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Ângelo Rodrigues: "Os monges sentiam-se presos, não lidavam com emoções"

O ator relatou a sua experiência única como professor de inglês num mosteiro budista no Nepal.

Ângelo Rodrigues: "Os monges sentiam-se presos, não lidavam com emoções"

Durante cinco meses, Ângelo Rodrigues partiu à aventura pelo mundo sendo que um dos seus destinos foi o Nepal, onde foi dar aulas de inglês a jovens monges de um mosteiro budista. 

A curiosidade pelo país, como contou aos jornalistas numa conferência no Melia Lisboa Aeroporto, surgiu depois de ler o livro  'A Voz do Silêncio', de Helena Blavatsky, obra que mais tarde veio a descobrir ter sido traduzida por uma das suas grandes referências literárias: Fernando Pessoa.

"Estive em contacto como uma ONG nepalesa ainda durante a pandemia. Esperei o timing certo, acabei de gravar uma série no Brasil ['Olhar Indiscreto'] e marquei a viagem", revela. 

A viagem serviu igualmente para Ângelo aprofundar o seu conhecimento em teologia, uma vez que o estudo das religiões é um tema que cada vez mais lhe interessa. "Não tenho uma religião pela qual me guio, no entanto comecei a descobrir que tem uma grande influência nas pessoas, dependendo do país onde vamos", reflete. 

O convento no qual ficou hospedado tinha 150 monges, desde os sete aos 18 anos, e é lá que as crianças têm acesso à educação até decidirem se de facto é a vida religiosa que querem seguir ou se preferem ir para a faculdade. 

"Apesar de para fora parecer que fui fazer um retiro espiritual, eu fui dar aulas. Tive três turmas que me davam grandes inquietações", diz entre risos, notando que ser professor lhe trouxe muitos desafios. 

As aulas de inglês, explica, eram apenas um pretexto para "fazer um espetáculo de teatro com monges".

"Inicialmente encontrei alguma resistência por parte dos monges mais velhos. Acho que não simpatizavam com a ideia de ver monges a expressar emoções, mas aos poucos foram ficando cativados. Criou-se ali uma relação bonita entre professor e discípulos.  

Pedi-lhes para trazerem situações que quisessem falar e essa foi uma grande surpresa que tive porque os temas que traziam são transversais - amor de família, de irmãos, todas as ramificações do amor com exceção do amor romântico. Aquele era um convento exclusivamente masculino e encontrei jovens com as mesmas dúvidas que os nossos portugueses", lembra. 

"A outra turma surpreendeu-me imenso porque começaram a trazer histórias rocambolescas. 'Queremos falar sobre tráficos de drogas e lutas'. Coloquem-se no meu lugar: estava em frente a jovens monges vestidos a preceito a dizerem que queriam falar de tráfico. Achei engraçado isso", diz ainda, chamando a atenção para a particularidade da situação. 

O resultado deixou Ângelo de coração cheio e com a sensação de dever cumprido. "Foi a primeira experiência que tiveram como atores o que me encheu de orgulho. Eles sentiam-se muito presos, porque ninguém os ensina a lidar com emoções, têm um regime quase militar. Com o teatro eles queriam manifestar emoções e redescobrir coisas que vão sentindo", completou.

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