisas de ler em sequência. E a poesia também - essa é melhor de ler porque não é para entender, é só para sentir. Os poetas têm a sua licença de viajar. 

Mas o livro foi terminado na pandemia…?

Tinha uns contos soltos que dava um livro muito magrinho, mas na pandemia escrevi mais alguns e não tem quase nada de pandemia. 

Pegando pelo facto de ter sido acabado de escrever na pandemia, pode dizer-se que foi o seu refúgio?

Não foi tão ruim assim [nesse sentido]. Não se pode dizer que foi boa, porque uma pandemia nunca é boa, mas deu para [acabar projetos], trabalhei umas músicas, organizei um disco que estou para lançar. Já estou a gravar…

Quem aprendeu a ser racista, pode aprender a amar

Pegando sobre o seu mais recente álbum, ‘Mistura Homogênea’, mais precisamente a música ‘Vidas Negras Importam’. Em entrevistas anteriores disse que o racismo "é um mal que tem cura". Este mal algum dia pode ser 'aniquilado'?

Há um pensamento do Nelson Mandela que diz que ninguém nasce racista, são ensinados a ser racistas pelos exemplos familiares, pela sociedade… Quem aprendeu a ser racista, pode aprender a amar. Por isso é que disse que é um mal que tem cura. 

E acha que a sociedade atual caminha para a cura ou ainda falta muito para chegarmos até ela?

Estamos a caminhar no sentido da cura porque antigamente era aceitável. Hoje já não. Ninguém quer ser racista. Até pode ser racista, mas não se quer mostrar como tal. E também o esclarecimento, o desenvolvimento... o tempo desenvolve a cabeça, a mente. A tendência é melhor. 

As redes sociais vieram dificultar esse caminho?

Ajuda um pouco os racistas, porque podem manifestarem-se sem se identificarem. Mas não muito.

Aos 84 anos, o que mais aprendeu com a vida?

Viver é aprender. O que mais aprendi não sei. Sei que aprendi muito e ainda tenho muito para aprender. 

Leia Também: "Este festival é importante. Além de ser estimulante, faz-nos bem"

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