Há 40 anos nascia em Angola Matias Damásio, recebido por um país em guerra e com morada no bairro da Lixeira, em Benguela, sem nunca imaginar que seriam estas as origens que marcariam para sempre o seu destino.
A música chegou-lhe aos ouvidos sem opção de escolha, ou não tivesse crescido a ouvi-la no bairro de manhã à noite. Os acordes do destino estavam em harmonia e as canções da infância deram-lhe ritmo para se apaixonar pelas melodias certas e aos 14 anos aventurar-se a tocar nas ruas de Luanda. Assim surgiram os primeiros trocos, os primeiros versos, e nasceu o artista.
Dono de uma carreira de enorme sucesso em Angola e Portugal recusa considerar-se "um grande cantor", assume sem medos os desafios que a vida lhe foi colocando e fala sobre eles com a mesma alegria e leveza que usa para escrever e cantar sobre o amor.
A imponência do Salão Nobre do Campo Pequeno e as primeiras chuvas de outono não foram, felizmente, suficientes para esfriar a entrevista de 'coração aberto' que se avizinhava. Matias Damásio recebeu o Notícias ao Minuto a poucos dias de subir a dois dos mais importantes palcos portugueses para nos contar a história de uma vida inevitavelmente ligada à música.
O Matias diz que cresceu a ouvir muita música e que também foi por isso que acabou por tornar-se artista. Era impensável ter seguido outro caminho?
Fui obrigatoriamente levado a esse sentido de gostar de música ou estar ligado a ela. Havia música no meu bairro 24 sob 24 horas, não havia leis que previam legislação de som. Vendiam bebidas alcoólicas nas casas ao som de Bob Marley, Michael Jackson. Depois, quando fui para Luanda, conheci aos 12 anos uns amigos que tocavam viola e tudo se encaminhou para a música. Fui à escola, estudei pedagogia, dei aulas, e era bom aluno, mas depois comecei a sentir que estudava três horas e tocava 12. Comecei a perceber que havia um desequilíbrio muito grande entre as paixões e dediquei-me à música. Se me perguntar, o que sei fazer é isto.
Vou cantar e nem pergunto ao meu empresário quanto é que cobrámos, e vou com tudoMas a par da carreira artística, o Matias também é um empresário de sucesso.
Obviamente que desde criança sou um vendedor nato, aprendi no Roque Santeiro - o maior mercado informal de Angola. Costumo dizer que não sou empresário, sou negociante. Tenho esse espírito empresarial e vários negócios, mas costumo dizer: se ganhar um milhão com um negócio e mil com a música… É a música que me dá prazer e emoção. Cantar e estar no palco é o maior privilégio que tenho na minha vida, é o que me faz mexer, é o que me move. Vou cantar e nem pergunto ao meu empresário quanto é que cobrámos, e vou com tudo.
O importante para si é ir?
Ir para o palco é bom, mas adoro igualmente a capacidade que existe de estarmos em casa só com o nosso sentimento, pegar numa viola e no papel, e transformar as nossas palavras na canção de milhões de pessoas. Todos cantarem a nossa canção e apropriarem-se das palavras é um exercício mágico.
Acho que as pessoas admiram-me, gostam de mim, mas eu não me considero ainda um grande cantorContinua a inspirar-se nas histórias da sua vida para as letras das canções?
Também. A idade permitiu-me viver várias histórias e acompanhar outras tantas. Os filmes, os artistas, Luis Miguel do México, Roberto Carlos no Brasil, o próprio Tony Carreira em Portugal. Esse misto todo de emoções, artistas, vida... Sou uma pessoa criada na rua, tenho muitas referências sobre o que é um amor real na pior dificuldade e no melhor que há.
Li uma entrevista do Matias, de há uns bons anos, em que dizia algo como: 'ouço muitos elogios, mas não me sinto um grande cantor'. Esse pensamento já mudou?
Acho que é difícil mudar. Percorro muitos lugares e encontro tantos talentos, às vezes não conhecidos, há pessoas que cantam muito bem neste mundo. Sinto que sou uma pessoa que explora bem os recursos que tem, não acho que seja um grande, grande cantor. Acho que as pessoas admiram-me, gostam de mim, mas eu não me considero ainda um grande cantor, e agradeço todo o carinho, mas não me considero assim… Sou bom, mas um grande, grande, não [risos].
A verdade é que os triunfos falam por si. O seu mais recente tema, 'Como Antes', voltou a ser um enorme sucesso.
O ‘Como Antes’ foi de facto um regresso em grande. Sei que algumas pessoas me acham o melhor, mas assumir isso já é uma responsabilidade enorme [risos]. Gosto que me cataloguem com estes títulos, o grande cantor, o maior. Vejo o que as pessoas dizem, não tenho é ainda coragem de assumir esse papel, mas sinto-me muito lisonjeado com os elogios.
A cada ano que passa a canção ganha novo significado, choro mais com ela e percebo-a mais do que quando a escreviQuando está em casa com a viola e o papel consegue pensar nisso, que está a escrever um grande sucesso?
Não, não consegues ter essa noção. É impossível estar a escrever uma canção sozinho numa sala e imaginar… Essa equação é incalculável. As pessoas surpreendem-nos, pegam nos nossos temas e fazem traduções, interpretações, já aprendi com as minhas próprias canções.
Lembra-se de alguma canção em que essa aprendizagem tenha acontecido?
Tenho um tema que se chama ‘Angola País Novo’, que fiz para Angola na altura da paz. Há uns anos, um senhor veio ter comigo e disse-me: ‘um dia, quando cresceres, vais perceber o que tu escreveste’. E eu sinto que a cada ano que passa a canção ganha novo significado, choro mais com ela e percebo-a mais do que quando a escrevi. Nem eu imaginava que aquela canção era tão grande, tanto que ela hoje é como se fosse um segundo hino do meu país. Mas como é que eu, naquele momento, com a idade que tinha, podia imaginar que o tema teria este alcance? É impossível.
A música transborda e passa por caminhos inalcançáveis no nosso pensamento. As pessoas nos hospitais que interpretam a música como uma cura, os casamentos, os milhares de casamentos que os meus temas já fizeram. Nunca imaginei e consigo surpreender-me todos os dias.
Não estando à espera que aconteça, como é que reage a este êxito incrível?
É sempre uma alegria, é uma emoção. É bom quando as canções atingem níveis como o 'Como Antes', em sete meses teve milhões de visualizações, streamings. A minha reação é sempre de muita emoção, sentimento de trabalho cumprido.
Claro que o primeiro tema que toca na rádio, primeiro sucesso, primeiro disco de ouro, é uma emoção que nunca mais vamos sentir, mas depois fica a emoção de querer estar à altura daqueles fãs que acreditam em nós. É a sensação de conseguires estar à altura e não defraudares.
Será a humildade que o caracteriza que o ajuda a chegar de forma tão certeira ao coração das pessoas?
Pode ser, acho que tudo faz parte. A simplicidade das canções tem muito a ver com a minha essência. A minha vida, o meu percurso, transformaram-me em tudo o que sou. Acho que quando se é humilde, olha-se muito à volta e percebe-se que estar aqui é uma dádiva, é um prazer... Mas existem cantores incríveis que nem são ouvidos ainda.
Quero que percebam que também tenho problemas em casa, que tenho um filho com autismo, que fui pobreNão deixa de ser curioso que o Matias tenha tido a música como uma direção, escreve sobre amor e acaba por ter um filho cuja doença [espectro do autismo], como diz muitas vezes, 'é o amor que salva'. Então, está tudo certo?
Está tudo interligado. E o Matias adora cantar, adora tocar. O Matias tinha de nascer no nosso seio. Às vezes, as coisas estão predestinadas para serem assim.
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O Matias já deu entrevistas muito intimistas onde falou sobre o passado, sobre a vida pessoal, revelou que o seu filho Matias foi diagnosticado com espectro do autismo. Estas partilhas aproximaram ainda mais o público de si?
Sim, sinto que estamos conectados. Antes tinha uma dificuldade grande em falar muito sobre a minha vida, mas depois comecei a perceber que as pessoas podiam identificar-se. Quero que percebam que também tenho problemas em casa, que tenho um filho com autismo, que fui pobre, até para incentivar a que entendam que a pobreza não é uma herança, é uma coisa que acontece mas que podem dar a volta por cima, crescer. Sinto que desde que comecei a partilhar as minhas histórias, que pensava que não eram importantes, as pessoas começaram a perceber que sou artista, mas somos todos iguais, todos estamos sujeitos a inúmeras coisas.
Desde que tornei pública a história da minha família comecei a pensar em estratégias para outras crianças com autismoNão houve nenhum arrependimento de ter feito essas partilhas tão pessoais?
Não, absolutamente, estou tranquilo. Sinto que foi um desabafo e é uma terapia poder de alguma forma falar com milhares de fãs que vão aos concertos, que compram os discos. Sou aquele grande cantor de palco, mas sou humano, tenho as minhas dificuldades, não sou perfeito, tenho os meus erros e acho que isso me fez muito bem.
Essas partilhas deram origem a muitas demonstrações de carinho por parte dos fãs.
Sim, as pessoas apoiam, ajudam, incentivam. Já recebi apoio de pessoas com filhos com autismo que me indicam escolas, terapias melhores, tratamentos.
Existe até, através das suas redes sociais, a preocupação de procurarem saber como está o Matias.
Existe, existe. Sentimos muito esse carinho das pessoas e isso para nos é muito gratificante, faz-nos acreditar que não estamos sozinhos e temos outras pessoas connosco.
Hoje em dia muitos artistas usam a sua notoriedade para defenderem as suas causas. Foi isso que quis fazer ao falar do autismo?
Exatamente, desde que tornei pública a história da minha família comecei a pensar em estratégias para outras crianças com autismo e que não têm apoios. Em Angola estamos a desenvolver projetos com o governo para conseguirmos incluir mais crianças no sistema escolar, trazer mais apoio psicológico, terapias. Foram criados uma série de projetos e ideias, inclusive para ajudar outras pessoas.
O Matias já era bastante conhecido em Angola quando os seus temas chegaram a Portugal. Qual a canção ou o momento que fez o 'click' para que passasse a ser um sucesso também por cá?
Eu estava em Angola e não tinha ainda editado um álbum em Portugal. A minha ligação com a Sony Portugal fez toda a diferença, permitiu que editássemos o nosso primeiro álbum de originais aqui, que fosse feito um trabalho de comunicação, e escolhemos o ‘Loucos’ - um single que foi um sucesso extraordinário. Acho que isso mudou logo a perceção que os portugueses tinham sobre a minha música, sobre a minha carreira. O ‘Loucos’ estava editado em África, mas não era o sucesso que foi cá. As realidades às vezes são muito diferentes. Mas o ‘Loucos’ foi o 'click', foi o que fez a diferença.
Além de ter ajudado a consolidar a sua carreira em Portugal, sei que o 'Loucos' tem para si um significado especial. Porquê?
Sou romântico… Essa música faz parte das mil e quinhentas histórias que vivi. É um misto de várias emoções que tenho e que ouço no meu quotidiano. O amor é um tema universal, intemporal e que toca a todos. Esta canção tem um toque muito especial porque fala de um amor alegre, de felicidade. É uma história bonita, que é o que nós queremos todos viver. O final das relações e o começo têm sempre uma emoção muito forte, mas obviamente é melhor começar do que terminar. O ‘Loucos’ fala sobre as estrelas, sobre a neve em todas as estações... Todos somos um pouco românticos e queremos ser felizes no amor.
Adoro falar sobre o amor. Sou feliz com isso, gosto de o fazer, e não me sinto nem um pouco discriminadoEste tema, tal como outros que o Matias canta, é a prova de que a música romântica não tem de ser necessariamente triste.
Não, não tem. Percebi que a alegria, como foi o caso do ‘Loucos’, muito bem escrita chega a muita, muita gente.
O facto de se assumir como cantor romântico nunca lhe trouxe dissabores ou preconceito por parte de outros artistas, por exemplo?
Acho que estou a nadar no oceano certo, porque é uma coisa com a qual me identifico muito. No início da minha carreira, por causa do problema da guerra em Angola, nasci em 1982, e as minhas primeiras canções eram canções de intervenção sobre a paz, sobre os problemas sociais, eram muito fortes e muito ligadas àquele momento. Sentia que era uma necessidade obrigatória de composição. Era o quotidiano que se vivia na altura. Hoje sinto que vou envelhecer a cantar canções românticas. Adoro falar sobre o amor, pego no violão e já estou a pensar numa história de amor. Sou feliz com isso, gosto de o fazer, e não me sinto nem um pouco discriminado. Tento que as canções sejam nem todas muito tristes, nem todas muito alegres e ser criativo no romantismo, como por exemplo na ‘Matemática do Amor’ - que é uma história de equações matemáticas. Tento encontrar um romantismo real, atual, que chegue às pessoas e que seja acima de tudo criativo.
‘Até ontem, só queria beijar na boca, vida louca e bebedeiras’, o tema ‘Teu Olhar’ é romântico e pop, ao mesmo tempo interventivo e muito criativo. Sou um contador de histórias. Quando se é muito lamechas é mais pesado, mas eu por ter essa particularidade de contar várias histórias, às vezes de forma engraçada, tenho sido feliz neste romantismo, não digo novo, nesta forma diferente de tratar o amor.
É uma forma mais leve de falar de amor?
Sim, mais leve. Acho que as pessoas engolem melhor [risos].
Essa leveza parte, uma vez mais, das suas origens?
Sim, sim. Nasci, cresci e vivi em África. Quem nasce em África tem um gosto e uma magia especial, sem desprimor a nenhuma terra, mas África é o berço da humanidade. Os ritmos quentes, o batuque, a kizomba, o kuduro, tudo o que vivemos acaba por num artista como eu ter um grande reflexo, inclusive no ritmo, nas palavras, na forma como falamos que é completamente diferente. Tem um impacto grande na minha vida.
O Matias assume-se como um artista romântico, mas recusa definir o seu trabalho num só estilo musical. Porquê?
O romantismo não é um estilo, é uma forma de estar. Tens românticos na kizomba, no kuduro, no semba. Sou um artista que não tem um estilo definido. Sou um cantor de música pop. O ‘Loucos’ é kizomba, por exemplo, mas é uma kizomba romântica. A ideia que se tinha anteriormente é que a música romântica estava associada a baladas, eu canto todos os estilos: desde kizombas, pop, baladas, rock, é uma mistura de várias coisas, mas sempre com a pitada do romantismo criativo que tento trazer para as minhas canções.
Em Portugal foi a kizomba que abriu um pouco 'as portas' para que artistas africanos, como o Matias, chegassem às rádios, à televisão e até à banda sonora de novelas.
Um bocadinho não, muito.
Ainda assim, diz-se que hoje a kizomba já passou de moda. Esta constante mudança nas preferências do público é um dos motivos pelo qual não quer estar associado a um só estilo musical?
A mensagem que deixo a todos os artistas é que não é bom estar rotulado a um estilo, por isso é que quando vim para Portugal e me perguntavam se era artista de kizomba eu negava categoricamente. Sou artista, ponto. Posso cantar, obviamente, kizomba, mas o que sou é artista. Os estilos passam de moda. Já esteve na moda a kizomba, o reggaeton, agora estamos a caminhar para o funk do Brasil. São ondas, essas ondas vão sempre existir, mas depois dentro das ondas existem os artistas. Considero-me um artista romântico que navega sob vários estilos. Nunca aceitei ser o embaixador da kizomba, sinto que estar ligado a um só estilo neste mundo global e rápido é um risco muito grande.
Hoje há uma revolução muito grande no próprio fado, vemos grandes fadistas a fazerem fusões musicais muito fortes, por exemplo a Ana Moura. Os estilos definidos têm tendência a acabar, o que se vai manter são os artistas, os que navegam pelos sons. Estas conotações específicas, do estilo, vão terminar, acabando por dividir-se em artistas que ou cantam música popular, música mais erudita ou clássica. Aliás, hoje em dia há canções que nem sabemos qual é o estilo.
Componho todos os dias, acordo de manhã e pego na violaPor falar em fado, o Matias escreveu o tema 'Quem Me Dera', que fez um grande sucesso, para a fadista Mariza. Vamos ter em breve outras parcerias como esta?
Gostava imenso. Tenho alguns pedidos, que estou a responder. Se tudo correr bem e os artistas gostarem, vão sair no próximo ano muitas canções minhas interpretadas por artistas portugueses. Tenho neste momento várias parcerias.
E duetos, vão acontecer?
Quero muito. Estou desejoso de fazer alguns duetos e no próximo ano vou fazer. Aqui fiz pouquíssimos ainda, mas quero. Adoro o Rui Veloso, adoro a Marisa Liz, Pedro Abrunhosa, Mariza, Ana Moura, Dino d’Santigo. Há vários artistas espetaculares no mercado, são tão bons e fazem música tão bonita que no próximo ano vou trabalhar para esses duetos.
Compor ou cantar, qual a maior das paixões?
Acho que a minha essência é compor, verdade seja dita, mas o que mais se expressa é o canto. Componho todos os dias, acordo de manhã e pego na viola, é uma coisa que faço a todo o momento. Não tenho uma câmara lá em casa para perceberem isso, mas é o que mais faço. Claro que faço digressões enormes, mas a composição é algo mais diário… Madrugadas em que acordo às 03h00 da manhã com um pensamento e já não durmo mais. Adoro compor, acho que vou ser daqueles artistas que terminam a carreira a fazer canções, mesmo não estando nos palcos. Adoro fazer canções, mesmo quando são para outros artistas. É sempre uma gratidão e um privilégio sentir as nossas palavras cantadas por artistas tão grandes, como foi o caso da Mariza.
A poucos dias de subir ao palco do Campo Pequeno e da Super Bock Arena, que sensação lhe trazem estes espetáculos quando comparados com as suas primeiras atuações em Portugal?
Fiz em Portugal um percurso de palcos muito interessante. Primeiro o Coliseu, depois passei pela Altice Arena e pelo caminho fiz várias outras salas. É interessante, primeiro porque o Campo Pequeno é a única sala onde ainda não atuei, e tinha muita vontade de vir, depois porque envolve uma sensação completamente diferente porque saímos de uma pandemia que nos obrigou a ficar em casa muito tempo. Estes são os meus primeiros concertos grandes no pós-pandemia. É uma grande emoção, queremos fazer uma coisa especial, com muita energia, e mostrar às pessoas que as coisas estão como antes.
Em relação ao público que o acompanha, o que mudou desde esse primeiro espetáculo no Coliseu de Lisboa?
O primeiro grande espetáculo que fiz em Portugal, no Coliseu dos Recreios, era mais para os meus angolanos e as pessoas portuguesas que conheciam a minha música em Angola. Depois, de lá para cá, fez-se um percurso e hoje tornei-me muito mais conhecido em Portugal. Hoje tenho um público muito variado. Tenho os portugueses comigo, que eu amo, que estão comigo em todas as digressões. Tenho uma mistura muito interessante no espetáculo e, acima de tudo, hoje posso encher salas maiores que é o desejo de qualquer artista.
[...] meteu uma coisa no bolso do meu casaco, eu achava que era um papel, quando vi era uma cueca fio dentalEstes espetáculos surgem antes do Natal, terão por esse motivo uma magia especial?
Tem, tem magia no cenário, na formação da banda, na escolha do repertório de canções. É um espetáculo que traz romantismo, mas também a alegria natural de africano bom que sou, das origens que tenho. É um misto de tudo.
Haverá convidados especiais?
São surpresa. Há uma convidada angolana, uma das maiores cantoras do meu país, que vai obviamente tirar o fôlego. Vou revelar, é a Yola Semedo. E há um convidado de Portugal, que é surpresa. Vai ser um espetáculo lindo, maravilhoso.
© Reprodução Instagram/ Matias Damásio
Sendo um cantor de música romântica, as fãs são muitas vezes mulheres.
Sim, sim. A maior parte.
Aqueles trocos que ganhava na rua têm a mesma importância dos milhares que ganho hoje
Qual a história mais louca que já viveu com uma fã?
Já me aconteceram muitas coisas, já me beijaram em palco, mas acho que o mais caricato foi uma pessoa que meteu uma coisa no bolso do meu casaco, eu achava que era um papel, quando vi era uma cueca fio dental [risos].
Após estes espetáculos avizinha-se um novo ano. O que tem preparado para 2023?
Vou lançar coisas novas entre janeiro, fevereiro e março. Não sei se é um single, se é um EP. Na verdade tenho várias canções e estamos a idealizar o que vamos fazer em termos de estética. As canções já são muitas.
É o meu grande objetivo neste momento, trazer um grammy latino para estes dois países que são meus: Portugal e AngolaO que diria o Matias que dentro de dias sobe ao palco do Campo Pequeno e da Super Bock Arena aquele menino que começou a cantar e a tocar violão na rua?
Que valeu a pena sonhar, acreditar, a persistência. Mas se ele não estivesse a ver o Matias que sou hoje, dizia-lhe que conseguimos ultrapassar todas as dificuldades. Sou muito grato a toda a educação, toda a dedicação, inspiração que aquele Matias teve. O que sou e vivo hoje deve-se muito ao Matias do violão, do exercício, aqueles trocos que ganhava na rua têm a mesma importância dos milhares que ganho hoje. A emoção que senti é muito maior até, e conseguimos!
O caminho é em direção à lua, mas até lá o que falta ainda conquistar?
Queremos estar em direção à lua, é mesmo isso. Quero muito no próximo ano começar a investir na América Latina, cantar em espanhol. Tivemos a experimentar algumas coisas, as nossas canções ficam bem em espanhol. Chegar a Espanha, é aqui perto, são só uns quilometrozinhos [risos].
Tive uma experiência boa com a Vanesa Martín, num concerto em Madrid, e é algo que quero continuar a fazer em 2023. Fazer digressões na América Latina, Fazer duetos com alguns artistas, que já estão em andamento, e por fim ganhar um grammy latino. É o meu grande objetivo neste momento, trazer um grammy latino para estes dois países que são meus: Portugal e Angola.
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