Luís Sequeira: "Sem a Marisa Liz não teria uma carreira na música"
Estivemos à conversa com o músico, que foi um dos vencedores do programa da RTP 1 'The Voice'.
© Foto - Martim Torres
Fama Luís Sequeira
Luís Sequeira ficou conhecido do público em 2014, após a sua participação no programa de talentos da RTP1 - 'The Voice Portugal'. O desafio foi um marco na vida do artista. Desde então teve a certeza de que era a música que queria seguir, deixando para trás o sonho do futebol.
Mas este não foi um caminho fácil. Algumas escolhas menos acertadas levaram a que anos passassem e o sonho de lançar um álbum por conta própria não se concretizasse.
Foi com o apoio de Marisa Liz, sua mentora no programa, que Luís conseguiu dar a volta por cima.
Já lançou singles como 'Se Ao Menos Eu Te Odiasse' e 'Só', mais recentemente.
Estivemos à conversa com o músico que se prepara para lançar o seu primeiro disco no próximo ano. Esta foi uma conversa onde sorrisos e boa disposição não faltaram.
O seu novo single 'Só' fala sobre a importância de gostarmos de estar sozinhos. Porquê este tema?
Por tudo o que passámos [na pandemia]. Apesar de ter estado sempre em contacto com a família e amigos, um isolamento é sempre um isolamento. Muitas vezes ligamos a solidão a uma coisa má e pesada. Pode ser pesada, mas não necessariamente má. Se lidarmos bem connosco mesmos, tudo o resto fica mais fácil.
Para o Luís sempre foi fácil estar sozinho?
Eu, por acaso, gosto muito de estar sozinho. Gosto de estar comigo, a escrever e a compor. No final do dia tenho companhia, mas há que ter uma certa saudade. Porque o amor é a falta.
Para um artista será mais fácil desfrutar da sua própria companhia?
Falo por mim: a leitura, a composição e a escrita é por si uma companhia. As horas passam e nem dás por isso. É nessas brincadeiras que surgem as canções. Isso aconteceu-me com 'Se Ao Menos Te Odiasse', a música já estava feita quando o meu pai a escreveu.
Cantar uma música escrita pelo seu pai deve ter sido muito especial.
Claro. O meu pai escreve muito bem. Foi ele o responsável por este meu lado artístico. O meu pai ensinou-me a sentir, a apreciar a arte, a contemplar e a apreciar a poesia das coisas.
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Sempre quis ser músico?
Não. Sempre quis ser jogador de futebol. Só que a coisa não correu bem, porque ali pelos meus 16/17 anos a música começa a ser mais séria na minha vida com aulas de canto e guitarra. A paixão era idêntica à do futebol, só que parecia que as coisas corriam melhor.
Quando participou no 'The Voice' já tinha em mente que queria uma carreira ou foi mais na desportiva?
A segunda opção [ri-se]. A minha mãe é que me inscreveu. Já tinha cantado na festa dos 50 anos do meu tio com os The Lucky Duckies. Antes de me inscrever no 'The Voice' inscrevi-me no 'Ídolos' uns anos antes com uns amigos por brincadeira e depois no 'Fator X', só que não correu bem.
Todos sentem um nervosismo de morte. É preciso uma coragem imensa porque aquilo pode correr muito mal O que é que se sente na altura da audição?
Todos sentem um nervosismo de morte. É preciso uma coragem imensa porque aquilo pode correr muito mal. É uma coisa natural, é tudo gravado no momento, é uma grande responsabilidade, porque toda a gente está à espera para ver o que vales.
Mas no momento em que começas a cantar vais entrando num sítio que faz muito sentido. Não há nada que interesse, és só tu e a música. É um momento muito nervoso, mas muito bom.
Na altura em que as cadeiras viraram já sabia o mentor que queria?
Nos dois minutos em que estive a cantar escolhi os quatro [ri-se]. O que eu conhecia mais e aquele para que estava mais apontado era o Rui Reininho. Para mim GNR era uma referência. Quando virou o Anselmo, pensei: 'bem, agora tenho de escolher o rapaz porque foi o primeiro a virar'. Depois virou o Mickael. Agora, quando vira o Reininho e a Marisa Liz ao mesmo tempo... Com os argumentos de cada um houve ali um clique emocional com a Marisa.
Quando saio do 'The Voice' e inicio a minha carreira musical, na verdade, sem a Marisa isso não aconteceria Ficou uma amizade com a Marisa.
Sim. Quando saio do 'The Voice' e inicio a minha carreira musical, na verdade, sem a Marisa isso não aconteceria. Ela é muito importante na minha carreira. Para além de ser uma excelente pessoa, tornou-se uma referência. Aprendi muito com ela. Uma das coisas que ela me ensinou foi a sentir as palavras em português. Escolhi a Marisa com o coração e escolhi muito bem.
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Com o programa acabou por ficar conhecido do público. Lidou bem com a exposição?
Não é que me tenha feito confusão porque, modéstia à parte, acho que lido bem com pessoas. Adoro ouvir pessoas e aprender. É um privilégio ouvir tanta gente que gosta do meu trabalho.
Quando sai do 'The Voice' e começa uma carreira, se por um lado o programa lhe deu o impulso que precisava, por outro, não se acaba por 'cair no esquecimento' quando começa uma nova edição?
A seguir ao 'The Voice' tive dois, três anos do melhor que pode haver a nível musical e de exposição enquanto artista. Fui convidado para fazer uma novela, 'Água de Mar', e nem sou ator, fui lá para fazer figura. Mas repare: hoje, tirando os concertos que dei nesse tempo, ainda não lancei um álbum.
Não encontrei as condições certas, tropecei pelo caminho. Não vinha minimamente preparado
Porque é que isso aconteceu?
Porque não encontrei as condições certas, tropecei pelo caminho. Não vinha minimamente preparado. Entretanto veio a pandemia e não me correu bem nesse aspeto [para criar um álbum].
Foi a fase mais triste e preocupante, porque a pressão era muita. A minha vontade era de ir para outro sítio e as pessoas não percebiam. Tive de procurar ajuda, contactar advogados
E que tropeções foram esses?
Entrei numa agência quando saí do 'The Voice' e aquilo não correu bem. Divergimos a certo ponto em opiniões e foi muito chato porque havia um contrato. Foi a fase mais triste e preocupante, porque a pressão era muita. A minha vontade era de ir para outro sítio e as pessoas não percebiam. Tive de procurar ajuda, contactar advogados... A coisa correu bem porque o contrato expirou.
Entretanto, entre o 'The Voice' e esses processos todos, quem estava sempre do meu lado a guiar-me eram a Marisa Liz e o Tiago Pais Dias. Aquilo passa e surgem as condições na vida deles que lhes permite ter uma agência, a Nação Valente, que trabalha comigo. O Tiago é o meu produtor e é o autor do 'Só' a nível de composição. Em 2017 ele perguntou-me: 'puto, vamos trabalhar?'. Desde então estamos a trabalhar juntos.
E nessa fase em que lutava para ter um disco próprio e uma carreira musical não havia a tendência de olhar para outros artistas, talvez menos talentosos, e de achar que deveria estar nesse lugar?
Ficas inseguro e dá que pensar. Isso é tudo muito giro o talento, mas não se pode classificar assim as coisas. Sabemos que há vozes que a nível de canto em Portugal são horríveis, se se pedir para cantar outra coisa aquilo complica-se. No entanto compensam, alguns deles, com uma densidade literária e poética. Assim como há artistas que cantam divinalmente mas que a nível de letra é insípida e o arranjo musical é básico e sem graça.
No entanto não consigo deixar de sentir que se tivesse o mesmo tipo de oportunidade, que estou a ter agora, também podia estar ali. O que é que nos resta fazer? Não é baixar a cabeça para desistir, mas sim trabalhar. É agarrar nessa inveja saudável que te foca para trabalhares melhor.
Sente que há fairplay em Portugal, um sentido de entreajuda entre os músicos para aqueles que estão a começar?
Seria um bocado hipócrita dizer o contrário. Eu sou fruto de uma oportunidade que dois músicos me deram, que podiam ter seguido a sua carreira, mas que sacrificaram tempo longe das famílias deles. Só se pode estar humilhado, no bom sentido, e grato. Sou muito sortudo.
No entanto, o que verifico hoje em dia é que entre os músicos há uma grande solidariedade, mas os músicos não são só músicos, são as estruturas que os representam. Como dependemos das estruturas não podemos ajudar outro artista sem as informar. É complexa essa questão porque não dependemos só de nós.
Hoje o tempo de atenção é à volta de sete segundos, porque não é o conteúdo que atrai é o ruído. Repare-se que os vídeos no YouTube para os miúdos e mesmo para nós é tudo aos gritosFoi fácil para o Luís adaptar-se ao mundo das redes sociais enquanto músico?
Não. Estou mais empenhado em desenvolver isso porque é uma obrigatoriedade, não há como dar a volta a isso. Assim como a comunicação social. Tens que ir à televisão, se não não existes. Na altura dos nossos pais não havia tantos estímulos e focava-se numa coisa. Hoje o tempo de atenção é à volta de sete segundos, porque não é o conteúdo que atrai é o ruído. Repare-se que os vídeos no YouTube para os miúdos e mesmo para nós é tudo aos gritos.
Sente isso ao fazer uma música? Que não pode durar tanto tempo?
Na música podes fazer o que quiseres, podes até fazer uma de 12 minutos, não vai é resultar como single e ter exposição. Isso está mais que estudado, não há aqui espaço para poesias. Os singles hoje em dia são como amostra da pesca, iludem um bocadinho o peixe para vir para ao pé de ti. Neste caso o peixe é o público. Eu próprio já não ouço música como ouvia há 15 anos ou há 10.
Quero entrar no mercado com uma no cravo outra na ferradura, que é não ser 'comercialeco' no mau sentido, nem ser tão complexo ou inatingível por só eu perceber o conceito
Tem medo de se tornar comercial?
Tenho, tenho. Mas também tenho medo do oposto. Preciso de viver da música, porque eu não sei fazer mais nada e não quero fazer mais nada. Ia ser infeliz. Para se viver da música há que corresponder com o que a maior parte das pessoas gostam e o que as pessoas gostam é o que é comercial. Então tem de se beber com o que há de bom no comercial, porque há coisas muito boas.
'Tudo o que é comercial não presta': isso é mentira. Quero entrar no mercado com uma no cravo outra na ferradura, que é não ser 'comercialeco' no mau sentido, nem ser tão complexo ou inatingível por só eu perceber o conceito. Assim é que se faz verdadeiramente a diferença, acho eu. Quero beber das minhas influências alternativas e das comerciais e juntar tudo. Estou a tentar entrar no mercado com uma versão diferente do pop.
Com que artistas nacionais gostaria de fazer um dueto?
Número 1: Marisa Liz. Gostava de fazer uma música original com ela. Depois seria com o Reininho. Adorava cantar com a Carminho e com o Camané. Tenho imensas referências.
O que é que é preciso para ser amigo do Luís?
Dares o teu coração, porque eu dou o meu. É um negócio simples.
E isso às vezes não corre mal?
Uma amizade se for assim nunca será má.
E para o tirar do sério?
Sou uma pessoa pacífica, não quero lutas, fujo de brigas e coisas assim, mesmo que tenha razão. Agora, quando vejo notícias de filhos a baterem nos pais, de velhotes a serem mal tratados, isso tira-me do sério.
Caso a música não dê certo tem um plano B?
Não sei como é que isto não vai dar certo. Se tiver de fazer outra coisa para sustentar este sonho, assim o farei, mas tenho esse foco.
O que é que diria ao Luís quando foi participar no 'The Voice'?
Nada. Perguntava se estava bem e dizia para curtir. Foi isso que eu fiz.
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